Penso que precisamos ser tolerantes com quaisquer situações na vida que envolva as nossas ou as dificuldades das outras pessoas, mas é certo que a primeira deve cessar quando surge o famoso “abuso”. Difícil é delimitar a fronteira entre um e outro, o que não pretendo fazer hoje.
O Dionísio, amigo meu que a cada dia fica mais interessado em assuntos como o que escrevo aqui, tem ficado um tanto irritado ao comprovar como os economistas mundiais têm errado muito quando se decidem por projetar o comportamento econômico de cada país ou de algum indicador mundial.
Eu disse a ele que as projeções são assim mesmo, o camarada que estuda Economia, aprende a projetar um cenário de acordo com as informações disponíveis na atualidade, sendo obviamente muito difícil controlar cada uma das variáveis que compõem uma situação futura. Resolvi dizer ao Dionísio, de acordo com minha humilde opinião, onde estava o verdadeiro erro, o que lhe causou um misto de frustração e desilusão.
Cada um de nós, atores econômicos de menor ou maior porte, encontrou algum conforto na vida financeira ao olhar uma projeção econômica e imaginar onde estaria quando aquele cenário se realizasse, ou melhor, em que situação ficaria naquele momento futuro em que se materializassem tais previsões. Entendo que daí provém nossas frustrações econômicas, talvez até seja também o motivo para frustrações de qualquer espécie.
Não podemos deixar para os demais a construção da imagem de nosso futuro. O Dionísio ou qualquer um de nós pode e deve delegar às pessoas que são capazes de fazê-lo, o trabalho para a construção da base financeira que pretende alcançar, mas não podemos nunca perder de vista o cenário que cada um de nós deve manter atualizado pelas tantas e claras informações que nossa mente capta sobre a realidade de nossa vida e de nosso país, sob risco de cair nas emaranhadas reder da previsão econômica.
Um exemplo claro para ilustrar esse problema que pessoalmente testemunho a mais de 15 anos é ver dois grandes bancos americanos projetarem tão diferentes cenários para o PIB brasileiro em 2009 e 2010.
O Banco Morgan Stanley prevê que este ano nosso PIB vai cair 4,5% e que ainda cairá mais 0,5% no ano que vem. Enquanto isso o Bank of America/ML prevê que o PIB vai crescer apenas 0,8% este ano, voltando a crescer 4,4% no ano que vem. Ainda teríamos algumas dezenas de firmas com diferentes previsões para preencher a lacuna entre os dois acima.
Sabemos então que a previsão é frágil, pois sempre será um exercício de futurologia, com mais ou menos chances de confirmar-se. Então o mais importante é analisar como estamos passando pela situação atual, no caso uma crise épica e centenária que por hora devastou a economia mundial.
Nesse sentido o Dionísio está certo, pois vive me dizendo que um país como o Brasil, que tem a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo; tem a segunda maior mineradora do mundo; tem uma empresa de petróleo com tecnologia de ponta e reservas de óleo que farão o país estar entre os oito maiores produtores nos próximos dez anos; um país com um mercado consumidor de quase 200 milhões de pessoas; um território e uma indústria de alimentos que fornece mais comida do que o brasileiro poderia consumir; o único entre os iguais que possui uma taxa de juros ainda muito elevada e que portanto permite uma queda acentuada que estimulará o consumo e a atividade econômica, não pode estar mal preparado para o futuro.
Enfim, como disse em uma entrevista para o Wall Street Journal essa semana Jim O’Neill, o criador do conceito “BRIC”, nome para o grupo de países que segundo o economista da Goldman Sachs irão ser os pilares da economia global em 2050:
O´Neill: “Argumentei durante três anos que não seria possível realmente dizer se Rússia e Brasil justificariam seu status de Bric até que passassem por um períodos de preços de commodities fracos.”
WSJ: Então este é um teste maior para Brasil e Rússia do que para Índia e China?
O´Neill: “Este não é nenhum teste para China e Índia. É decididamente um teste para Rússia e Brasil. E é um bom teste.”
WSJ: Eles passarão?
O´Neill: “Acho que a evidência no Brasil já é sim. A estrutura macroeconômica de melhores práticas que Lula adotou sete anos atrás está demonstrando que o Brasil pode lidar com essa crise. O Brasil dos anos 70 aos 90 estaria tão ruim quanto à Rússia. Não estou certo de que a Rússia possa enfrentá-la e temo que não possa. Até agora, esta crise está demonstrando que a Rússia é dependente demais de commodities.”
WSJ: Quando o Sr. fala sobre o Brasil conseguindo enfrentar, o que quer dizer?
O´Neill: “A moeda enfraqueceu, o mercado acionário enfraqueceu, mas diferentemente de crises brasileiras passadas eles não tiveram de aumentar as taxas de juros para conter a saída de capital, o que é um sinal muito poderoso.” (fim do trecho)
Deixemos as previsões para os economistas que, aliás, são muito bem pagos para fazê-las. Assim como o Dionísio, muitos aprenderam a andar com um guarda-chuva ao sair de casa independente do que a previsão do tempo diz.
Espero que aqui possamos sempre “discutir” e fazer uma avaliação sincera, realista das condições econômicas do presente e das conseqüentes oportunidades que nosso país continuará a apresentar para os que souberem aproveitá-las.