quinta-feira, 5 de março de 2009

O mundo e seus insistentes movimentos pendulares

Nos momentos atuais cada um de nós tem dedicado um pouco mais de atenção aos acontecimentos econômicos mundiais, enquanto ao mesmo tempo nossas mentes têm procurado por respostas sobre quanto essa crise significará de perdas para a economia real e por quanto tempo a teremos por aqui.

Não é de surpreender também que surjam nesses momentos muitas previsões sobre o futuro, sejam de economistas ou de videntes, e especialmente muitos cavaleiros que insistem em serem os arautos do apocalipse. A pergunta que não nos deixa em paz ao acompanhar essa inundação de dados e notícias fica sem resposta enquanto ficarmos apenas analisando os fatos presentes sem a perspectiva das engrenagens que movem o mundo capitalista.

Recordei-me de minha visita à ilha de Cuba há alguns anos atrás e de como achei retrógrada a entrevista da imigração deles, questionando-me se eu tinha algum vínculo político ou ainda que tipo de atividade social eu praticava no Brasil, como se eles ainda estivessem na época da guerra fria. Na verdade, afora a parte triste de existir um lugar como aquele, com pessoas que não têm a perspectiva do que é viver outra vida senão sob o jugo da mão ditatorial, eu entendi ao passar pela imigração que a partir daquele momento eu precisava olhar as coisas sob a lente do entendimento das engrenagens que moviam aquele regime e a vida dos habitantes do lugar. A viagem foi a partir de então, fantástica.

Aconselho uma visita. A parte histórica de Havana parece uma visita às cidades antigas da Europa; a região de Varadero, a praia com muitos hotéis à uma hora de Havana, é linda, com a mesma água azul turquesa que eu vi em Bahamas, mas com a vantagem de uma área enorme de areias brancas; o serviço é muito bom para um lugar que não tem luxos; a comida é muito parecida com a nossa e muito saborosa. Mas aconselho uma visita para antes de o regime ruir, pois depois a ilha vai receber tanto investimento que vai virar um balneário para os norte-americanos, que finalmente vão levar alguma dignidade econômica para os cubanos, embora me preocupe muito se vai sobrar algum charuto cubano para o resto do mundo comprar quando tudo isso acontecer.

Sem querer tirar o prazer da viagem mental que fizemos à ilha de Cuba, trarei nossos pensamentos de volta para o assunto “crise” e aquela pergunta que não quer calar. Por enquanto não posso oferecer mais do uma reflexão sensata sobre as observações que faço diariamente, no caso de hoje, sobre alguns dados interessantes que uma consultoria de Londres publicou essa semana.

Uma das engrenagens que movem o capitalismo é a precificação de um ativo pela lei da oferta e procura. Pelo que temos visto, a oferta de ativos financeiros tem sido maior do que a procura e por isso os preços mantêm-se em baixa, especialmente o petróleo. Recordem que apesar dos esforços feitos, a matriz energética do mundo ainda está casada com o “ouro negro” e assim permanecerá por muitos e muitos anos, especialmente se o preço dessa fonte energética permanecer em patamares acessíveis. O que aconteceu nos últimos cinco anos foi icônico nesse sentido, quando o preço do barril de petróleo explodiu dos 38 dólares por barril em 2004 para os 150 dólares do ano passado.

Tamanha é a importância do preço do petróleo para a economia mundial que mesmo os países que lucram com a exportação desse elemento estavam muito preocupados com o desequilíbrio causado nas contas de indivíduos e governos com tal abuso praticado pelos players do mercado futuro de petróleo, responsáveis por incendiar a tendência real que havia de alta nos preços, reflexo do crescimento mundial pujante que acontecia.

Os números indicam que o mundo gastou em 2008 o equivalente a 4,9% do PIB mundial com petróleo. Sinceramente, esse número sozinho não diz nada, mas se comparado com a projeção dessa mesma consultoria de que em 2009, em consequência dos preços baixos praticados atualmente, esse gasto será de “apenas” 2% da riqueza gerada no mundo inteiro, significa que nós todos em conjunto economizaremos 1,72 trilhões de dólares só nesse item. Não foi levada em conta a economia em cascata que os preços mais baixos dos combustíveis vão causar na cadeia produtiva como um todo, o que certamente vai significar uma poupança adicional.

Esse valor que será poupado por todos nós é equivalente, de acordo com os cálculos feitos pelos mesmos consultores, a quase três vezes os pacotes de incentivos econômicos anunciados para serem “queimados” ainda este ano, no mundo inteiro. É como se uma força oculta declarasse agora um pacote de estímulos desse porte gigantesco, oferecendo sem distinção de raça, credo ou cor (excetuando-se um outro ditador disfarçado de democrata que infesta um país vizinho e produtor de petróleo), uma benesse para todos os agentes econômicos, nós consumidores inclusos. Posso pedir que você releia as linhas acima novamente, por favor? Obrigado.

O quanto esse “pacote” ajudará a economia mundial a voltar a crescer e em que velocidade, está além de minha capacidade como gestor. Mais uma vez deixo essa tarefa para os que lidam com futurologia, coisa que não faço.

As engrenagens do capitalismo continuam a ditar os altos e baixos da economia, fazendo os pêndulos que ditam a intensidade dos movimentos financeiros serem ao mesmo tempo “vilões e mocinhos” de nossa vida econômica.

O que me parece, ao observar esse caso do petróleo, é que como se fosse uma Lei, para cada movimento que gere um desequilíbrio, há uma força de magnitude similar que impele o pêndulo na direção oposta, assim como em todos os demais aspectos da vida em que podemos comprovar isso, oferecendo em cada ponto extremo de seu curso a clara sensação de que exageramos e que não poderemos evitar a correção, que eu meu entender, é sempre bem-vinda.

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