quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dom Quixote, Belarofonte e a Quimera

Nada como um dia depois do outro, ou meses...



Antes de continuar e propor novas reflexões à sua mente permita-me manifestar que a ausência de novas postagens nesse período ocorreu por conta de dois motivos, ambos importantes para a compreensão do que vem a seguir.



Um dos motivos, mas que não seria por si só suficiente para minha ausência foi o de precisar me dedicar à criação do site institucional da empresa da qual sou responsável pela gestão de recursos, a Blue Compass Capital, que exigiu muitas horas e dias de trabalho de todos os envolvidos, mas que pela repercussão, valeu cada minuto de dedicação minha e do meu sócio para criar a idéia central e os textos, e da empresa de design que aportou a belíssima parte gráfica. Finda a tarefa, tenho mais tempo para retomar o blog. Porém...



A razão superior para minha ausência responde ao mesmo motivo da criação deste blog em 24 de Outubro de 2008. O quê, a data não lhe diz nada? Vou refrescar nossa memória com a citação de uma notícia da "Agência Estado" naquela mesma data, às 18h55 daquela animada tarde:



“Ibovespa cai 6,91% e acumula perda de 50% no ano



PAULA LAIERA - Bovespa voltou a ser fortemente afetada hoje pela significativa deterioração dos mercados financeiros globais, em meio a uma nova onda de apreensão com o rumo da economia mundial. Diante do forte processo de desmonte de posições ao redor do mundo, as ações brasileiras não escaparam das vendas.



O Ibovespa encerrou o dia em queda de 6,91%, aos 31.481,55 pontos - o menor patamar desde o fechamento do dia 25 de novembro de 2005 (31.357,55). Durante o dia, oscilou da mínima de 30.788 pontos (-8,96%) à máxima de 33.809 pontos (-0,03%). O volume financeiro totalizou R$ 4,472 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumulou uma perda de 13,50%. No mês, a queda alcança 36,45% e, no ano, 50,72%.



No aniversário de 79 anos da Quinta-feira Negra que marcou o início da fissura que engoliria Wall Street em 1929, os mercados internacionais tiveram um dia de perdas. Na Ásia, todas as bolsas regionais fecharam no território negativo. A de Tóquio caiu 9,6%, para o seu menor nível desde abril de 2003. Na Europa, a Bolsa de Londres caiu 5%, refletindo a notícia de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido caiu 0,5% no terceiro trimestre - a primeira contração desde a registrada no segundo trimestre de 1992.



Em Wall Street, pela primeira vez em pelo menos cinco anos, os índices futuros de ações tiveram suas operações interrompidas após atingirem o limite diário de queda. A paralisação ocorreu logo cedo, por volta das 8 horas (de Brasília), com o Nasdaq em baixa de 6,76% e o S&P-500 em queda de 6,56%. O Dow Jones futuro foi congelado em queda de 6,3%."
FIM DA NOTÍCIA


Pois é, fico imaginando como ficou sua expressão facial ao ler a notícia acima, deve ter ficado igual a minha, pois ninguém fica neutro diante da descrição do horror pelo qual passavam os mercados financeiros naquele dia.



Enquanto o telefone tocava o dia todo com inúmeras chamadas grávidas de temor e horror, fiquei, em alguns momentos, tentado a ceder aos pensamentos que queriam me arrastar para o "bloco do desespero", que a aquela altura já estava com milhões de foliões atrás do trio elétrico.



Olhei para o céu e só via nuvens cinzas, quase pretas carregadas de energia, castigando com raios e trovões aqueles que insistiam em seguir seu rumo. Quando olhei para o mar (no sentido figurado, pois o único mar que tenho perto do escritório é a MARginal do Rio Pinheiros), as ondas eram tão grandes que davam a impressão de que em breve iriam engolir a valente embarcação que eu comandava.



Recordo de vir à mente a imagem daquele barco pesqueiro no filme "Tempestade Perfeita", e cheguei a me ver naufragando como aquele. Mas por algo fomos dotados de uma mente e da consequente capacidade de refletir, julgar, observar, pensar, e então criar pensamentos que possam opôr-se frente aos que em muitos momentos de nosso dia-a-dia procuram devastar o campo mental. Ainda que não seja motivo dessa postagem, esse "por algo" me permitiu retornar ao conhecimento adquirido durante tantos anos de vida e de mercado financeiro. Então meu estado mental mudou, e ainda que o mercado não tivesse mudado naquele dia, eu tive a certeza que o Norte que me guiava era mais real do que todos os pensamentos de pânico que naquele dia ceifavam muitas mentes e corações ao redor do mundo.



Eis então revelado o leitmotiv (do alemão: motivo condutor) para minha vontade de escrever meus pensamentos aqui, especialmente na noite da sexta-feira sangrenta, como aquele dia ficou conhecido.



Senti-me compelido a apresentar aos amigos e conhecidos, os pensamentos que pela forte lógica que possuíam, poderiam ajudar muitos dos que passavam pelas mesmas lutas que eu. E assim foi que escrevi intensamente por muitas semanas, recordando aos leitores sobre o que estava além da superfície dos fatos materiais e psicológicos do mercado financeiro, ainda que perante o que o noticiário insistia em proclamar, eu parecesse mais com o Dom Quixote em sua tola luta contra o moinho de vento. Mas...



Aprendi também, e guardo muita gratidão por quem me ensinou, que as grandes ondas e as tempestades SEMPRE passam, e que os bons navegantes sabem confiar no Norte indicado por seus conhecimentos. Foi com essa convicção que naveguei por todos aqueles meses de desesperança. Foi com esse conhecimento que transformei para meus clientes, o caos em uma oportunidade, e ainda acabei realizando um bom registro histórico sobre o que passamos nesse período. Não foi fácil escrever aquilo tudo enquanto a grande maioria corria para o outro lado.



No final, finda a parte aguda da crise, tendo sido evitado o pior e estando o mundo no caminho para a reconstrução pós Tsunami, sinto que fiz o que estava ao meu alcance, e que pelas sinceras manifestações que recebi, fico feliz em me sentir menos Dom Quixote e mais com Belarofonte tendo vencido a Quimera.



Hora de regular a mira para outros aspectos mais comuns ao dia-a-dia de um mercado ordenado (nem tanto ainda), e farei o possível para continuar a colaborar com os amigos leitores no que diz respeito às necessidades de cada um em planejar seus investimentos frente à nova realidade de mercado.

Nenhum comentário: