Eu já disse antes que analisar a história econômica de um país como o Brasil é sempre um exercício interessante. A começar porque no início mesmo, antes de Cabral, chamava-se Pindorama (terra das palmeiras na língua indígena). Como um lugar chamado Pindorama transformou-se no que somos hoje é de torcer a barba de qualquer historiador.
Você pode, ao deter-se no assunto economia brasileira, observar os fatos ocorridos e as consequências atuais dos mesmos, assim como pode estudá-los para tentar entender como será o futuro a partir daquilo e tomar suas decisões. Mas cuidado! Essa é a forma de fazê-lo quando o objeto de estudo tem uma trajetória centrada no normal e previsível, o que todos sabem não ser verdade para o nosso país até pouco tempo atrás.
Vejamos um assunto que tanto nos interessa, o regime de metas de inflação adotado pelo Brasil em junho de 1999, ainda que erroneamente muitos entendam que suas vidas não têm nada a ver com isso. Na verdade eu queria mesmo era falar de “Fórmula 1”, esporte que me fascina e que acompanho desde infância, mas deixarei esse assunto para quando o circo estiver montado a partir de março. Contentarei-me apenas com o título desta postagem, que ainda assim, está correto para o assunto de hoje. Continuando então...
Esse regime, inicialmente criado pela Nova Zelândia em 1990, prevê o uso da política monetária como forma do Banco Central fazer convergir a inflação real para a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (no nosso caso). É um jogo psicológico, onde quanto mais o mercado acredita que o Banco Central vai utilizar o que for necessário para convergir a inflação para o objetivo, mais facilmente os agentes econômicos (indústria, comércio e serviços) se planejam de acordo com essa meta de inflação, o que acaba por trazer de fato a inflação realizada para a meta ou próximo dela.
Ainda de acordo com o modelo acima, os ajustes feitos em cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) devem ser suficientes para produzir tal efeito, ou seja, aumentando ou diminuindo a taxa de juro básica para desestimular ou estimular a economia, mirando a sempre a inflação. Agora pergunto se você leitor pauta as suas decisões de consumo e investimento a cada mudança na taxa de juro ou se você simplesmente pensa se no seu orçamento cabem tais aquisições? Obviamente que a taxa de juro está implícita no preço que você paga pelo serviço ou bem que quer consumir, então você não está isolado dessa realidade quando toma a decisão, mesmo que você esqueça isso.
O que faz com que a reunião desta semana tenha tido um significado que mereça o título desta postagem é o fato de que começar um regime de metas de inflação em um país com taxa de juro nominal baixo é uma coisa, mas fazer o mesmo em um país que no início de 1999 tinha taxa de quase 30% ao ano é outra coisa, é um enorme desafio.
Pense no efeito psicológico que advém dos aumentos e diminuições da taxa de juro de 0,25% ou 0,50% comumente utilizadas pelo Copom. Agora pense no efeito que essas mudanças de taxas têm nos cálculos de investimentos e planos de negócios que as empresas estabelecem antes de realizar os investimentos. Sim, quase nenhuma influência em um país com taxa de juro alta como a nossa foi, e inversamente, muita influência em um país que pratica taxas baixas já que percentualmente essas mudanças pequenas significam mais.
Por motivos óbvios, poucas oportunidades surgem na história de um país que o permita fazer ajustes pesados no patamar da taxa praticada, afinal, se pudesse fazê-lo antes, por que não o teria feito? Pois bem, estamos diante de uma dessas oportunidades que no jargão do automobilismo, pode conduzir-nos para uma posição no pelotão da frente ao invés de ficar brigando para chegar em décimo lugar como temos feito nos últimos quinze anos. Taxa de juro em patamar baixo é o mesmo que largar com tanque mais vazio, você tem uma vantagem competitiva enorme e mesmo que precise parar de vez em quando para reabastecer, sempre voltará à pista na frente dos que não largaram tão rápido como você (se não acredita nessa teoria, me explique os infinitos títulos do Schumacher na Ferrari).
A crise global criou, paralela às dificuldades, a condição especial para fazer esse ajuste, pois as condições da economia doméstica estão sob jugo das condições econômicas mundiais, não tendo muito efeito no país uma queda de 1% na taxa como vimos essa semana. Se por um lado isso faz parecer que estamos sem muitas ferramentas para contrapor a crise (o que é verdade), por outro nos dá a liberdade de fazer um ajuste mais profundo no patamar da taxa de juro, assim como fez o Copom nessa última reunião. Certamente não teremos riscos à meta de inflação se o câmbio continuar igual ou melhor do que está, e se a economia mundial continuar em dificuldades, sendo razoável esperar por mais duas reduções de igual magnitude ou algo com um resultado similar, que ao final do semestre, nos tenha deixado nessa condição mais confortável de pilotar um carro mais ajustado, mais “normal”, onde a taxa de juro da economia estejam próximos de mudar de dois dígitos para apenas um.
Acelerar! Espero que tenhamos a oportunidade de ver cortes ainda maiores na taxa antes que seja necessário parar as reduções, o que ocorrerá apenas quando a nossa atividade econômica der sinais de que não poderá produzir o suficiente para atender à demanda sem gerar inflação, o que não está no radar dos próximos meses dado a diminuição da capacidade utilizada do parque fabril instalado no país. Outros elementos poderiam fazer ascender uma luz amarela no Copom, mas todos estão relacionados de um jeito ou de outro, com o aumento da atividade econômica mundial e local, ambos como já disse, ainda no campo do desejo.
Conseguir um lugar no pódio da corrida pelo desenvolvimento econômico e social do mundo exige mais do que adequar a taxa de juro para níveis mais baixos enquanto mantém a inflação sob controle, que o diga a infindável lista de reformas pendentes no Executivo e Legislativo, mas largar leve e dispor de uma aceleração melhor já fazem a diferença entre participar de uma corrida ou entrar nela para disputar uma vaga no pódio.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
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