Como primeira postagem do ano, vou propor algumas reflexões sobre uma vivência que eu tive. Considere a possibilidade de ver a si mesmo na situação que vou descrever, não em relação ao mercado financeiro, ou melhor, não apenas sob esse enfoque.
Pois bem, sobre a pergunta do título, eu não queria estragar a surpresa afirmando que a resposta correta é “realidade”, mas como acabei falando com um deles na semana passada me senti na obrigação de fazer tal revelação.
A fisionomia da personagem citada não parecia em nada com a dos zumbis dos filmes de terror que evitei a vida toda, muito menos acho que algum diretor de Hollywood tenha vestido os tais mortos-vivos com as roupas caras que vestia o meu conhecido. Importante entender que essas diferenças cosméticas não me impediram de ver a grotesca semelhança.
Iniciou a conversa daquela manhã naquele tom de voz de vilão de novela passando conversa fiada no sogro milionário com o objetivo de conseguir a benção para casar com a bela e inocente filha. Introduziu o assunto com a seriedade exigida quando se vai demitir alguém ou informar um parente sobre o estado terminal de saúde do paciente. (Incrível o que imagens analógicas constroem em nossas mentes, não?)
Anunciava-me, enquanto estendia as mãos querendo sugar-me para o mundo dos mortos, que a economia sucumbiria em breve com os conseqüentes efeitos no mercado financeiro, e como que para dissipar qualquer dúvida que por ventura eu tivesse, recordou-me que naquele instante a Bolsa de Valores caia mais de 2%. Sua irmã havia relatado alarmada que a empresa da qual ela é dona havia vendido só 5% a mais que no mesmo mês do ano anterior, muito abaixo do que previa vender neste último Dezembro. Obviamente que nesse relato ela omitiu o fato de que no acumulado dos últimos doze meses ela deve ter vendido muito mais do que em 2007. A mente de meu amigo havia sucumbido aos pensamentos de terror. Estava “morto”.
Entenda que para alguém como eu, que passa o dia lendo relatórios sobre economia e empresas, que freqüenta reuniões e conferências sobre o mercado acionário, que contata diretamente os departamentos de relações com investidores das empresas e atende às suas apresentações, o cenário que ele traçava era exatamente o que todos nós no mercado sabíamos que iria acontecer quando essa crise atingiu seu ponto máximo e cortou o fluxo financeiro para a economia real, ou seja, uma forte freada na economia brasileira. Ainda assim, que semelhança tem isso com o cenário catastrófico que algumas pessoas têm tentado difundir para nós? Pouca e débil semelhança.
Já aprendi que na vida, em qualquer de seus aspectos, toda interrupção é um retrocesso, sendo inevitável observar tal verdade no que diz respeito à economia ou finanças, mas assim como após um retrocesso nós colocamos as melhores energias para retomar o terreno perdido, o mundo está se posicionando para tal, com cada uma das medidas possíveis sendo tomadas para que essa retomada não demore muito para acontecer. Vai demorar um pouco, resultado inerente do processo de causas e efeitos que rege o universo com ou sem nosso conhecimento.
Embora eu não vá tratar novamente de muitos pontos já apresentados em outras postagens deste blog, sobre a dinâmica da economia real e sobre o mercado, é necessário reafirmar o que já disse antes, que cabe a cada um de nós escolhermos sob qual lente examinará a realidade do mercado financeiro e viver as conseqüências de tal decisão. Eu posso dizer por mim e pelos que tem compartilhado dessa compreensão, que mesmo vivendo a maior crise financeira que o mundo viu no tempo moderno, estamos serenos em nossos objetivos, transformando a crise em uma grande oportunidade. Fácil de realizar não é, mas como diz a sabedoria popular, o que vem fácil, fácil se vai.
Nosso amigo, zumbi por opção, ligou-me novamente ao final da tarde, e como em um passe de mágica a Bolsa havia virado e naquele instante subia quase 3%, a primeira coisa que me perguntou foi “será que estou errado?”.
Para não alongar o relato, recordei-o que embora estejamos vivendo na economia real o que o mercado já precificou três meses atrás, por outro lado estamos vendo a montagem de um cenário que tem grande chance de ser a maior corrida por ativos de risco que o mundo já viu nas últimas décadas, cenário que tem seu fundamento na enorme pilha de dinheiro que os fundos e demais investidores montaram com a venda de tantos ativos recentemente. Existem alguns fatores que são como marcos que precisam ser atingidos para disparar tal corrida e como eles não serão atingidos tão cedo, até lá o mercado continua refém dos zumbis.
Fiquei pensando se não somos um pouco zumbis em outros aspectos da vida, oscilando entre estados de ânimo tão diferentes que até pareceriam com o calor e o frio, ou com a vida e a morte.
É preciso encontrar essa lente que nos permita passar pelas crises que a vida sempre apresenta e transformá-las em algo útil. Penso que é hora de nos levantarmos contra o domínio dessas correntes mentais que querem impor um estado de sítio na mente humana, impedindo-nos de exercer o saudável exercício de pensar, de razoar, de julgar e formar nossas próprias conclusões, de buscar em cada experiência difícil, o elemento que faltou para que acabasse diferente.
Meus votos são de que 2009 seja o ano em que cada um de nós possa conquistar mais essa condição, humana por excelência, realizável pelo esforço, de ser cada dia mais o dono de seus pensamentos, forjando um futuro melhor para si e para a humanidade.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
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