quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Terra à vista!" (com outro sotaque)

− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.

Esse dizer acima poderia ter sido pronunciado por um governante português no século 16.

Quem nunca se lamentou de não estar presente pra ver a maravilha que encontraram aqui os portugueses quando Cabral foi enviado para tomar posse das terras a leste de Tordesilhas?

Eu queria estar presente, não pra viver as dificuldades que a vida da época devia apresentar, mas para sentir a alegria de descobrir uma terra tão próspera, tão bonita e com a maior das virtudes, a prerrogativa de tornar-se uma nação próspera e de paz como a que queremos ver realidade, e que não tenho dúvidas de estarmos a caminho de alcançar um dia.

Temos lido na mídia e eu tenho publicado minha opinião sobre diversos aspectos da crise mundial e das consequências para nossa realidade verde e amarela. Mais do que isso, os leitores são empresários, executivos, profissionais liberais e estudantes que estão em contato direto com a realidade da economia real, sendo importantes atores na condução da mesma.

Sobre essa condução, imagino que alguém possa ler e considerar um exagero minha afirmação de que são todos importantes atores na cabine de comando dessa grande nau (dessa vez não é a portuguesa). Se assim parece, peço que considere a real face da economia e dos mercados. Quem a determina? Quem tem peso na balança que marca o valor de nossas conquistas como país, como uma nação?

Excluindo o contingente que não tem ainda a condição para ser mais do que figurantes nessa cena, preenchendo a tela com sua mão-de-obra abundante e ainda feliz por ter essa chance, me refiro ao poder que temos como consumidores, como poupadores, tomadores de crédito e principalmente como empreendedores.

Essa condição não é exclusiva dos grandes empresários, pelo contrário, muitos têm a iniciativa e desenvolvem suas idéias, seus anelos e sonhos no campo profissional, aliando a inteligência ao esforço e aproveitando que somos uma nação regada pela generosidade da natureza e com um imenso mercado consumidor.

Acaso esquecemos o significado que tem o Brasil para os demais países do continente? São Paulo ser a maior cidade do hemisfério sul do planeta não significa nada além do caos no trânsito? Não vou listar os mega números que explicitam a importância do que fazemos aqui já que eles estão constantemente nos jornais. Não é por acaso que nossa economia real recebeu mais de 40 bilhões de dólares em investimentos vindo do exterior no ano de 2008. Imaginem se não tivéssemos a crise a partir do meio do ano passado, o quanto mais teria sido investido no último trimestre.

Se você, assim como eu, está cansado dessa promessa que ainda não se cumpriu, respire fundo e mais uma vez deixe para trás as difíceis relações que cada um de nós tem com o governo e com nossa confusa legislação. Não volte a se irritar pensando na parte de nossos políticos que merecia estar em uma cadeia. Concentre-se novamente na sua realização pessoal e profissional e no que isso colaborou com muitos outros, com o país.

Nós temos construído o Brasil que queremos ser. Nós temos ditado para os governantes quais os limites em que a caneta do governo pode sentir-se solta para suas idéias próprias e qual a fronteira que não pode ser ultrapassada, pois essa linha delimita a área em que a economia real é a que manda, é o terreno que pertence ao povo que faz e acontece diariamente nesse país. Se não fosse assim, seríamos mais um desses países que estão nos jornais quase todo dia, infelizmente pelos absurdos que falam e fazem os governantes. Países onde a dependência de uma principal fonte de riqueza acaba por permitir o surgimento de um tirano. Nesse caso específico é uma pena ver um país ser afundado pelo seu governante. Imagino a aflição desses povos que não conseguem ver saída pacífica para libertar-se dessa influência terrível. Mas estaremos colaborando para mudar isso se continuarmos a ser um exemplo da força oriunda do empreendedorismo.

O Brasil esteve moribundo durante algumas décadas antes do plano que trouxe a estabilização da moeda e o controle da inflação. Era fácil observar a liberdade que tinha cada novo governo para tentar planos mirabolantes ou velhos planos que em outros países já haviam sido experimentados e reprovados. A caneta que assinava a ordem presidencial era muito mais forte do que a voz da economia real.

Não demorou muito tempo, prova do poder que emana da economia, para que o Brasil estivesse em um rumo firme, tentando entender o que precisava fazer para aumentar a velocidade de cruzeiro. Menos de dez anos nessa nova condição e tivemos o teste definitivo: a ascensão ao poder de um político que passara os vinte anos anteriores fazendo juras de revolução e ódio ao sistema capitalista vigente. Previram-se todas as desgraças possíveis, imaginamos que tão logo assumisse o poder, sua caneta presidencial assinaria a sentença de morte de nossa economia e levaria a nação ao caos.

Até hoje ainda me surpreendo, e sei que você leitor também, com a força que deve ter sido aplicada pela nossa realidade econômica em cima do presidente que era tido quase como um louco, a ponto de ele não apenas ter mantido como ainda ampliado a rota de políticas econômicas e de responsabilidade que o antecessor havia adotado. Ver a ira que isso causou nos correligionários do seu partido foi quase como um bálsamo cicatrizante para meus olhos ainda ardidos com a novidade. Mas de acordo com a lei do mais forte, a realidade prevaleceu.

Se com esse passado que conhecemos e ainda com o que já esquecemos, chegamos até aqui, não precisa ser guru para prever com boa possibilidade de acerto que, afora o soluço inerente à crise global, caminhamos para consolidar o lugar que já estamos marcando nesse mundo globalizado. O Brasil desponta, apesar de todos os problemas, como um país que terá a cada dia mais influência econômica e talvez política no mundo. Os sinais são muitos, olha abaixo essa notícia cuja fonte é a Bloomberg Press de 29 de janeiro último.

O Standard Bank, maior banco da África do Sul, pequeno se comparado aos nossos gigantes Itaú e Bradesco, mas ainda assim, com um valor de mercado maior que 15 bilhões de dólares americanos, anunciou a mudança de seu quartel-general para as Américas, que até hoje era em NY e agora passa a ser SP. O banco já conta com mais de 100 funcionários no Brasil e planeja contratar mais ainda este ano. Eles estão formando um fundo de USD 250 milhões na modalidade “private equity” para investir no país.

Interessante mesmo é o que os motivou para a mudança da sede dos EUA para o Brasil. De acordo com o presidente regional, o motivo foi que:

− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.

Pois é, quem diria que Cabral era um visionário? E você, vai ficar lamentando a metade vazia do copo ou vai saborear a metade cheia?

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