sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o "erro crasso"

Conheci muitas pessoas, incluindo a mim mesmo, que em determinado momento da vida fizeram uma ou mais daquelas bobagens que a razão julga tardiamente como erro ingênuo, tosco ou primário.

Por exemplo, quando na primeira viagem aos Estados Unidos eu dava com a cara no vidro toda vez que puxava uma porta com o intuito de abri-la, apenas porque a mente não conseguia se acostumar com o ato de empurrar ao ler a palavra “PUSH”. Tá bom, talvez o exemplo seja ingênuo demais.

Que tal então aquela corridinha para entrar no elevador embora a porta esteja começando a fechar, mas a gente sempre acha que vai dar e acaba ficando com aquele sorriso amarelo no intuito de passar a impressão que não doeu nada, que mal sujou de graxa a camisa quando as portas fizeram sanduíche de você? Ainda é um exemplo simples, mas se você riu, bem-vindo ao clube dos que já passaram por esse “aperto”.

Agora ao exemplo atual e revestido de interesses financeiros. Não vi apenas um, vi vários conhecidos, que ao longo dos últimos meses permitiram-se acreditar que tudo o que vinham compreendendo e consagrando como certo no mercado de capitais estava, do dia para a noite, errado. Era como se a ciência que trata da oceanografia tivesse que ser totalmente reescrita após a passagem daquele tsunami que varreu o Oceano Índico anos atrás, ao invés de ter esse fenômeno estudado e acrescentado ao vasto cabedal daquele ramo do conhecimento.

O que parece óbvio não é a resposta universal para todas as perguntas. O fato de que muitos estavam vendendo quaisquer ações e outros ativos financeiros a qualquer preço não indicava um comportamento racional ou premeditado. Ao contrário, sabemos que parte disso respondeu principalmente à necessidade de gerar liquidez (dinheiro) no menor prazo possível. A outra parte foi por conta do pânico mesmo.

Observei algumas pessoas que por conta do que os jornais retratavam para aquele mês ou período, projetaram aquela “foto” como válida para toda a vida e assim se portaram com seus investimentos, vendendo barato o que haviam comprado quando estavam “certos” de seu valor futuro.

Um pouco de história e conhecimento, de acordo com inúmeras fontes que consultei, pode nos ensinar muito. Você descobrirá que conhece algo sobre uma época romana, ou pelo menos, refere-se a uma passagem de sua história com freqüência, ou você nunca disse: “isso foi um erro crasso”. O mais surpreendente é que se sabe muito sobre esse fulano que deu origem à expressão citada acima.

Eu li que em 59 A.C, o poder em Roma foi dividido entre Júlio César, Pompeu Magnus e Marco Licinius Crasso. Este último era mais conhecido pela sua riqueza do que por seu talento militar. Júlio César conquistou a Gália, Pompeu dominou a Hispânia e Jerusalém. Crasso precisava mostrar sua teórica inteligência militar e decidiu que como prova de tal inexistente aptidão conquistaria os Partos, um povo persa cujo império ocupava, na época, boa parte do Oriente Médio.

Comandante de sete legiões romanas, famosas desde sempre pela dedicação em batalha e temidas em todas as partes do mundo de então, Crasso confiou demais na superioridade numérica de suas tropas. Abandonando as táticas militares romanas, ignorando as lições aprendidas em séculos, deu ordem para que os 50 mil legionários avançassem por um estreito vale que provia nenhuma vantagem militar, pelo menos não para quem decidisse se espremer nele. Na ânsia de chegar logo ao inimigo decidiu a sorte da batalha.

Os orientais fizeram como eu sempre fazia quando jogava “WAR”, concentraram suas tropas nas saídas do vale, no ponto onde podiam oferecer muito poder de fogo contra uma parte pequena do inimigo que avançava.

Ocorreu o óbvio, o exército romano foi dizimado. Consta que quase todos os 50 mil soldados morreram, incluindo o “exímio general” Crasso.

Tamanho erro feito por Crasso virou, em várias línguas, sinônimo de estupidez.

Continuando, nas últimas semanas começam a despontar no horizonte ainda distante a leste, os primeiros sinais de que após a tempestade o céu tende a se acalmar, e que eventualmente, no tempo certo até veremos o azul celeste, afinal, os processos do universo sofrem o impacto de muitas “imprevisibilidades”, mas como tudo que existe nele, os elementos se adaptam e reiniciam seus movimentos habituais e naturais.

O caminho fácil é deixar-se seduzir pelas imagens que os outros nos apresentam. O difícil é manter-se isento e praticar o superior ato de pensar por si mesmo, maneira pela qual, muitas mentes conseguem atingir objetivos que aos olhos dos demais parecem extremamente difíceis.

Foi um erro crasso praticado por aqueles que deixaram levar-se pelo pânico, rasgar o conhecimento acumulado durante anos no mercado de capitais simplesmente porque parecia muito mais fácil do que se colocar a pensar sobre o que de fato estava acontecendo. Tenho um amigo que se lamenta disso todo o dia, vendo o mercado recuperar um considerável trecho do terreno perdido embora ele não tenha mais as ações em carteira.

Ninguém pode dizer quanto tempo levará para a economia mundial recuperar-se, mas nem por isso precisamos ignorar os conhecimentos básicos que determinam o ir e vir da economia real, onde a riqueza é criada e onde estão as maiores oportunidades de investimento.

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