Sempre admirei o enunciado da teoria da relatividade. Tenho muito respeito ao Einstein e a outros seres que puseram suas mentes a serviço da humanidade, mas como nunca gostei de física e não pretendo mudar de opinião agora, vou me deter apenas na palavra que deu nome à teoria, pois sobre a mesma tenho comprovado muitas coisas, nesse nada relativo mercado financeiro.
Fatos são aquilo que a história registra como um acontecimento inquestionável, um número ou uma imagem que por si mesmos falam por milhares de palavras. Diferente é nossa interpretação dos fatos, como se pode comprovar pelo número enorme de obras literárias que se antagonizam nesse labor interpretativo, e felizmente é assim, senão não haveria graça ler o blog de alguém.
Nas semanas anteriores à chamada telefônica que recebi da Dona Maricota (se você não tem idéia de quem seja essa distinta dama, favor ler a postagem anterior a esta), o crédito financeiro em seus amplos alcances deixava de fluir como sempre o fez, não havia doador pelo medo de dar e não havia tomador pelas altas taxas e curto prazos oferecidos, tudo isso dada a incerteza que pairava naqueles dias sobre o impacto que a crise teria na economia real. Isso foi um fato.
Minha rotina diária não havia mudado muito, tirando uma máquina de ar-condicionado velha que fatalmente iria me ensinar uma lição durante aquelas semanas. O trânsito continuava igual, se não pior; a fila no cafezinho que costumo tomar meu Cappuccino me deu a impressão que estavam dando café de graça em um dos dias citados; o atendimento na loja da operadora de celular, para a qual eu tinha um atendimento agendado, parecia ser feito por feirantes que brigavam com seus clientes, e eu ali feliz em ter uma senha programada 20 dias antes; as filas na agência do banco no qual sou correntista, e que precisei pagar alguns DARFs que não consegui pela internet, me fez pensar em aumentar o salário do office-boy que ainda não tenho; enfim, nada me fazia acreditar que o mundo havia mudado tão abruptamente como o mercado dizia através dos preços nas telinhas. Isso era uma interpretação de alguns fatos.
Por via das dúvidas liguei pro Zé. Um bom termômetro sobre a economia real é ligar pra ele, porque se tem uma coisa que ele não faz é ficar de firula sobre o movimento do comércio que ele toca, não tem aspas nem parêntesis, é “ipsis literis” mesmo, sem dó nem choro. O Zé disse que tava tudo bem afora um funcionário que havia mexido com a mulher do supervisor, este que também já estava pra ser mandado embora por vadiagem. Dei como concluída minha consulta ao mundo do varejo e voltei pro meu mundinho de acompanhar o mercado.
Algumas empresas de capital aberto (daí a possibilidade de se tornar sócio delas pela compra de ações em Bolsa de Valores) estavam cotadas a 50, 40, 30 e até 20% dos preços que haviam sido negociadas meses antes. Óbvio que precisamos precificar a queda nas rentabilidades que as empresas terão por conta da crise mundial, mas por favor, sem exageros.
A empresa da qual Dona Maricota já era sócia, um banco de primeira categoria, ótima rentabilidade, solidez de uma pedra preta e excelente gestão, não somente estava longe de fechar as portas e desaparecer como ela chegou a temer, mas estava finalizando um processo, um golpe de mestre que durante 15 meses ficou sob sigilo absoluto e que veio a desabar na cabeça do Bradesco nesta 2ª feira pela manhã. Eu imagino o susto dos diretores daquele e dos demais bancos ao anúncio inovador de que não era mais uma das compras de um banco por outro, era a fusão do Itaú com o Unibanco, teoricamente quando bem feita entre partes saudáveis, a solução mais barata para ambos. Não preciso falar que tudo nesse parágrafo foram fatos que ainda sendo suficientemente claros e simples de entender, permitem interpretações antagônicas.
Prova dessa visão relativista, ou seja, de que a interpretação de um fato é relativa à mente daquele que o faz, era que ainda nesses últimos dias, mesmo com os sinais claros de que o crédito começava a circular novamente no sistema financeiro mundial, mesmo com os múltiplos das empresas que citei e das que não citei mostrando que estavam a preços de barganha, e ainda que todos saibam que a melhor hora de comprar é na baixa, existia duas metades antagônicas, os que vendiam e os que compravam ações a cada instante e que continuam a fazer isso todo dia.
Prova de que pra fazer teoria da relatividade não precisa ser nenhum cientista. Dona Maricota que o diga.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Oi Ronny
Por um erro técnico, da Google é claro, meu comentário anterior não foi publicado; e fiquei frustrada pois havia sido feito com muito entusiasmo. Vamos ver se consigo repetir agora.
Disse que enfim havia encontrado o tempo mental e fisico para ler os artigos postados no seu Blog - adorei o titulo "a bussola azul e eu". Resolvi lê-los na ordem cronologica para acompanhar o fluxo dos seus pensamentos, tanto com relaçao à visão financeira como da vida, que vai implicita nos mesmos.
Voce está de parabens. A simplicidade com que são escritos e o uso de figuras analógicas facilitam em muito o entendimento de leigos, como eu, sobre um assunto que em geral é muito complexo; além disso tornam a leitura agradável e prazeirosa.
Se sua gestão de carteiras de ações for compatível com a segurança de seus escritos, podemos confiar esses investimentos estão em boas mãos.
um abraço,
Nadia Maaze
Postar um comentário