(a parte I dessa postagem encontra-se logo abaixo, nesta mesma página)
Voltamos à imagem da paralaxe medindo a distância das estrelas e aplicamos o modelo ao mercado financeiro, especificamente à precificação das ações de empresas com capital aberto em Bolsa de Valores.
Sobre o pano de fundo contra o qual o observador mede a posição das estrelas, eu pergunto: você tem olhado para o céu noturno em sua cidade? Em caso afirmativo, o que tem visto? Se você respondeu que não tem visto muita coisa porque a luminosidade e poluição são impeditivos, eu lamento por nós todos e o máximo que posso aconselhar é uma viagem no próximo fim-de-semana. Ainda assim, nenhum de nós pode afirmar que pelo fato de não estar visível aos nossos olhos, não significa que o céu não tem aquele montão de estrelas que costumam aparecer nos documentários televisivos.
Uma analogia para a nossa análise financeira é possível. Nosso pano de fundo são os outros 6,6 bilhões de seres que habitam a Terra, número difícil de imaginar mas ainda grande o suficiente para impressionar qualquer um que resolva fazer uma conta para quantificar o que ocorre todo dia. Imaginem que esse povo todo consome algo, seja energia, alimentos, roupas, eletrônicos, serviços, móveis, automóveis, lazer, livros, educação, serviços de saúde, serviços de telecomunicação, tele e rádio difusão, etc. Sei que muitos deles não tem acesso a todos os itens acima, mesmo porque, se tivessem nós estaríamos enfrentando literalmente uma guerra global por produtos e recursos naturais, do tipo das que já ocorrem hoje em menor escala. Pois é, não importa se a crise é grande ou pequena, qualquer que seja, sucumbirá cedo ou tarde ao poder de consumo dessa massa. Ou então voltamos à "barbárie" do mundo das cavernas e cada um cuide de caçar sua própria comida.
As estrelas da nossa imagem são as empresas e suas respectivas ações, precificadas diariamente na Bolsa de Valores. Lembre-se que o estudo pela paralaxe exige que o observador faça suas marcações em duas posições diferentes porém conhecidas. Diremos que tomaremos a primeira medida na posição de quem observa apenas o preço de negociação de cada uma das ações atualmente. O preço por si mesmo não diz nada, apenas reflete o equilíbrio, ou falta dele, na oferta e demanda pelo ativo financeiro. Se recordamos que o essa oferta e procura se dá em virtude da disponibilidade de dinheiro no sistema, concluímos que o preço negociado em Bolsa apenas reflete o preço para a liquidação daquele ativo e sucessivo recebimento dos recursos equivalentes.
Na posição em que tomaremos a outra medida de distância encontramos a compreensão sobre o quanto a empresa e o setor no qual ela se insere foram e serão afetados pela crise atual. Obviamente que essa tarefa não é fácil, mas contamos, além de com nosso próprio conhecimento e experiência, com a grande quantidade de modelos aplicados por grandes e pequenos bancos, que fazem dezenas de análises cada um para tentar prever como será o comportamento de cada empresa dada uma nova condição econômica. O trabalho de ler e filtrar cada um desses relatórios é imenso, mas no final do processo, que se repete continuamente, é possível, quando se avalia um prazo de cinco anos ou mais, mensurar com alguma segurança o que essa empresa vai ter de oportunidades e desafios, e o consequente resultado financeiro para seus acionistas.
Finalmente temos a resultante da diferença entre as duas medições realizadas, e chegamos ao ponto final da aplicação do modelo.
Para avaliar quais empresas queremos ser sócios para o longo prazo utilizamos a visão que é conhecida como value investing, ou seja, a busca por ações que estejam sendo negociadas à preços inferiores ao seu valor intrínseco. Em outras palavras, oportunidades que se apresentam na diferença entre o preço praticado para aquela ação e o preço que a mesma vale como fração do "todo" que ela representa. O problema sobre essa medida é estimar o real valor intrínseco, e para ser mais preciso, afirmo que não pode haver um valor intrínseco real que seja único ou uma verdade absoluta, pois esse valor é sempre o resultado da avaliação que cada um faz, tanto dos ativos e passivos atuais , como do futuro fluxo de caixa da empresa. Alguns investidores tendem a atribuir maior peso para os ativos e passivos atuais do que ao fluxo de caixa futuro, alguns fazem o oposto e ainda existem os que consideram ambos.
O certo é que muitas ações de boas empresas estão em preços de barganha e estão em um ótimo ponto de entrada , não preciso falar das mais conhecidas que estão nessa condição, e se fosse falar das menos conhecidas, mas não menos interessantes, precisaria de algumas páginas. Simples, não? Espero que a paralaxe aplicada ao mercado tenha gerado várias reflexões e que você tenha chegado a boas conclusões.
Obs.: Sem consultar a internet ou a pessoa do lado, responda à nova enquete sobre as estrelas que está lá em cima, no lado direito desta postagem.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
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Um comentário:
Querido Rony,
Excelente texto! Tive grande alegria em ler e agora em interagir um pouco com voce que considero um daqueles seres que dedicarei amizade eterna.
Recordei-me que o conceito de "paralaxe" é usado em fotografia para alertar que dependendo da máquina utilizada existe uma "ilusão" de ótica entre o que se está vendo e a realidade do que será fotografado. Para corrigir esse efeito foram inventadas as máquinas do tipo "reflex". Mais recursos...menos ilusão !
Grande Abraço
Paulo Corsi
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