sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Quem quer casar com Dona Baratinha...

... que tem fita no cabelo e ações na caixinha?

Particularmente e sem deixar ninguém chateado eu digo que nunca gostei dessa história/música que em minha infância era tocada nem sei onde, talvez fosse um daqueles disquinhos que tocavam na vitrolinha que eu tinha. Se você não sabe o que é uma vitrola ou uma radiola, você é novo demais e não se divertiu ouvindo essa história musical da Dona Baratinha e outros hits da época, como “Nuvem passageira” e outros. A barata sempre foi um bicho asqueroso, desses que não merece nem sequer uma historinha musical, muito menos um que falasse de uma barata que guardava suas economias em uma caixinha e que por isso seria uma excelente “esposa”. Sinceramente, não sei quem criou algo assim.

Mas eis que me liga essa semana uma querida amiga e manifesta a surpresa de descobrir após uns sete anos de convívio, que eu trabalho na área financeira e especificamente com ações. Disse-lhe que fazia isso há mais de quinze anos. Primeira reflexão que fiz ao desligar o telefone depois de nossa agradável conversa foi a de que não posso deixar nenhum amigo às escuras sobre o que faço profissionalmente, pois posso perder a chance de colaborar com alguém que precise de ajuda, assim como penso que consegui fazer com ela nessa conversa.

Ela estava passando por uma época muito tensa, pois nos últimos anos guardou um dinheiro aqui e ali, na verdade se esforçando como uma batalhadora de primeiro escalão para gerar tais reservas. Contou que havia feito um tremendo ajuste nas contas e hábitos domésticos para que fossem possíveis as sobras, ajuste feito com a colaboração da família que conscientemente fazia um esforço com vistas a um futuro mais tranqüilo, e finalmente que nos últimos anos havia comprado ações com uma boa parte dessa reserva.

A carteira dela, baseada nos principais papéis da Bolsa, os chamados “blue chips”, acabaram apresentando uma excelente valorização ao longo dos anos que a deixou extremamente feliz e surpresa pelas possibilidades de ganho com ações. Ela vislumbrava essa possibilidade de que suas reservas lhe permitiriam ir mudando sua vida conforme seus objetivos e não mais conforme a necessidade se apresentasse. Estava certa.

Obviamente que as tais “blue chips”, que têm esse nome derivado das fichas (chips) usadas nas apostas em cassinos e no pôquer onde as de cor azul eram as de maior valor, não se comportaram como tal quando o tsunami da crise mundial passou pela Bovespa, e isso a deixou com a sensação de que poderia estar errada em relação a investir em ações, e que talvez até devesse vender tudo antes que não tivesse mais nada (já conhecemos esse pensamento em outras postagens, não é?). Na verdade ela não pensou isso, mas foi aconselhada por outra pessoa, certamente alguém ainda mais assustado do que ela.

Felizmente ela encontrou, antes de falar comigo, outro amigo em comum que entende de finanças e a aconselhou a não vender nada nesses preços, então estava preocupada, porém resoluta em manter as ações em carteira.

A conversa desenvolveu-se inicialmente na mesma linha da que tive com a Dona Maricota (ver postagem do dia 2 de novembro), e depois ela contou que havia aprendido com os pais dela sobre essa maneira inteligente de ir guardando um pouco sempre para depois poder contar com uma reserva adequada para as necessidades que a vida apresenta ou para as escolhas que podemos fazer quando temos tais reservas.

Não disse a ela, mas é importante ressaltar aqui que nem mesmo a maior crise dos últimos cem anos foi capaz de destruir o ganho proporcionado para aqueles que souberam ser sócios de boas empresas nos últimos anos. Tomemos como exemplo Itaúsa quatro anos atrás, a ação da "holding" que controla o banco Itaú, que custava R$ 2,40 e hoje, mesmo apanhando como gente grande, custa R$ 9,00 (chegou a valer R$ 11,75 meses antes). No caso das ações de Itaúsa, mais de 3,5 vezes o valor aplicado.

Vamos ver a Vale do Rio Doce, ação conhecidíssima dos investidores. Na mesma época do primeiro exemplo, custava R$ 9,70 e agora, devastada pelo terremoto mundial custa R$ 25,90. Essa variação é de 2,70 vezes sobre o valor inicial. Se eu pegar mais uma das conhecidas, a Petrobrás, dá algo muito parecido, R$9,00 com R$ 23,80 hoje, ou seja, 2,60 vezes.
Outras ações, de empresas menos famosas tiveram performances ainda melhores nesse mesmo período, tendo algumas delas criado novos milionários pelo mundo.

Mais impressionante ainda seria pegar as cotações de épocas de crise mais forte, como em 2002 onde o mundo acreditou que o Brasil iria naufragar após a eleição do presidente atual. Dá até vergonha de falar, então deixo para o leitor a tarefa de checar as cotações daquele ano e compará-las com as atuais, ainda que estejamos no fundo de uma nova crise.

Não é fácil fazer com que nossa mente tenha uma visão inovadora, de horizontes mais amplos sobre como devemos encarar a oportunidade de comprar uma participação societária em empresas de grande porte, talvez porque a maneira como muitos se aproveitam dessa oportunidade seja inadequada para um plano de longo prazo onde podemos construir uma reserva que nos permita fazer novas escolhas para a vida. É claro que esse é um tema que merece muito mais atenção. Voltarei a ele em breve.

Fiquei feliz que minha amiga já conhece o caminho, embora possa aprender muito ainda sobre como realizar essa jornada. Parece que certa mesmo está a Dona Baratinha, e deixo aqui minha homenagem a quem criou aquela historinha, pois no fundo é até instrutiva.~

E você, como está se preparando para essa jornada?

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