sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Sarney, você, eu e a deflação

Por favor, levante a mão quem foi “Fiscal do Sarney” em 1986!

Vamos lá, não precisa ter vergonha. Dá uma olhadinha pro lado agora, não tem ninguém te olhando, ou se tiver, não deve estar lendo esse mesmo Blog. Se for o caso, azar, mas não deixa isso te inibir não! Se você, assim como eu, achou que aquele Plano Cruzado era uma maravilha e merecia que nós vestíssemos a camisa de fiscais do Sarney a cada visita que fizéssemos ao supermercado, parabéns e levante a mão com orgulho de quem é defensor do justo e do correto! Muito bem, pode baixar agora.

Bom, pelo menos eu tenho a desculpa de que só tinha quinze anos na época e não tinha a consequente consciência do que fazia. No seu caso, espero que realmente ninguém tenha visto seu gesto.

Se por um lado esse e outros episódios ficaram como engraçadas passagens da história de um país que não mais existe tal como era, uma coisa eu aprendi desde então e faço coro com qualquer ex-fiscal do Sarney: é a de que a inflação é um monstro que precisa ser controlado e enjaulado, com o risco de ao não fazê-lo, ver a pior das consequências para a economia e para o povo de um país.

O que pode surpreender qualquer um atualmente é ler a respeito do perigo que representa a queda de preços, do perigo do oposto da inflação, a deflação. Fala sério, me sinto enganado por todos esses anos que acreditei ser a inflação um mal que precisava ser combatido e agora os economistas vêm nos dizer que a inflação é necessária e é um bem para a economia se for bem controlada? Isso pode fazer sentido? Vamos ver em mais detalhes qual o perigo quando acontece o inverso.

Economicamente falando, deflação é uma queda persistente e generalizada no nível de preços de bens e serviços de uma economia, isso acontecendo quando a taxa de inflação já está abaixo de zero, ou seja, a taxa fica negativa. A causa normal dessa condição é um desequilíbrio na relação entre a oferta e a demanda, notadamente a falta de demanda para a oferta total de bens e serviços disponíveis.

Uma coisa é uma queda nos níveis de preços dos bens e serviços por um período, o que podemos chamar de “desinflação”, pois enquanto esse movimento diminui a taxa de inflação, a mesma ainda permanece positiva nesse mesmo período, por exemplo, em um ano calendário.

No meu entendimento, o verdadeiro perigo desse processo de persistente queda de preços mesmo após a inflação chegar ao zero, a deflação, é a grande chance de se formar uma condição de contínua queda dos preços e o consequente afundamento da atividade econômica, pois a deflação apresenta, como mencionado anteriormente, uma sobra de bens e serviços que não encontra compradores, fazendo com que esses “bens” sejam ofertados com menores preços em uma espiral deflacionária muito perigosa.

Esse processo de queda de preços não seria de todo o mau se não entrasse na tal espiral, pelo fato de que nos períodos longos de deflação, muitos decidem esperar mais tempo para comprar algo, contando com que o preço seja ainda menor no futuro, o que acaba por gerar uma sobra ainda maior de “bens” sem compradores e a consequente oferta desses “bens” a preços ainda menores, e aí as pessoas decidem por continuar esperando, as empresas param de investir, os investimentos que deixam de ser feitos deixam de gerar empregos e salários, o desemprego afeta o consumo, e então você já sabe o que acontece e já entendeu a espiral deflacionária que acaba por destruir a economia como um todo.

Não, não quero que você se sinta em um filme de terror e espero que ao ler o parágrafo acima, eu não tenha feito você segurar a respiração. Aliás, não tenho gosto por filmes ou livros que me façam sair da apresentação pior do que entrei. Penso inclusive que fazemos um favor para a sanidade de nossas mentes quando não submetemos as mesmas ao peso que os pensamentos desse gênero de filmes geralmente apresentam. Quem não se sente cansado e até aliviado quando acaba um filme desses?

Pois é, entendo que já temos que enfrentar tantas lutas na vida real que o melhor é brindar a mente com idéias luminosas, agradáveis, e se possível, que nos façam elevar os pensamentos para os aspectos mais importantes de nossas vidas, e não o contrário. Mas isso é outro, e agradável assunto. Voltemos ao tópico do dia.

Não preciso dizer o que você já sabe, ou seja, que esperamos de nossos governantes mundiais mais do que palavras de encorajamento e otimismo, pois essas sem o respaldo de muita ação inteligente, não resolvem nada. Ao mesmo tempo penso ser prudente recordar a cada um de nossos leitores sobre a responsabilidade e o poder que temos quando atuamos em conjunto na sociedade em que vivemos. Espero que cada um possa refletir sobre o momento especial que vivemos e que momentos assim exigem, ainda que já o façamos normalmente, mais atenção ao todo do que apenas à realidade pessoal de cada um.

Sejamos prudentes com os gastos, sejamos inteligentes para escolher quais ofertas comprar, sejamos rápidos para aproveitar os desequilíbrios na oferta e demanda, mas, pense que para o bem comum, todos precisam continuar em seus negócios, senão, como dizia um simpático senhor de uma fazenda que uma vez visitei: “Se você apertar demais as tetas da vaca, amanhã não vai conseguir tirar o leite!”

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Terra à vista!" (com outro sotaque)

− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.

Esse dizer acima poderia ter sido pronunciado por um governante português no século 16.

Quem nunca se lamentou de não estar presente pra ver a maravilha que encontraram aqui os portugueses quando Cabral foi enviado para tomar posse das terras a leste de Tordesilhas?

Eu queria estar presente, não pra viver as dificuldades que a vida da época devia apresentar, mas para sentir a alegria de descobrir uma terra tão próspera, tão bonita e com a maior das virtudes, a prerrogativa de tornar-se uma nação próspera e de paz como a que queremos ver realidade, e que não tenho dúvidas de estarmos a caminho de alcançar um dia.

Temos lido na mídia e eu tenho publicado minha opinião sobre diversos aspectos da crise mundial e das consequências para nossa realidade verde e amarela. Mais do que isso, os leitores são empresários, executivos, profissionais liberais e estudantes que estão em contato direto com a realidade da economia real, sendo importantes atores na condução da mesma.

Sobre essa condução, imagino que alguém possa ler e considerar um exagero minha afirmação de que são todos importantes atores na cabine de comando dessa grande nau (dessa vez não é a portuguesa). Se assim parece, peço que considere a real face da economia e dos mercados. Quem a determina? Quem tem peso na balança que marca o valor de nossas conquistas como país, como uma nação?

Excluindo o contingente que não tem ainda a condição para ser mais do que figurantes nessa cena, preenchendo a tela com sua mão-de-obra abundante e ainda feliz por ter essa chance, me refiro ao poder que temos como consumidores, como poupadores, tomadores de crédito e principalmente como empreendedores.

Essa condição não é exclusiva dos grandes empresários, pelo contrário, muitos têm a iniciativa e desenvolvem suas idéias, seus anelos e sonhos no campo profissional, aliando a inteligência ao esforço e aproveitando que somos uma nação regada pela generosidade da natureza e com um imenso mercado consumidor.

Acaso esquecemos o significado que tem o Brasil para os demais países do continente? São Paulo ser a maior cidade do hemisfério sul do planeta não significa nada além do caos no trânsito? Não vou listar os mega números que explicitam a importância do que fazemos aqui já que eles estão constantemente nos jornais. Não é por acaso que nossa economia real recebeu mais de 40 bilhões de dólares em investimentos vindo do exterior no ano de 2008. Imaginem se não tivéssemos a crise a partir do meio do ano passado, o quanto mais teria sido investido no último trimestre.

Se você, assim como eu, está cansado dessa promessa que ainda não se cumpriu, respire fundo e mais uma vez deixe para trás as difíceis relações que cada um de nós tem com o governo e com nossa confusa legislação. Não volte a se irritar pensando na parte de nossos políticos que merecia estar em uma cadeia. Concentre-se novamente na sua realização pessoal e profissional e no que isso colaborou com muitos outros, com o país.

Nós temos construído o Brasil que queremos ser. Nós temos ditado para os governantes quais os limites em que a caneta do governo pode sentir-se solta para suas idéias próprias e qual a fronteira que não pode ser ultrapassada, pois essa linha delimita a área em que a economia real é a que manda, é o terreno que pertence ao povo que faz e acontece diariamente nesse país. Se não fosse assim, seríamos mais um desses países que estão nos jornais quase todo dia, infelizmente pelos absurdos que falam e fazem os governantes. Países onde a dependência de uma principal fonte de riqueza acaba por permitir o surgimento de um tirano. Nesse caso específico é uma pena ver um país ser afundado pelo seu governante. Imagino a aflição desses povos que não conseguem ver saída pacífica para libertar-se dessa influência terrível. Mas estaremos colaborando para mudar isso se continuarmos a ser um exemplo da força oriunda do empreendedorismo.

O Brasil esteve moribundo durante algumas décadas antes do plano que trouxe a estabilização da moeda e o controle da inflação. Era fácil observar a liberdade que tinha cada novo governo para tentar planos mirabolantes ou velhos planos que em outros países já haviam sido experimentados e reprovados. A caneta que assinava a ordem presidencial era muito mais forte do que a voz da economia real.

Não demorou muito tempo, prova do poder que emana da economia, para que o Brasil estivesse em um rumo firme, tentando entender o que precisava fazer para aumentar a velocidade de cruzeiro. Menos de dez anos nessa nova condição e tivemos o teste definitivo: a ascensão ao poder de um político que passara os vinte anos anteriores fazendo juras de revolução e ódio ao sistema capitalista vigente. Previram-se todas as desgraças possíveis, imaginamos que tão logo assumisse o poder, sua caneta presidencial assinaria a sentença de morte de nossa economia e levaria a nação ao caos.

Até hoje ainda me surpreendo, e sei que você leitor também, com a força que deve ter sido aplicada pela nossa realidade econômica em cima do presidente que era tido quase como um louco, a ponto de ele não apenas ter mantido como ainda ampliado a rota de políticas econômicas e de responsabilidade que o antecessor havia adotado. Ver a ira que isso causou nos correligionários do seu partido foi quase como um bálsamo cicatrizante para meus olhos ainda ardidos com a novidade. Mas de acordo com a lei do mais forte, a realidade prevaleceu.

Se com esse passado que conhecemos e ainda com o que já esquecemos, chegamos até aqui, não precisa ser guru para prever com boa possibilidade de acerto que, afora o soluço inerente à crise global, caminhamos para consolidar o lugar que já estamos marcando nesse mundo globalizado. O Brasil desponta, apesar de todos os problemas, como um país que terá a cada dia mais influência econômica e talvez política no mundo. Os sinais são muitos, olha abaixo essa notícia cuja fonte é a Bloomberg Press de 29 de janeiro último.

O Standard Bank, maior banco da África do Sul, pequeno se comparado aos nossos gigantes Itaú e Bradesco, mas ainda assim, com um valor de mercado maior que 15 bilhões de dólares americanos, anunciou a mudança de seu quartel-general para as Américas, que até hoje era em NY e agora passa a ser SP. O banco já conta com mais de 100 funcionários no Brasil e planeja contratar mais ainda este ano. Eles estão formando um fundo de USD 250 milhões na modalidade “private equity” para investir no país.

Interessante mesmo é o que os motivou para a mudança da sede dos EUA para o Brasil. De acordo com o presidente regional, o motivo foi que:

− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.

Pois é, quem diria que Cabral era um visionário? E você, vai ficar lamentando a metade vazia do copo ou vai saborear a metade cheia?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o "erro crasso"

Conheci muitas pessoas, incluindo a mim mesmo, que em determinado momento da vida fizeram uma ou mais daquelas bobagens que a razão julga tardiamente como erro ingênuo, tosco ou primário.

Por exemplo, quando na primeira viagem aos Estados Unidos eu dava com a cara no vidro toda vez que puxava uma porta com o intuito de abri-la, apenas porque a mente não conseguia se acostumar com o ato de empurrar ao ler a palavra “PUSH”. Tá bom, talvez o exemplo seja ingênuo demais.

Que tal então aquela corridinha para entrar no elevador embora a porta esteja começando a fechar, mas a gente sempre acha que vai dar e acaba ficando com aquele sorriso amarelo no intuito de passar a impressão que não doeu nada, que mal sujou de graxa a camisa quando as portas fizeram sanduíche de você? Ainda é um exemplo simples, mas se você riu, bem-vindo ao clube dos que já passaram por esse “aperto”.

Agora ao exemplo atual e revestido de interesses financeiros. Não vi apenas um, vi vários conhecidos, que ao longo dos últimos meses permitiram-se acreditar que tudo o que vinham compreendendo e consagrando como certo no mercado de capitais estava, do dia para a noite, errado. Era como se a ciência que trata da oceanografia tivesse que ser totalmente reescrita após a passagem daquele tsunami que varreu o Oceano Índico anos atrás, ao invés de ter esse fenômeno estudado e acrescentado ao vasto cabedal daquele ramo do conhecimento.

O que parece óbvio não é a resposta universal para todas as perguntas. O fato de que muitos estavam vendendo quaisquer ações e outros ativos financeiros a qualquer preço não indicava um comportamento racional ou premeditado. Ao contrário, sabemos que parte disso respondeu principalmente à necessidade de gerar liquidez (dinheiro) no menor prazo possível. A outra parte foi por conta do pânico mesmo.

Observei algumas pessoas que por conta do que os jornais retratavam para aquele mês ou período, projetaram aquela “foto” como válida para toda a vida e assim se portaram com seus investimentos, vendendo barato o que haviam comprado quando estavam “certos” de seu valor futuro.

Um pouco de história e conhecimento, de acordo com inúmeras fontes que consultei, pode nos ensinar muito. Você descobrirá que conhece algo sobre uma época romana, ou pelo menos, refere-se a uma passagem de sua história com freqüência, ou você nunca disse: “isso foi um erro crasso”. O mais surpreendente é que se sabe muito sobre esse fulano que deu origem à expressão citada acima.

Eu li que em 59 A.C, o poder em Roma foi dividido entre Júlio César, Pompeu Magnus e Marco Licinius Crasso. Este último era mais conhecido pela sua riqueza do que por seu talento militar. Júlio César conquistou a Gália, Pompeu dominou a Hispânia e Jerusalém. Crasso precisava mostrar sua teórica inteligência militar e decidiu que como prova de tal inexistente aptidão conquistaria os Partos, um povo persa cujo império ocupava, na época, boa parte do Oriente Médio.

Comandante de sete legiões romanas, famosas desde sempre pela dedicação em batalha e temidas em todas as partes do mundo de então, Crasso confiou demais na superioridade numérica de suas tropas. Abandonando as táticas militares romanas, ignorando as lições aprendidas em séculos, deu ordem para que os 50 mil legionários avançassem por um estreito vale que provia nenhuma vantagem militar, pelo menos não para quem decidisse se espremer nele. Na ânsia de chegar logo ao inimigo decidiu a sorte da batalha.

Os orientais fizeram como eu sempre fazia quando jogava “WAR”, concentraram suas tropas nas saídas do vale, no ponto onde podiam oferecer muito poder de fogo contra uma parte pequena do inimigo que avançava.

Ocorreu o óbvio, o exército romano foi dizimado. Consta que quase todos os 50 mil soldados morreram, incluindo o “exímio general” Crasso.

Tamanho erro feito por Crasso virou, em várias línguas, sinônimo de estupidez.

Continuando, nas últimas semanas começam a despontar no horizonte ainda distante a leste, os primeiros sinais de que após a tempestade o céu tende a se acalmar, e que eventualmente, no tempo certo até veremos o azul celeste, afinal, os processos do universo sofrem o impacto de muitas “imprevisibilidades”, mas como tudo que existe nele, os elementos se adaptam e reiniciam seus movimentos habituais e naturais.

O caminho fácil é deixar-se seduzir pelas imagens que os outros nos apresentam. O difícil é manter-se isento e praticar o superior ato de pensar por si mesmo, maneira pela qual, muitas mentes conseguem atingir objetivos que aos olhos dos demais parecem extremamente difíceis.

Foi um erro crasso praticado por aqueles que deixaram levar-se pelo pânico, rasgar o conhecimento acumulado durante anos no mercado de capitais simplesmente porque parecia muito mais fácil do que se colocar a pensar sobre o que de fato estava acontecendo. Tenho um amigo que se lamenta disso todo o dia, vendo o mercado recuperar um considerável trecho do terreno perdido embora ele não tenha mais as ações em carteira.

Ninguém pode dizer quanto tempo levará para a economia mundial recuperar-se, mas nem por isso precisamos ignorar os conhecimentos básicos que determinam o ir e vir da economia real, onde a riqueza é criada e onde estão as maiores oportunidades de investimento.