Por favor, levante a mão quem foi “Fiscal do Sarney” em 1986!
Vamos lá, não precisa ter vergonha. Dá uma olhadinha pro lado agora, não tem ninguém te olhando, ou se tiver, não deve estar lendo esse mesmo Blog. Se for o caso, azar, mas não deixa isso te inibir não! Se você, assim como eu, achou que aquele Plano Cruzado era uma maravilha e merecia que nós vestíssemos a camisa de fiscais do Sarney a cada visita que fizéssemos ao supermercado, parabéns e levante a mão com orgulho de quem é defensor do justo e do correto! Muito bem, pode baixar agora.
Bom, pelo menos eu tenho a desculpa de que só tinha quinze anos na época e não tinha a consequente consciência do que fazia. No seu caso, espero que realmente ninguém tenha visto seu gesto.
Se por um lado esse e outros episódios ficaram como engraçadas passagens da história de um país que não mais existe tal como era, uma coisa eu aprendi desde então e faço coro com qualquer ex-fiscal do Sarney: é a de que a inflação é um monstro que precisa ser controlado e enjaulado, com o risco de ao não fazê-lo, ver a pior das consequências para a economia e para o povo de um país.
O que pode surpreender qualquer um atualmente é ler a respeito do perigo que representa a queda de preços, do perigo do oposto da inflação, a deflação. Fala sério, me sinto enganado por todos esses anos que acreditei ser a inflação um mal que precisava ser combatido e agora os economistas vêm nos dizer que a inflação é necessária e é um bem para a economia se for bem controlada? Isso pode fazer sentido? Vamos ver em mais detalhes qual o perigo quando acontece o inverso.
Economicamente falando, deflação é uma queda persistente e generalizada no nível de preços de bens e serviços de uma economia, isso acontecendo quando a taxa de inflação já está abaixo de zero, ou seja, a taxa fica negativa. A causa normal dessa condição é um desequilíbrio na relação entre a oferta e a demanda, notadamente a falta de demanda para a oferta total de bens e serviços disponíveis.
Uma coisa é uma queda nos níveis de preços dos bens e serviços por um período, o que podemos chamar de “desinflação”, pois enquanto esse movimento diminui a taxa de inflação, a mesma ainda permanece positiva nesse mesmo período, por exemplo, em um ano calendário.
No meu entendimento, o verdadeiro perigo desse processo de persistente queda de preços mesmo após a inflação chegar ao zero, a deflação, é a grande chance de se formar uma condição de contínua queda dos preços e o consequente afundamento da atividade econômica, pois a deflação apresenta, como mencionado anteriormente, uma sobra de bens e serviços que não encontra compradores, fazendo com que esses “bens” sejam ofertados com menores preços em uma espiral deflacionária muito perigosa.
Esse processo de queda de preços não seria de todo o mau se não entrasse na tal espiral, pelo fato de que nos períodos longos de deflação, muitos decidem esperar mais tempo para comprar algo, contando com que o preço seja ainda menor no futuro, o que acaba por gerar uma sobra ainda maior de “bens” sem compradores e a consequente oferta desses “bens” a preços ainda menores, e aí as pessoas decidem por continuar esperando, as empresas param de investir, os investimentos que deixam de ser feitos deixam de gerar empregos e salários, o desemprego afeta o consumo, e então você já sabe o que acontece e já entendeu a espiral deflacionária que acaba por destruir a economia como um todo.
Não, não quero que você se sinta em um filme de terror e espero que ao ler o parágrafo acima, eu não tenha feito você segurar a respiração. Aliás, não tenho gosto por filmes ou livros que me façam sair da apresentação pior do que entrei. Penso inclusive que fazemos um favor para a sanidade de nossas mentes quando não submetemos as mesmas ao peso que os pensamentos desse gênero de filmes geralmente apresentam. Quem não se sente cansado e até aliviado quando acaba um filme desses?
Pois é, entendo que já temos que enfrentar tantas lutas na vida real que o melhor é brindar a mente com idéias luminosas, agradáveis, e se possível, que nos façam elevar os pensamentos para os aspectos mais importantes de nossas vidas, e não o contrário. Mas isso é outro, e agradável assunto. Voltemos ao tópico do dia.
Não preciso dizer o que você já sabe, ou seja, que esperamos de nossos governantes mundiais mais do que palavras de encorajamento e otimismo, pois essas sem o respaldo de muita ação inteligente, não resolvem nada. Ao mesmo tempo penso ser prudente recordar a cada um de nossos leitores sobre a responsabilidade e o poder que temos quando atuamos em conjunto na sociedade em que vivemos. Espero que cada um possa refletir sobre o momento especial que vivemos e que momentos assim exigem, ainda que já o façamos normalmente, mais atenção ao todo do que apenas à realidade pessoal de cada um.
Sejamos prudentes com os gastos, sejamos inteligentes para escolher quais ofertas comprar, sejamos rápidos para aproveitar os desequilíbrios na oferta e demanda, mas, pense que para o bem comum, todos precisam continuar em seus negócios, senão, como dizia um simpático senhor de uma fazenda que uma vez visitei: “Se você apertar demais as tetas da vaca, amanhã não vai conseguir tirar o leite!”
sábado, 21 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
"Terra à vista!" (com outro sotaque)
− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.
Esse dizer acima poderia ter sido pronunciado por um governante português no século 16.
Quem nunca se lamentou de não estar presente pra ver a maravilha que encontraram aqui os portugueses quando Cabral foi enviado para tomar posse das terras a leste de Tordesilhas?
Eu queria estar presente, não pra viver as dificuldades que a vida da época devia apresentar, mas para sentir a alegria de descobrir uma terra tão próspera, tão bonita e com a maior das virtudes, a prerrogativa de tornar-se uma nação próspera e de paz como a que queremos ver realidade, e que não tenho dúvidas de estarmos a caminho de alcançar um dia.
Temos lido na mídia e eu tenho publicado minha opinião sobre diversos aspectos da crise mundial e das consequências para nossa realidade verde e amarela. Mais do que isso, os leitores são empresários, executivos, profissionais liberais e estudantes que estão em contato direto com a realidade da economia real, sendo importantes atores na condução da mesma.
Sobre essa condução, imagino que alguém possa ler e considerar um exagero minha afirmação de que são todos importantes atores na cabine de comando dessa grande nau (dessa vez não é a portuguesa). Se assim parece, peço que considere a real face da economia e dos mercados. Quem a determina? Quem tem peso na balança que marca o valor de nossas conquistas como país, como uma nação?
Excluindo o contingente que não tem ainda a condição para ser mais do que figurantes nessa cena, preenchendo a tela com sua mão-de-obra abundante e ainda feliz por ter essa chance, me refiro ao poder que temos como consumidores, como poupadores, tomadores de crédito e principalmente como empreendedores.
Essa condição não é exclusiva dos grandes empresários, pelo contrário, muitos têm a iniciativa e desenvolvem suas idéias, seus anelos e sonhos no campo profissional, aliando a inteligência ao esforço e aproveitando que somos uma nação regada pela generosidade da natureza e com um imenso mercado consumidor.
Acaso esquecemos o significado que tem o Brasil para os demais países do continente? São Paulo ser a maior cidade do hemisfério sul do planeta não significa nada além do caos no trânsito? Não vou listar os mega números que explicitam a importância do que fazemos aqui já que eles estão constantemente nos jornais. Não é por acaso que nossa economia real recebeu mais de 40 bilhões de dólares em investimentos vindo do exterior no ano de 2008. Imaginem se não tivéssemos a crise a partir do meio do ano passado, o quanto mais teria sido investido no último trimestre.
Se você, assim como eu, está cansado dessa promessa que ainda não se cumpriu, respire fundo e mais uma vez deixe para trás as difíceis relações que cada um de nós tem com o governo e com nossa confusa legislação. Não volte a se irritar pensando na parte de nossos políticos que merecia estar em uma cadeia. Concentre-se novamente na sua realização pessoal e profissional e no que isso colaborou com muitos outros, com o país.
Nós temos construído o Brasil que queremos ser. Nós temos ditado para os governantes quais os limites em que a caneta do governo pode sentir-se solta para suas idéias próprias e qual a fronteira que não pode ser ultrapassada, pois essa linha delimita a área em que a economia real é a que manda, é o terreno que pertence ao povo que faz e acontece diariamente nesse país. Se não fosse assim, seríamos mais um desses países que estão nos jornais quase todo dia, infelizmente pelos absurdos que falam e fazem os governantes. Países onde a dependência de uma principal fonte de riqueza acaba por permitir o surgimento de um tirano. Nesse caso específico é uma pena ver um país ser afundado pelo seu governante. Imagino a aflição desses povos que não conseguem ver saída pacífica para libertar-se dessa influência terrível. Mas estaremos colaborando para mudar isso se continuarmos a ser um exemplo da força oriunda do empreendedorismo.
O Brasil esteve moribundo durante algumas décadas antes do plano que trouxe a estabilização da moeda e o controle da inflação. Era fácil observar a liberdade que tinha cada novo governo para tentar planos mirabolantes ou velhos planos que em outros países já haviam sido experimentados e reprovados. A caneta que assinava a ordem presidencial era muito mais forte do que a voz da economia real.
Não demorou muito tempo, prova do poder que emana da economia, para que o Brasil estivesse em um rumo firme, tentando entender o que precisava fazer para aumentar a velocidade de cruzeiro. Menos de dez anos nessa nova condição e tivemos o teste definitivo: a ascensão ao poder de um político que passara os vinte anos anteriores fazendo juras de revolução e ódio ao sistema capitalista vigente. Previram-se todas as desgraças possíveis, imaginamos que tão logo assumisse o poder, sua caneta presidencial assinaria a sentença de morte de nossa economia e levaria a nação ao caos.
Até hoje ainda me surpreendo, e sei que você leitor também, com a força que deve ter sido aplicada pela nossa realidade econômica em cima do presidente que era tido quase como um louco, a ponto de ele não apenas ter mantido como ainda ampliado a rota de políticas econômicas e de responsabilidade que o antecessor havia adotado. Ver a ira que isso causou nos correligionários do seu partido foi quase como um bálsamo cicatrizante para meus olhos ainda ardidos com a novidade. Mas de acordo com a lei do mais forte, a realidade prevaleceu.
Se com esse passado que conhecemos e ainda com o que já esquecemos, chegamos até aqui, não precisa ser guru para prever com boa possibilidade de acerto que, afora o soluço inerente à crise global, caminhamos para consolidar o lugar que já estamos marcando nesse mundo globalizado. O Brasil desponta, apesar de todos os problemas, como um país que terá a cada dia mais influência econômica e talvez política no mundo. Os sinais são muitos, olha abaixo essa notícia cuja fonte é a Bloomberg Press de 29 de janeiro último.
O Standard Bank, maior banco da África do Sul, pequeno se comparado aos nossos gigantes Itaú e Bradesco, mas ainda assim, com um valor de mercado maior que 15 bilhões de dólares americanos, anunciou a mudança de seu quartel-general para as Américas, que até hoje era em NY e agora passa a ser SP. O banco já conta com mais de 100 funcionários no Brasil e planeja contratar mais ainda este ano. Eles estão formando um fundo de USD 250 milhões na modalidade “private equity” para investir no país.
Interessante mesmo é o que os motivou para a mudança da sede dos EUA para o Brasil. De acordo com o presidente regional, o motivo foi que:
− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.
Pois é, quem diria que Cabral era um visionário? E você, vai ficar lamentando a metade vazia do copo ou vai saborear a metade cheia?
Esse dizer acima poderia ter sido pronunciado por um governante português no século 16.
Quem nunca se lamentou de não estar presente pra ver a maravilha que encontraram aqui os portugueses quando Cabral foi enviado para tomar posse das terras a leste de Tordesilhas?
Eu queria estar presente, não pra viver as dificuldades que a vida da época devia apresentar, mas para sentir a alegria de descobrir uma terra tão próspera, tão bonita e com a maior das virtudes, a prerrogativa de tornar-se uma nação próspera e de paz como a que queremos ver realidade, e que não tenho dúvidas de estarmos a caminho de alcançar um dia.
Temos lido na mídia e eu tenho publicado minha opinião sobre diversos aspectos da crise mundial e das consequências para nossa realidade verde e amarela. Mais do que isso, os leitores são empresários, executivos, profissionais liberais e estudantes que estão em contato direto com a realidade da economia real, sendo importantes atores na condução da mesma.
Sobre essa condução, imagino que alguém possa ler e considerar um exagero minha afirmação de que são todos importantes atores na cabine de comando dessa grande nau (dessa vez não é a portuguesa). Se assim parece, peço que considere a real face da economia e dos mercados. Quem a determina? Quem tem peso na balança que marca o valor de nossas conquistas como país, como uma nação?
Excluindo o contingente que não tem ainda a condição para ser mais do que figurantes nessa cena, preenchendo a tela com sua mão-de-obra abundante e ainda feliz por ter essa chance, me refiro ao poder que temos como consumidores, como poupadores, tomadores de crédito e principalmente como empreendedores.
Essa condição não é exclusiva dos grandes empresários, pelo contrário, muitos têm a iniciativa e desenvolvem suas idéias, seus anelos e sonhos no campo profissional, aliando a inteligência ao esforço e aproveitando que somos uma nação regada pela generosidade da natureza e com um imenso mercado consumidor.
Acaso esquecemos o significado que tem o Brasil para os demais países do continente? São Paulo ser a maior cidade do hemisfério sul do planeta não significa nada além do caos no trânsito? Não vou listar os mega números que explicitam a importância do que fazemos aqui já que eles estão constantemente nos jornais. Não é por acaso que nossa economia real recebeu mais de 40 bilhões de dólares em investimentos vindo do exterior no ano de 2008. Imaginem se não tivéssemos a crise a partir do meio do ano passado, o quanto mais teria sido investido no último trimestre.
Se você, assim como eu, está cansado dessa promessa que ainda não se cumpriu, respire fundo e mais uma vez deixe para trás as difíceis relações que cada um de nós tem com o governo e com nossa confusa legislação. Não volte a se irritar pensando na parte de nossos políticos que merecia estar em uma cadeia. Concentre-se novamente na sua realização pessoal e profissional e no que isso colaborou com muitos outros, com o país.
Nós temos construído o Brasil que queremos ser. Nós temos ditado para os governantes quais os limites em que a caneta do governo pode sentir-se solta para suas idéias próprias e qual a fronteira que não pode ser ultrapassada, pois essa linha delimita a área em que a economia real é a que manda, é o terreno que pertence ao povo que faz e acontece diariamente nesse país. Se não fosse assim, seríamos mais um desses países que estão nos jornais quase todo dia, infelizmente pelos absurdos que falam e fazem os governantes. Países onde a dependência de uma principal fonte de riqueza acaba por permitir o surgimento de um tirano. Nesse caso específico é uma pena ver um país ser afundado pelo seu governante. Imagino a aflição desses povos que não conseguem ver saída pacífica para libertar-se dessa influência terrível. Mas estaremos colaborando para mudar isso se continuarmos a ser um exemplo da força oriunda do empreendedorismo.
O Brasil esteve moribundo durante algumas décadas antes do plano que trouxe a estabilização da moeda e o controle da inflação. Era fácil observar a liberdade que tinha cada novo governo para tentar planos mirabolantes ou velhos planos que em outros países já haviam sido experimentados e reprovados. A caneta que assinava a ordem presidencial era muito mais forte do que a voz da economia real.
Não demorou muito tempo, prova do poder que emana da economia, para que o Brasil estivesse em um rumo firme, tentando entender o que precisava fazer para aumentar a velocidade de cruzeiro. Menos de dez anos nessa nova condição e tivemos o teste definitivo: a ascensão ao poder de um político que passara os vinte anos anteriores fazendo juras de revolução e ódio ao sistema capitalista vigente. Previram-se todas as desgraças possíveis, imaginamos que tão logo assumisse o poder, sua caneta presidencial assinaria a sentença de morte de nossa economia e levaria a nação ao caos.
Até hoje ainda me surpreendo, e sei que você leitor também, com a força que deve ter sido aplicada pela nossa realidade econômica em cima do presidente que era tido quase como um louco, a ponto de ele não apenas ter mantido como ainda ampliado a rota de políticas econômicas e de responsabilidade que o antecessor havia adotado. Ver a ira que isso causou nos correligionários do seu partido foi quase como um bálsamo cicatrizante para meus olhos ainda ardidos com a novidade. Mas de acordo com a lei do mais forte, a realidade prevaleceu.
Se com esse passado que conhecemos e ainda com o que já esquecemos, chegamos até aqui, não precisa ser guru para prever com boa possibilidade de acerto que, afora o soluço inerente à crise global, caminhamos para consolidar o lugar que já estamos marcando nesse mundo globalizado. O Brasil desponta, apesar de todos os problemas, como um país que terá a cada dia mais influência econômica e talvez política no mundo. Os sinais são muitos, olha abaixo essa notícia cuja fonte é a Bloomberg Press de 29 de janeiro último.
O Standard Bank, maior banco da África do Sul, pequeno se comparado aos nossos gigantes Itaú e Bradesco, mas ainda assim, com um valor de mercado maior que 15 bilhões de dólares americanos, anunciou a mudança de seu quartel-general para as Américas, que até hoje era em NY e agora passa a ser SP. O banco já conta com mais de 100 funcionários no Brasil e planeja contratar mais ainda este ano. Eles estão formando um fundo de USD 250 milhões na modalidade “private equity” para investir no país.
Interessante mesmo é o que os motivou para a mudança da sede dos EUA para o Brasil. De acordo com o presidente regional, o motivo foi que:
− O epicentro para as Américas precisa ser um país como o Brasil, que é o país emergente mais promissor da região.
Pois é, quem diria que Cabral era um visionário? E você, vai ficar lamentando a metade vazia do copo ou vai saborear a metade cheia?
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Sobre o "erro crasso"
Conheci muitas pessoas, incluindo a mim mesmo, que em determinado momento da vida fizeram uma ou mais daquelas bobagens que a razão julga tardiamente como erro ingênuo, tosco ou primário.
Por exemplo, quando na primeira viagem aos Estados Unidos eu dava com a cara no vidro toda vez que puxava uma porta com o intuito de abri-la, apenas porque a mente não conseguia se acostumar com o ato de empurrar ao ler a palavra “PUSH”. Tá bom, talvez o exemplo seja ingênuo demais.
Que tal então aquela corridinha para entrar no elevador embora a porta esteja começando a fechar, mas a gente sempre acha que vai dar e acaba ficando com aquele sorriso amarelo no intuito de passar a impressão que não doeu nada, que mal sujou de graxa a camisa quando as portas fizeram sanduíche de você? Ainda é um exemplo simples, mas se você riu, bem-vindo ao clube dos que já passaram por esse “aperto”.
Agora ao exemplo atual e revestido de interesses financeiros. Não vi apenas um, vi vários conhecidos, que ao longo dos últimos meses permitiram-se acreditar que tudo o que vinham compreendendo e consagrando como certo no mercado de capitais estava, do dia para a noite, errado. Era como se a ciência que trata da oceanografia tivesse que ser totalmente reescrita após a passagem daquele tsunami que varreu o Oceano Índico anos atrás, ao invés de ter esse fenômeno estudado e acrescentado ao vasto cabedal daquele ramo do conhecimento.
O que parece óbvio não é a resposta universal para todas as perguntas. O fato de que muitos estavam vendendo quaisquer ações e outros ativos financeiros a qualquer preço não indicava um comportamento racional ou premeditado. Ao contrário, sabemos que parte disso respondeu principalmente à necessidade de gerar liquidez (dinheiro) no menor prazo possível. A outra parte foi por conta do pânico mesmo.
Observei algumas pessoas que por conta do que os jornais retratavam para aquele mês ou período, projetaram aquela “foto” como válida para toda a vida e assim se portaram com seus investimentos, vendendo barato o que haviam comprado quando estavam “certos” de seu valor futuro.
Um pouco de história e conhecimento, de acordo com inúmeras fontes que consultei, pode nos ensinar muito. Você descobrirá que conhece algo sobre uma época romana, ou pelo menos, refere-se a uma passagem de sua história com freqüência, ou você nunca disse: “isso foi um erro crasso”. O mais surpreendente é que se sabe muito sobre esse fulano que deu origem à expressão citada acima.
Eu li que em 59 A.C, o poder em Roma foi dividido entre Júlio César, Pompeu Magnus e Marco Licinius Crasso. Este último era mais conhecido pela sua riqueza do que por seu talento militar. Júlio César conquistou a Gália, Pompeu dominou a Hispânia e Jerusalém. Crasso precisava mostrar sua teórica inteligência militar e decidiu que como prova de tal inexistente aptidão conquistaria os Partos, um povo persa cujo império ocupava, na época, boa parte do Oriente Médio.
Comandante de sete legiões romanas, famosas desde sempre pela dedicação em batalha e temidas em todas as partes do mundo de então, Crasso confiou demais na superioridade numérica de suas tropas. Abandonando as táticas militares romanas, ignorando as lições aprendidas em séculos, deu ordem para que os 50 mil legionários avançassem por um estreito vale que provia nenhuma vantagem militar, pelo menos não para quem decidisse se espremer nele. Na ânsia de chegar logo ao inimigo decidiu a sorte da batalha.
Os orientais fizeram como eu sempre fazia quando jogava “WAR”, concentraram suas tropas nas saídas do vale, no ponto onde podiam oferecer muito poder de fogo contra uma parte pequena do inimigo que avançava.
Ocorreu o óbvio, o exército romano foi dizimado. Consta que quase todos os 50 mil soldados morreram, incluindo o “exímio general” Crasso.
Tamanho erro feito por Crasso virou, em várias línguas, sinônimo de estupidez.
Continuando, nas últimas semanas começam a despontar no horizonte ainda distante a leste, os primeiros sinais de que após a tempestade o céu tende a se acalmar, e que eventualmente, no tempo certo até veremos o azul celeste, afinal, os processos do universo sofrem o impacto de muitas “imprevisibilidades”, mas como tudo que existe nele, os elementos se adaptam e reiniciam seus movimentos habituais e naturais.
O caminho fácil é deixar-se seduzir pelas imagens que os outros nos apresentam. O difícil é manter-se isento e praticar o superior ato de pensar por si mesmo, maneira pela qual, muitas mentes conseguem atingir objetivos que aos olhos dos demais parecem extremamente difíceis.
Foi um erro crasso praticado por aqueles que deixaram levar-se pelo pânico, rasgar o conhecimento acumulado durante anos no mercado de capitais simplesmente porque parecia muito mais fácil do que se colocar a pensar sobre o que de fato estava acontecendo. Tenho um amigo que se lamenta disso todo o dia, vendo o mercado recuperar um considerável trecho do terreno perdido embora ele não tenha mais as ações em carteira.
Ninguém pode dizer quanto tempo levará para a economia mundial recuperar-se, mas nem por isso precisamos ignorar os conhecimentos básicos que determinam o ir e vir da economia real, onde a riqueza é criada e onde estão as maiores oportunidades de investimento.
Por exemplo, quando na primeira viagem aos Estados Unidos eu dava com a cara no vidro toda vez que puxava uma porta com o intuito de abri-la, apenas porque a mente não conseguia se acostumar com o ato de empurrar ao ler a palavra “PUSH”. Tá bom, talvez o exemplo seja ingênuo demais.
Que tal então aquela corridinha para entrar no elevador embora a porta esteja começando a fechar, mas a gente sempre acha que vai dar e acaba ficando com aquele sorriso amarelo no intuito de passar a impressão que não doeu nada, que mal sujou de graxa a camisa quando as portas fizeram sanduíche de você? Ainda é um exemplo simples, mas se você riu, bem-vindo ao clube dos que já passaram por esse “aperto”.
Agora ao exemplo atual e revestido de interesses financeiros. Não vi apenas um, vi vários conhecidos, que ao longo dos últimos meses permitiram-se acreditar que tudo o que vinham compreendendo e consagrando como certo no mercado de capitais estava, do dia para a noite, errado. Era como se a ciência que trata da oceanografia tivesse que ser totalmente reescrita após a passagem daquele tsunami que varreu o Oceano Índico anos atrás, ao invés de ter esse fenômeno estudado e acrescentado ao vasto cabedal daquele ramo do conhecimento.
O que parece óbvio não é a resposta universal para todas as perguntas. O fato de que muitos estavam vendendo quaisquer ações e outros ativos financeiros a qualquer preço não indicava um comportamento racional ou premeditado. Ao contrário, sabemos que parte disso respondeu principalmente à necessidade de gerar liquidez (dinheiro) no menor prazo possível. A outra parte foi por conta do pânico mesmo.
Observei algumas pessoas que por conta do que os jornais retratavam para aquele mês ou período, projetaram aquela “foto” como válida para toda a vida e assim se portaram com seus investimentos, vendendo barato o que haviam comprado quando estavam “certos” de seu valor futuro.
Um pouco de história e conhecimento, de acordo com inúmeras fontes que consultei, pode nos ensinar muito. Você descobrirá que conhece algo sobre uma época romana, ou pelo menos, refere-se a uma passagem de sua história com freqüência, ou você nunca disse: “isso foi um erro crasso”. O mais surpreendente é que se sabe muito sobre esse fulano que deu origem à expressão citada acima.
Eu li que em 59 A.C, o poder em Roma foi dividido entre Júlio César, Pompeu Magnus e Marco Licinius Crasso. Este último era mais conhecido pela sua riqueza do que por seu talento militar. Júlio César conquistou a Gália, Pompeu dominou a Hispânia e Jerusalém. Crasso precisava mostrar sua teórica inteligência militar e decidiu que como prova de tal inexistente aptidão conquistaria os Partos, um povo persa cujo império ocupava, na época, boa parte do Oriente Médio.
Comandante de sete legiões romanas, famosas desde sempre pela dedicação em batalha e temidas em todas as partes do mundo de então, Crasso confiou demais na superioridade numérica de suas tropas. Abandonando as táticas militares romanas, ignorando as lições aprendidas em séculos, deu ordem para que os 50 mil legionários avançassem por um estreito vale que provia nenhuma vantagem militar, pelo menos não para quem decidisse se espremer nele. Na ânsia de chegar logo ao inimigo decidiu a sorte da batalha.
Os orientais fizeram como eu sempre fazia quando jogava “WAR”, concentraram suas tropas nas saídas do vale, no ponto onde podiam oferecer muito poder de fogo contra uma parte pequena do inimigo que avançava.
Ocorreu o óbvio, o exército romano foi dizimado. Consta que quase todos os 50 mil soldados morreram, incluindo o “exímio general” Crasso.
Tamanho erro feito por Crasso virou, em várias línguas, sinônimo de estupidez.
Continuando, nas últimas semanas começam a despontar no horizonte ainda distante a leste, os primeiros sinais de que após a tempestade o céu tende a se acalmar, e que eventualmente, no tempo certo até veremos o azul celeste, afinal, os processos do universo sofrem o impacto de muitas “imprevisibilidades”, mas como tudo que existe nele, os elementos se adaptam e reiniciam seus movimentos habituais e naturais.
O caminho fácil é deixar-se seduzir pelas imagens que os outros nos apresentam. O difícil é manter-se isento e praticar o superior ato de pensar por si mesmo, maneira pela qual, muitas mentes conseguem atingir objetivos que aos olhos dos demais parecem extremamente difíceis.
Foi um erro crasso praticado por aqueles que deixaram levar-se pelo pânico, rasgar o conhecimento acumulado durante anos no mercado de capitais simplesmente porque parecia muito mais fácil do que se colocar a pensar sobre o que de fato estava acontecendo. Tenho um amigo que se lamenta disso todo o dia, vendo o mercado recuperar um considerável trecho do terreno perdido embora ele não tenha mais as ações em carteira.
Ninguém pode dizer quanto tempo levará para a economia mundial recuperar-se, mas nem por isso precisamos ignorar os conhecimentos básicos que determinam o ir e vir da economia real, onde a riqueza é criada e onde estão as maiores oportunidades de investimento.
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domingo, 25 de janeiro de 2009
O Amaro, Obama e a maquininha de fazer dinheiro
A impressão que temos ao ler os jornais dos últimos meses, com os anúncios de governos no mundo inteiro preparando planos de combate à crise, poderia ser a de que ninguém sabe se a crise será maior ou menor do que a disposição e dinheiro dos que a combatem, ou ainda mais intrigante, onde é que esses governos vão achar tanto dinheiro para irrigar as economias desses países nos montantes anunciados.
Com esse ar intrigante me ligou o Amaro, amigo de longa data, companheiro nos momentos felizes e nos tristes, daqueles que sempre dá pra gente se divertir mesmo quando falamos das coisas mais difíceis da vida.
A dúvida em sua mente era exatamente como poderiam esses governos lançar tais pacotes. Incomodava-o acreditar que nossos primos do norte poderiam lançar pacotes que somam alguns trilhões de dólares americanos.
A conversa desenvolveu-se mais ou menos assim:
− Oi, tudo bem? Tô preocupado com essas notícias sobre os pacotes contra a crise! − abriu a sessão o Amaro.
− Amaro, o quê exatamente te preocupa, a crise ou o pacote de resgate que os americanos anunciaram?
− Esse dinheiro todo que eles tão falando nos jornais. Os caras têm toda essa dinheirama?
− Não, não tem, mas é fácil de ter. Sabe a máquina de verdinhas? – perguntei me referindo às máquinas que imprimem dinheiro e que só têm esse nome porque como todos sabem lá as cédulas são monocromáticas em tom verde.
− Que maquininha verde? Do quê você tá falando? – esbaforiu ele com aquele ar de quem está metade assustado e metade perdido.
Respirei fundo sabendo que a resposta precisava não apenas de informação, mas de bastante paciência para frear aquele estado de confusão e medo na mente do Amaro, e mudei a tática:
− Amaro, o dinheiro que um país dispõe para gastar ou investir é aquele oriundo dos impostos arrecadados e mais a capacidade de endividar-se, que por sua vez é diretamente proporcional à confiança que o público “emprestador” tem nesse país. No caso americano (do norte), afora a gigantesca arrecadação governamental, o país é considerado como o de menor risco existente no planeta, na prática, tido como risco zero. Então a resposta é que eles têm o dinheiro que precisarem, é só mandar a casa da moeda imprimir mais.
− Mas como assim? E pode isso, não tem limite? – continuou descrente.
− Sim, tem limite, mas esse limite é elástico. O Brasil, por exemplo, que não tem tal nível de credibilidade – continuei – tem uma dívida pública que corresponde a 37% do PIB e ainda temos que gerar uma sobra de arrecadação que é utilizada para diminuir essa relação a cada ano. Essa diminuição é necessária principalmente porque temos taxa de juro muito alta, gerando um enorme custo de “serviço da dívida” (o que se gasta em juros e correções do principal).
− Então, os caras vão conviver com um déficit enorme nesses próximos anos, isso não vai quebrar as contas públicas deles? – era a última tentativa que ele fazia para sustentar aquela posição de desconfiança.
A explicação que dei para tal possibilidade de gerar mais dívidas é a de que o sistema vigente permite tais regalias, pois se sustenta na credibilidade e não em produtos ou bens, ou ainda em reservas de metais preciosos como eram usadas antigamente. Em suma, o atual é um sistema que vive na perigosa linha do equilíbrio psicológico mútuo, ou em casos de crise como agora, na linha de frente da guerra psicológica.
Diferente do Brasil, existe uma condição propícia para os Estados Unidos da América gerar tal aumento no déficit orçamentário, pois inversamente ao nosso caso, o custo de rolar uma dívida lá é baixíssimo se comparado ao nosso. É a mesma coisa de tomar dinheiro emprestado com um amigo e pagar corrigido ao CDI ao invés de ficar estourado no cheque especial, ou seja, um abismo separa ambos.
− Você tá mesmo otimista com tudo isso, não tá vendo a verdade! – sentenciou o Amaro.
Em alguns segundos fiz uma recordação mental dos últimos seis meses de crise e acontecimentos globais, e então respondi:
− Amaro, eles vão ter todo o dinheiro que julgarem necessário. O PIB deles é algo como USD 14 trilhões (o nosso deve estar em torno de BRL 3 tri). Eles vão subir o endividamento público do país em mais USD 1.2 tri de dólares. Possivelmente vão rodar uns dois ou três anos nesse nível enquanto a economia prepara para retomar o crescimento que apresentava, para então parar de aumentar o furo e eventualmente diminuí-lo.
Falei ainda sobre a ascensão do Obama ao poder e tudo o que representava isso para aquele país e para o mundo. Manifestei-lhe que a julgar pelo que conhecemos até agora, o novo presidente pode ser a pessoa certa para reconduzir a economia mundial ao ponto em que eles mesmos se perderam anteriormente. Mas essa parte caiu no vazio.
Julguei ser prudente não mencionar que o Brasil é atualmente o 6º maior credor do Tesouro americano na categoria “estrangeiros”, incluídos nessa lista alguns gigantes como China, Japão e etc. Nós possuindo mais de USD 140 bilhões em títulos daquele emissor.
Mas já era o final da conversa. Não sei se foram os números que o deixaram meio assombrado ou se eu havia despertado nele a nobre virtude da humildade que aflora quando nos vemos frente algo muito maior que nossas forças ou do que nossa compreensão.
Não me lembro o que ele disse antes de desligar, mas fiquei com a sensação de que ele não estava mais preocupado de onde sairão as montanhas de dinheiro que serão injetadas na economia mundial. Devia estar pensando na próxima preocupação da lista.
Talvez cada um de nós, assim como o Amaro, tenha sentido um dia um choque de realidade ao descobrir que o dinheiro que nasce na economia e que é poupado por cada cidadão ou governo, acaba sendo o mesmo que financia o déficit daqueles que gastam mais do que arrecadam. Ao mesmo tempo, os que gastam mais acabam gerando mais riqueza global, que por sua vez, na parcela que não é destinada aos gastos e investimentos, reflete-se na compra de mais títulos de dívida (poupança), e o ciclo se repete indeterminadamente.
Acho que o Amaro fez as pazes com o Obama. Não me surpreenderei se ele sonhar com a maquininha verde.
Então, o que será de todos nós? Ora, ao trabalho como sempre fizemos, pois o ciclo continua e de acordo com o resultado parcial da enquete ao lado, ainda vamos rir muito de tudo isso.
Com esse ar intrigante me ligou o Amaro, amigo de longa data, companheiro nos momentos felizes e nos tristes, daqueles que sempre dá pra gente se divertir mesmo quando falamos das coisas mais difíceis da vida.
A dúvida em sua mente era exatamente como poderiam esses governos lançar tais pacotes. Incomodava-o acreditar que nossos primos do norte poderiam lançar pacotes que somam alguns trilhões de dólares americanos.
A conversa desenvolveu-se mais ou menos assim:
− Oi, tudo bem? Tô preocupado com essas notícias sobre os pacotes contra a crise! − abriu a sessão o Amaro.
− Amaro, o quê exatamente te preocupa, a crise ou o pacote de resgate que os americanos anunciaram?
− Esse dinheiro todo que eles tão falando nos jornais. Os caras têm toda essa dinheirama?
− Não, não tem, mas é fácil de ter. Sabe a máquina de verdinhas? – perguntei me referindo às máquinas que imprimem dinheiro e que só têm esse nome porque como todos sabem lá as cédulas são monocromáticas em tom verde.
− Que maquininha verde? Do quê você tá falando? – esbaforiu ele com aquele ar de quem está metade assustado e metade perdido.
Respirei fundo sabendo que a resposta precisava não apenas de informação, mas de bastante paciência para frear aquele estado de confusão e medo na mente do Amaro, e mudei a tática:
− Amaro, o dinheiro que um país dispõe para gastar ou investir é aquele oriundo dos impostos arrecadados e mais a capacidade de endividar-se, que por sua vez é diretamente proporcional à confiança que o público “emprestador” tem nesse país. No caso americano (do norte), afora a gigantesca arrecadação governamental, o país é considerado como o de menor risco existente no planeta, na prática, tido como risco zero. Então a resposta é que eles têm o dinheiro que precisarem, é só mandar a casa da moeda imprimir mais.
− Mas como assim? E pode isso, não tem limite? – continuou descrente.
− Sim, tem limite, mas esse limite é elástico. O Brasil, por exemplo, que não tem tal nível de credibilidade – continuei – tem uma dívida pública que corresponde a 37% do PIB e ainda temos que gerar uma sobra de arrecadação que é utilizada para diminuir essa relação a cada ano. Essa diminuição é necessária principalmente porque temos taxa de juro muito alta, gerando um enorme custo de “serviço da dívida” (o que se gasta em juros e correções do principal).
− Então, os caras vão conviver com um déficit enorme nesses próximos anos, isso não vai quebrar as contas públicas deles? – era a última tentativa que ele fazia para sustentar aquela posição de desconfiança.
A explicação que dei para tal possibilidade de gerar mais dívidas é a de que o sistema vigente permite tais regalias, pois se sustenta na credibilidade e não em produtos ou bens, ou ainda em reservas de metais preciosos como eram usadas antigamente. Em suma, o atual é um sistema que vive na perigosa linha do equilíbrio psicológico mútuo, ou em casos de crise como agora, na linha de frente da guerra psicológica.
Diferente do Brasil, existe uma condição propícia para os Estados Unidos da América gerar tal aumento no déficit orçamentário, pois inversamente ao nosso caso, o custo de rolar uma dívida lá é baixíssimo se comparado ao nosso. É a mesma coisa de tomar dinheiro emprestado com um amigo e pagar corrigido ao CDI ao invés de ficar estourado no cheque especial, ou seja, um abismo separa ambos.
− Você tá mesmo otimista com tudo isso, não tá vendo a verdade! – sentenciou o Amaro.
Em alguns segundos fiz uma recordação mental dos últimos seis meses de crise e acontecimentos globais, e então respondi:
− Amaro, eles vão ter todo o dinheiro que julgarem necessário. O PIB deles é algo como USD 14 trilhões (o nosso deve estar em torno de BRL 3 tri). Eles vão subir o endividamento público do país em mais USD 1.2 tri de dólares. Possivelmente vão rodar uns dois ou três anos nesse nível enquanto a economia prepara para retomar o crescimento que apresentava, para então parar de aumentar o furo e eventualmente diminuí-lo.
Falei ainda sobre a ascensão do Obama ao poder e tudo o que representava isso para aquele país e para o mundo. Manifestei-lhe que a julgar pelo que conhecemos até agora, o novo presidente pode ser a pessoa certa para reconduzir a economia mundial ao ponto em que eles mesmos se perderam anteriormente. Mas essa parte caiu no vazio.
Julguei ser prudente não mencionar que o Brasil é atualmente o 6º maior credor do Tesouro americano na categoria “estrangeiros”, incluídos nessa lista alguns gigantes como China, Japão e etc. Nós possuindo mais de USD 140 bilhões em títulos daquele emissor.
Mas já era o final da conversa. Não sei se foram os números que o deixaram meio assombrado ou se eu havia despertado nele a nobre virtude da humildade que aflora quando nos vemos frente algo muito maior que nossas forças ou do que nossa compreensão.
Não me lembro o que ele disse antes de desligar, mas fiquei com a sensação de que ele não estava mais preocupado de onde sairão as montanhas de dinheiro que serão injetadas na economia mundial. Devia estar pensando na próxima preocupação da lista.
Talvez cada um de nós, assim como o Amaro, tenha sentido um dia um choque de realidade ao descobrir que o dinheiro que nasce na economia e que é poupado por cada cidadão ou governo, acaba sendo o mesmo que financia o déficit daqueles que gastam mais do que arrecadam. Ao mesmo tempo, os que gastam mais acabam gerando mais riqueza global, que por sua vez, na parcela que não é destinada aos gastos e investimentos, reflete-se na compra de mais títulos de dívida (poupança), e o ciclo se repete indeterminadamente.
Acho que o Amaro fez as pazes com o Obama. Não me surpreenderei se ele sonhar com a maquininha verde.
Então, o que será de todos nós? Ora, ao trabalho como sempre fizemos, pois o ciclo continua e de acordo com o resultado parcial da enquete ao lado, ainda vamos rir muito de tudo isso.
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O que um piloto de corrida faz quando vê a luz verde?
Eu já disse antes que analisar a história econômica de um país como o Brasil é sempre um exercício interessante. A começar porque no início mesmo, antes de Cabral, chamava-se Pindorama (terra das palmeiras na língua indígena). Como um lugar chamado Pindorama transformou-se no que somos hoje é de torcer a barba de qualquer historiador.
Você pode, ao deter-se no assunto economia brasileira, observar os fatos ocorridos e as consequências atuais dos mesmos, assim como pode estudá-los para tentar entender como será o futuro a partir daquilo e tomar suas decisões. Mas cuidado! Essa é a forma de fazê-lo quando o objeto de estudo tem uma trajetória centrada no normal e previsível, o que todos sabem não ser verdade para o nosso país até pouco tempo atrás.
Vejamos um assunto que tanto nos interessa, o regime de metas de inflação adotado pelo Brasil em junho de 1999, ainda que erroneamente muitos entendam que suas vidas não têm nada a ver com isso. Na verdade eu queria mesmo era falar de “Fórmula 1”, esporte que me fascina e que acompanho desde infância, mas deixarei esse assunto para quando o circo estiver montado a partir de março. Contentarei-me apenas com o título desta postagem, que ainda assim, está correto para o assunto de hoje. Continuando então...
Esse regime, inicialmente criado pela Nova Zelândia em 1990, prevê o uso da política monetária como forma do Banco Central fazer convergir a inflação real para a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (no nosso caso). É um jogo psicológico, onde quanto mais o mercado acredita que o Banco Central vai utilizar o que for necessário para convergir a inflação para o objetivo, mais facilmente os agentes econômicos (indústria, comércio e serviços) se planejam de acordo com essa meta de inflação, o que acaba por trazer de fato a inflação realizada para a meta ou próximo dela.
Ainda de acordo com o modelo acima, os ajustes feitos em cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) devem ser suficientes para produzir tal efeito, ou seja, aumentando ou diminuindo a taxa de juro básica para desestimular ou estimular a economia, mirando a sempre a inflação. Agora pergunto se você leitor pauta as suas decisões de consumo e investimento a cada mudança na taxa de juro ou se você simplesmente pensa se no seu orçamento cabem tais aquisições? Obviamente que a taxa de juro está implícita no preço que você paga pelo serviço ou bem que quer consumir, então você não está isolado dessa realidade quando toma a decisão, mesmo que você esqueça isso.
O que faz com que a reunião desta semana tenha tido um significado que mereça o título desta postagem é o fato de que começar um regime de metas de inflação em um país com taxa de juro nominal baixo é uma coisa, mas fazer o mesmo em um país que no início de 1999 tinha taxa de quase 30% ao ano é outra coisa, é um enorme desafio.
Pense no efeito psicológico que advém dos aumentos e diminuições da taxa de juro de 0,25% ou 0,50% comumente utilizadas pelo Copom. Agora pense no efeito que essas mudanças de taxas têm nos cálculos de investimentos e planos de negócios que as empresas estabelecem antes de realizar os investimentos. Sim, quase nenhuma influência em um país com taxa de juro alta como a nossa foi, e inversamente, muita influência em um país que pratica taxas baixas já que percentualmente essas mudanças pequenas significam mais.
Por motivos óbvios, poucas oportunidades surgem na história de um país que o permita fazer ajustes pesados no patamar da taxa praticada, afinal, se pudesse fazê-lo antes, por que não o teria feito? Pois bem, estamos diante de uma dessas oportunidades que no jargão do automobilismo, pode conduzir-nos para uma posição no pelotão da frente ao invés de ficar brigando para chegar em décimo lugar como temos feito nos últimos quinze anos. Taxa de juro em patamar baixo é o mesmo que largar com tanque mais vazio, você tem uma vantagem competitiva enorme e mesmo que precise parar de vez em quando para reabastecer, sempre voltará à pista na frente dos que não largaram tão rápido como você (se não acredita nessa teoria, me explique os infinitos títulos do Schumacher na Ferrari).
A crise global criou, paralela às dificuldades, a condição especial para fazer esse ajuste, pois as condições da economia doméstica estão sob jugo das condições econômicas mundiais, não tendo muito efeito no país uma queda de 1% na taxa como vimos essa semana. Se por um lado isso faz parecer que estamos sem muitas ferramentas para contrapor a crise (o que é verdade), por outro nos dá a liberdade de fazer um ajuste mais profundo no patamar da taxa de juro, assim como fez o Copom nessa última reunião. Certamente não teremos riscos à meta de inflação se o câmbio continuar igual ou melhor do que está, e se a economia mundial continuar em dificuldades, sendo razoável esperar por mais duas reduções de igual magnitude ou algo com um resultado similar, que ao final do semestre, nos tenha deixado nessa condição mais confortável de pilotar um carro mais ajustado, mais “normal”, onde a taxa de juro da economia estejam próximos de mudar de dois dígitos para apenas um.
Acelerar! Espero que tenhamos a oportunidade de ver cortes ainda maiores na taxa antes que seja necessário parar as reduções, o que ocorrerá apenas quando a nossa atividade econômica der sinais de que não poderá produzir o suficiente para atender à demanda sem gerar inflação, o que não está no radar dos próximos meses dado a diminuição da capacidade utilizada do parque fabril instalado no país. Outros elementos poderiam fazer ascender uma luz amarela no Copom, mas todos estão relacionados de um jeito ou de outro, com o aumento da atividade econômica mundial e local, ambos como já disse, ainda no campo do desejo.
Conseguir um lugar no pódio da corrida pelo desenvolvimento econômico e social do mundo exige mais do que adequar a taxa de juro para níveis mais baixos enquanto mantém a inflação sob controle, que o diga a infindável lista de reformas pendentes no Executivo e Legislativo, mas largar leve e dispor de uma aceleração melhor já fazem a diferença entre participar de uma corrida ou entrar nela para disputar uma vaga no pódio.
Você pode, ao deter-se no assunto economia brasileira, observar os fatos ocorridos e as consequências atuais dos mesmos, assim como pode estudá-los para tentar entender como será o futuro a partir daquilo e tomar suas decisões. Mas cuidado! Essa é a forma de fazê-lo quando o objeto de estudo tem uma trajetória centrada no normal e previsível, o que todos sabem não ser verdade para o nosso país até pouco tempo atrás.
Vejamos um assunto que tanto nos interessa, o regime de metas de inflação adotado pelo Brasil em junho de 1999, ainda que erroneamente muitos entendam que suas vidas não têm nada a ver com isso. Na verdade eu queria mesmo era falar de “Fórmula 1”, esporte que me fascina e que acompanho desde infância, mas deixarei esse assunto para quando o circo estiver montado a partir de março. Contentarei-me apenas com o título desta postagem, que ainda assim, está correto para o assunto de hoje. Continuando então...
Esse regime, inicialmente criado pela Nova Zelândia em 1990, prevê o uso da política monetária como forma do Banco Central fazer convergir a inflação real para a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (no nosso caso). É um jogo psicológico, onde quanto mais o mercado acredita que o Banco Central vai utilizar o que for necessário para convergir a inflação para o objetivo, mais facilmente os agentes econômicos (indústria, comércio e serviços) se planejam de acordo com essa meta de inflação, o que acaba por trazer de fato a inflação realizada para a meta ou próximo dela.
Ainda de acordo com o modelo acima, os ajustes feitos em cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) devem ser suficientes para produzir tal efeito, ou seja, aumentando ou diminuindo a taxa de juro básica para desestimular ou estimular a economia, mirando a sempre a inflação. Agora pergunto se você leitor pauta as suas decisões de consumo e investimento a cada mudança na taxa de juro ou se você simplesmente pensa se no seu orçamento cabem tais aquisições? Obviamente que a taxa de juro está implícita no preço que você paga pelo serviço ou bem que quer consumir, então você não está isolado dessa realidade quando toma a decisão, mesmo que você esqueça isso.
O que faz com que a reunião desta semana tenha tido um significado que mereça o título desta postagem é o fato de que começar um regime de metas de inflação em um país com taxa de juro nominal baixo é uma coisa, mas fazer o mesmo em um país que no início de 1999 tinha taxa de quase 30% ao ano é outra coisa, é um enorme desafio.
Pense no efeito psicológico que advém dos aumentos e diminuições da taxa de juro de 0,25% ou 0,50% comumente utilizadas pelo Copom. Agora pense no efeito que essas mudanças de taxas têm nos cálculos de investimentos e planos de negócios que as empresas estabelecem antes de realizar os investimentos. Sim, quase nenhuma influência em um país com taxa de juro alta como a nossa foi, e inversamente, muita influência em um país que pratica taxas baixas já que percentualmente essas mudanças pequenas significam mais.
Por motivos óbvios, poucas oportunidades surgem na história de um país que o permita fazer ajustes pesados no patamar da taxa praticada, afinal, se pudesse fazê-lo antes, por que não o teria feito? Pois bem, estamos diante de uma dessas oportunidades que no jargão do automobilismo, pode conduzir-nos para uma posição no pelotão da frente ao invés de ficar brigando para chegar em décimo lugar como temos feito nos últimos quinze anos. Taxa de juro em patamar baixo é o mesmo que largar com tanque mais vazio, você tem uma vantagem competitiva enorme e mesmo que precise parar de vez em quando para reabastecer, sempre voltará à pista na frente dos que não largaram tão rápido como você (se não acredita nessa teoria, me explique os infinitos títulos do Schumacher na Ferrari).
A crise global criou, paralela às dificuldades, a condição especial para fazer esse ajuste, pois as condições da economia doméstica estão sob jugo das condições econômicas mundiais, não tendo muito efeito no país uma queda de 1% na taxa como vimos essa semana. Se por um lado isso faz parecer que estamos sem muitas ferramentas para contrapor a crise (o que é verdade), por outro nos dá a liberdade de fazer um ajuste mais profundo no patamar da taxa de juro, assim como fez o Copom nessa última reunião. Certamente não teremos riscos à meta de inflação se o câmbio continuar igual ou melhor do que está, e se a economia mundial continuar em dificuldades, sendo razoável esperar por mais duas reduções de igual magnitude ou algo com um resultado similar, que ao final do semestre, nos tenha deixado nessa condição mais confortável de pilotar um carro mais ajustado, mais “normal”, onde a taxa de juro da economia estejam próximos de mudar de dois dígitos para apenas um.
Acelerar! Espero que tenhamos a oportunidade de ver cortes ainda maiores na taxa antes que seja necessário parar as reduções, o que ocorrerá apenas quando a nossa atividade econômica der sinais de que não poderá produzir o suficiente para atender à demanda sem gerar inflação, o que não está no radar dos próximos meses dado a diminuição da capacidade utilizada do parque fabril instalado no país. Outros elementos poderiam fazer ascender uma luz amarela no Copom, mas todos estão relacionados de um jeito ou de outro, com o aumento da atividade econômica mundial e local, ambos como já disse, ainda no campo do desejo.
Conseguir um lugar no pódio da corrida pelo desenvolvimento econômico e social do mundo exige mais do que adequar a taxa de juro para níveis mais baixos enquanto mantém a inflação sob controle, que o diga a infindável lista de reformas pendentes no Executivo e Legislativo, mas largar leve e dispor de uma aceleração melhor já fazem a diferença entre participar de uma corrida ou entrar nela para disputar uma vaga no pódio.
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
O "morto-vivo", realidade ou ficção?
Como primeira postagem do ano, vou propor algumas reflexões sobre uma vivência que eu tive. Considere a possibilidade de ver a si mesmo na situação que vou descrever, não em relação ao mercado financeiro, ou melhor, não apenas sob esse enfoque.
Pois bem, sobre a pergunta do título, eu não queria estragar a surpresa afirmando que a resposta correta é “realidade”, mas como acabei falando com um deles na semana passada me senti na obrigação de fazer tal revelação.
A fisionomia da personagem citada não parecia em nada com a dos zumbis dos filmes de terror que evitei a vida toda, muito menos acho que algum diretor de Hollywood tenha vestido os tais mortos-vivos com as roupas caras que vestia o meu conhecido. Importante entender que essas diferenças cosméticas não me impediram de ver a grotesca semelhança.
Iniciou a conversa daquela manhã naquele tom de voz de vilão de novela passando conversa fiada no sogro milionário com o objetivo de conseguir a benção para casar com a bela e inocente filha. Introduziu o assunto com a seriedade exigida quando se vai demitir alguém ou informar um parente sobre o estado terminal de saúde do paciente. (Incrível o que imagens analógicas constroem em nossas mentes, não?)
Anunciava-me, enquanto estendia as mãos querendo sugar-me para o mundo dos mortos, que a economia sucumbiria em breve com os conseqüentes efeitos no mercado financeiro, e como que para dissipar qualquer dúvida que por ventura eu tivesse, recordou-me que naquele instante a Bolsa de Valores caia mais de 2%. Sua irmã havia relatado alarmada que a empresa da qual ela é dona havia vendido só 5% a mais que no mesmo mês do ano anterior, muito abaixo do que previa vender neste último Dezembro. Obviamente que nesse relato ela omitiu o fato de que no acumulado dos últimos doze meses ela deve ter vendido muito mais do que em 2007. A mente de meu amigo havia sucumbido aos pensamentos de terror. Estava “morto”.
Entenda que para alguém como eu, que passa o dia lendo relatórios sobre economia e empresas, que freqüenta reuniões e conferências sobre o mercado acionário, que contata diretamente os departamentos de relações com investidores das empresas e atende às suas apresentações, o cenário que ele traçava era exatamente o que todos nós no mercado sabíamos que iria acontecer quando essa crise atingiu seu ponto máximo e cortou o fluxo financeiro para a economia real, ou seja, uma forte freada na economia brasileira. Ainda assim, que semelhança tem isso com o cenário catastrófico que algumas pessoas têm tentado difundir para nós? Pouca e débil semelhança.
Já aprendi que na vida, em qualquer de seus aspectos, toda interrupção é um retrocesso, sendo inevitável observar tal verdade no que diz respeito à economia ou finanças, mas assim como após um retrocesso nós colocamos as melhores energias para retomar o terreno perdido, o mundo está se posicionando para tal, com cada uma das medidas possíveis sendo tomadas para que essa retomada não demore muito para acontecer. Vai demorar um pouco, resultado inerente do processo de causas e efeitos que rege o universo com ou sem nosso conhecimento.
Embora eu não vá tratar novamente de muitos pontos já apresentados em outras postagens deste blog, sobre a dinâmica da economia real e sobre o mercado, é necessário reafirmar o que já disse antes, que cabe a cada um de nós escolhermos sob qual lente examinará a realidade do mercado financeiro e viver as conseqüências de tal decisão. Eu posso dizer por mim e pelos que tem compartilhado dessa compreensão, que mesmo vivendo a maior crise financeira que o mundo viu no tempo moderno, estamos serenos em nossos objetivos, transformando a crise em uma grande oportunidade. Fácil de realizar não é, mas como diz a sabedoria popular, o que vem fácil, fácil se vai.
Nosso amigo, zumbi por opção, ligou-me novamente ao final da tarde, e como em um passe de mágica a Bolsa havia virado e naquele instante subia quase 3%, a primeira coisa que me perguntou foi “será que estou errado?”.
Para não alongar o relato, recordei-o que embora estejamos vivendo na economia real o que o mercado já precificou três meses atrás, por outro lado estamos vendo a montagem de um cenário que tem grande chance de ser a maior corrida por ativos de risco que o mundo já viu nas últimas décadas, cenário que tem seu fundamento na enorme pilha de dinheiro que os fundos e demais investidores montaram com a venda de tantos ativos recentemente. Existem alguns fatores que são como marcos que precisam ser atingidos para disparar tal corrida e como eles não serão atingidos tão cedo, até lá o mercado continua refém dos zumbis.
Fiquei pensando se não somos um pouco zumbis em outros aspectos da vida, oscilando entre estados de ânimo tão diferentes que até pareceriam com o calor e o frio, ou com a vida e a morte.
É preciso encontrar essa lente que nos permita passar pelas crises que a vida sempre apresenta e transformá-las em algo útil. Penso que é hora de nos levantarmos contra o domínio dessas correntes mentais que querem impor um estado de sítio na mente humana, impedindo-nos de exercer o saudável exercício de pensar, de razoar, de julgar e formar nossas próprias conclusões, de buscar em cada experiência difícil, o elemento que faltou para que acabasse diferente.
Meus votos são de que 2009 seja o ano em que cada um de nós possa conquistar mais essa condição, humana por excelência, realizável pelo esforço, de ser cada dia mais o dono de seus pensamentos, forjando um futuro melhor para si e para a humanidade.
Pois bem, sobre a pergunta do título, eu não queria estragar a surpresa afirmando que a resposta correta é “realidade”, mas como acabei falando com um deles na semana passada me senti na obrigação de fazer tal revelação.
A fisionomia da personagem citada não parecia em nada com a dos zumbis dos filmes de terror que evitei a vida toda, muito menos acho que algum diretor de Hollywood tenha vestido os tais mortos-vivos com as roupas caras que vestia o meu conhecido. Importante entender que essas diferenças cosméticas não me impediram de ver a grotesca semelhança.
Iniciou a conversa daquela manhã naquele tom de voz de vilão de novela passando conversa fiada no sogro milionário com o objetivo de conseguir a benção para casar com a bela e inocente filha. Introduziu o assunto com a seriedade exigida quando se vai demitir alguém ou informar um parente sobre o estado terminal de saúde do paciente. (Incrível o que imagens analógicas constroem em nossas mentes, não?)
Anunciava-me, enquanto estendia as mãos querendo sugar-me para o mundo dos mortos, que a economia sucumbiria em breve com os conseqüentes efeitos no mercado financeiro, e como que para dissipar qualquer dúvida que por ventura eu tivesse, recordou-me que naquele instante a Bolsa de Valores caia mais de 2%. Sua irmã havia relatado alarmada que a empresa da qual ela é dona havia vendido só 5% a mais que no mesmo mês do ano anterior, muito abaixo do que previa vender neste último Dezembro. Obviamente que nesse relato ela omitiu o fato de que no acumulado dos últimos doze meses ela deve ter vendido muito mais do que em 2007. A mente de meu amigo havia sucumbido aos pensamentos de terror. Estava “morto”.
Entenda que para alguém como eu, que passa o dia lendo relatórios sobre economia e empresas, que freqüenta reuniões e conferências sobre o mercado acionário, que contata diretamente os departamentos de relações com investidores das empresas e atende às suas apresentações, o cenário que ele traçava era exatamente o que todos nós no mercado sabíamos que iria acontecer quando essa crise atingiu seu ponto máximo e cortou o fluxo financeiro para a economia real, ou seja, uma forte freada na economia brasileira. Ainda assim, que semelhança tem isso com o cenário catastrófico que algumas pessoas têm tentado difundir para nós? Pouca e débil semelhança.
Já aprendi que na vida, em qualquer de seus aspectos, toda interrupção é um retrocesso, sendo inevitável observar tal verdade no que diz respeito à economia ou finanças, mas assim como após um retrocesso nós colocamos as melhores energias para retomar o terreno perdido, o mundo está se posicionando para tal, com cada uma das medidas possíveis sendo tomadas para que essa retomada não demore muito para acontecer. Vai demorar um pouco, resultado inerente do processo de causas e efeitos que rege o universo com ou sem nosso conhecimento.
Embora eu não vá tratar novamente de muitos pontos já apresentados em outras postagens deste blog, sobre a dinâmica da economia real e sobre o mercado, é necessário reafirmar o que já disse antes, que cabe a cada um de nós escolhermos sob qual lente examinará a realidade do mercado financeiro e viver as conseqüências de tal decisão. Eu posso dizer por mim e pelos que tem compartilhado dessa compreensão, que mesmo vivendo a maior crise financeira que o mundo viu no tempo moderno, estamos serenos em nossos objetivos, transformando a crise em uma grande oportunidade. Fácil de realizar não é, mas como diz a sabedoria popular, o que vem fácil, fácil se vai.
Nosso amigo, zumbi por opção, ligou-me novamente ao final da tarde, e como em um passe de mágica a Bolsa havia virado e naquele instante subia quase 3%, a primeira coisa que me perguntou foi “será que estou errado?”.
Para não alongar o relato, recordei-o que embora estejamos vivendo na economia real o que o mercado já precificou três meses atrás, por outro lado estamos vendo a montagem de um cenário que tem grande chance de ser a maior corrida por ativos de risco que o mundo já viu nas últimas décadas, cenário que tem seu fundamento na enorme pilha de dinheiro que os fundos e demais investidores montaram com a venda de tantos ativos recentemente. Existem alguns fatores que são como marcos que precisam ser atingidos para disparar tal corrida e como eles não serão atingidos tão cedo, até lá o mercado continua refém dos zumbis.
Fiquei pensando se não somos um pouco zumbis em outros aspectos da vida, oscilando entre estados de ânimo tão diferentes que até pareceriam com o calor e o frio, ou com a vida e a morte.
É preciso encontrar essa lente que nos permita passar pelas crises que a vida sempre apresenta e transformá-las em algo útil. Penso que é hora de nos levantarmos contra o domínio dessas correntes mentais que querem impor um estado de sítio na mente humana, impedindo-nos de exercer o saudável exercício de pensar, de razoar, de julgar e formar nossas próprias conclusões, de buscar em cada experiência difícil, o elemento que faltou para que acabasse diferente.
Meus votos são de que 2009 seja o ano em que cada um de nós possa conquistar mais essa condição, humana por excelência, realizável pelo esforço, de ser cada dia mais o dono de seus pensamentos, forjando um futuro melhor para si e para a humanidade.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
O nhoque, o brigadeiro e as ações
Impressionam-me as tantas dificuldades que nós temos em relação às coisas simples da vida, qualquer que seja o assunto. Parece que nós, seres humanos, ainda não aprendemos a lidar com os pensamentos que em vários campos da vida tentam nos levar para o desequilíbrio.
Por exemplo, eu gosto de nhoque de batatas. A cozinheira aqui em casa faz sempre misto, de batatas e de mandioquinha. Eu também gosto de mandioquinha, mas gosto mais ainda do nhoque de batatas, ainda que ela sempre faça o misto.
Cada vez que ela coloca a travessa cheia na mesa, eu começo a curtir o aroma e o visual daquela magnífica obra de arte (quando bem feita, é claro) e minha boca só não enche de saliva porque não dá tempo, eu logo mando a primeira garfada. O que ocorre depois é quase como um filme que se repete, vou comendo em ritmo acelerado porque a comida está muito gostosa, e meu organismo vai recebendo aquela quantidade em exagero que não dá nem a oportunidade para o cérebro notar os sinais químicos do sistema digestivo sobre a possível interrupção no ato de alimentar-me, dada a farta disponibilidade de energia ingerida nesse curto espaço de tempo.
Para piorar, soma-se à ansiedade (como se a comida fosse fugir do prato no instante seguinte), a gula, pensamento nefasto que se manifesta sempre que a minha mente não se antepõe ao mesmo, exibindo a notória marca de quem ainda não se livrou da forte influência do instinto na vida humana. O que isso tem de relação com nosso tema central? A clara distinção entre a necessidade real e a que nosso instinto quer impor, obviamente muito além do que seria a real. Podemos aplicar essa observação a qualquer aspecto de nossas vidas. Tomemos mais uma vez o mercado financeiro e nossa posição como investidor.
O que cada um de nós busca ao investir seus recursos financeiros? Já vi de tudo, desde o estressante comprar para vender no instante seguinte aos que ilusoriamente pensam que é só comprar qualquer coisa e esperar sentado. Vi também e aprendi a conhecer melhor as empresas, estar com as pessoas que administram a mesma e conhecer sua realidade, identificando as que merecem a nós como sócios. Penso que podemos resumir esse objetivo, o de como sócio, receber ao longo do tempo uma remuneração que além de proteger-nos da inflação possa também acrescentar um ganho real tal que resulte em um futuro financeiro no qual possamos colher os frutos do esforço de poupar que realizamos hoje. E qual seria esse rendimento ideal para alcançar tal objetivo? A princípio o de maior razão entre o retorno e o risco.
Não se pode pensar em aumentar os rendimentos sem participar da engrenagem que gera a riqueza em nosso país. Essa engrenagem é a economia real onde se agrega valor aos produtos básicos antes de oferecê-los à população, onde se transforma a capacidade intelectual em serviços prestados, onde os recursos naturais são explorados (quando feito adequadamente) e resultam em um país com muitas condições de seguir sua marcha de desenvolvimento e inclusão social. Ou depois dessa demonstração dos últimos anos alguém ainda acredita que inclusão social se faz com programas assistencialistas?
A ascensão de uma fatia enorme da população brasileira à categoria de consumidores se deve ao giro cada vez melhor dessa engrenagem mencionada, que ao mesmo tempo em que gera um grande número de empregos, lança os respectivos salários no mercado consumidor (e o ciclo se repete). Essa engrenagem se serve, dentre outras fontes, dos recursos de investidores que entendem ser um ótimo negócio ser sócio capitalista de uma boa empresa de capital aberto em Bolsa.
O conceito de ser sócio de uma boa e rentável empresa, ainda que a participação no seu capital social seja muito pequena, encerra muitos segredos que quando decifrados conceitualmente permitem movimentar-se nesse meio com muito mais inteligência e com melhores resultados.
Se alguém pretende acertar as ações que vão subir mais no futuro, lamento pela decepção que chegará, cedo ou tarde. Não precisamos tentar adivinhar e comprar as ações que vão subir mais, assim como sei que não preciso comer mais do que o necessário ainda que o nhoque esteja “dos deuses”. Sei que a tentação é por ter o máximo que pudermos, mas para ambos os casos, é melhor a escolha do equilíbrio, pois é o equilíbrio o que garante a boa saúde, tanto biológica como a financeira no caso da carteira de participações societárias.
Já falamos em postagens anteriores e temos ainda muito a falar sobre esses conceitos que envolvem “ser sócio de uma boa e rentável empresa”.
E sobre o brigadeiro? Um fato indiscutível é que o melhor brigadeiro do mundo é o de panela, com Leite Moça, a correta quantidade de Nescau (não adianta colocar “Toddy” ou algo similar) e uma pequena colher de manteiga. Mantenha o fogo baixo e mexa com a colher de pau durante todo o tempo. Quando ele tiver formado aquela consistência que “desgruda” do fundo, hora de desligar o fogo (não deixe passar desse ponto senão ele adquire aquele gosto de queimado). Nesse momento derrame o conteúdo em diversas xícaras ou potinhos e deixe a generosa porção na panela para comer com a colher. Ele esfria rápido. Agora que esfriou, esqueça o que eu disse no caso do nhoque. Cada um por si e quem puder garanta o seu!
Por exemplo, eu gosto de nhoque de batatas. A cozinheira aqui em casa faz sempre misto, de batatas e de mandioquinha. Eu também gosto de mandioquinha, mas gosto mais ainda do nhoque de batatas, ainda que ela sempre faça o misto.
Cada vez que ela coloca a travessa cheia na mesa, eu começo a curtir o aroma e o visual daquela magnífica obra de arte (quando bem feita, é claro) e minha boca só não enche de saliva porque não dá tempo, eu logo mando a primeira garfada. O que ocorre depois é quase como um filme que se repete, vou comendo em ritmo acelerado porque a comida está muito gostosa, e meu organismo vai recebendo aquela quantidade em exagero que não dá nem a oportunidade para o cérebro notar os sinais químicos do sistema digestivo sobre a possível interrupção no ato de alimentar-me, dada a farta disponibilidade de energia ingerida nesse curto espaço de tempo.
Para piorar, soma-se à ansiedade (como se a comida fosse fugir do prato no instante seguinte), a gula, pensamento nefasto que se manifesta sempre que a minha mente não se antepõe ao mesmo, exibindo a notória marca de quem ainda não se livrou da forte influência do instinto na vida humana. O que isso tem de relação com nosso tema central? A clara distinção entre a necessidade real e a que nosso instinto quer impor, obviamente muito além do que seria a real. Podemos aplicar essa observação a qualquer aspecto de nossas vidas. Tomemos mais uma vez o mercado financeiro e nossa posição como investidor.
O que cada um de nós busca ao investir seus recursos financeiros? Já vi de tudo, desde o estressante comprar para vender no instante seguinte aos que ilusoriamente pensam que é só comprar qualquer coisa e esperar sentado. Vi também e aprendi a conhecer melhor as empresas, estar com as pessoas que administram a mesma e conhecer sua realidade, identificando as que merecem a nós como sócios. Penso que podemos resumir esse objetivo, o de como sócio, receber ao longo do tempo uma remuneração que além de proteger-nos da inflação possa também acrescentar um ganho real tal que resulte em um futuro financeiro no qual possamos colher os frutos do esforço de poupar que realizamos hoje. E qual seria esse rendimento ideal para alcançar tal objetivo? A princípio o de maior razão entre o retorno e o risco.
Não se pode pensar em aumentar os rendimentos sem participar da engrenagem que gera a riqueza em nosso país. Essa engrenagem é a economia real onde se agrega valor aos produtos básicos antes de oferecê-los à população, onde se transforma a capacidade intelectual em serviços prestados, onde os recursos naturais são explorados (quando feito adequadamente) e resultam em um país com muitas condições de seguir sua marcha de desenvolvimento e inclusão social. Ou depois dessa demonstração dos últimos anos alguém ainda acredita que inclusão social se faz com programas assistencialistas?
A ascensão de uma fatia enorme da população brasileira à categoria de consumidores se deve ao giro cada vez melhor dessa engrenagem mencionada, que ao mesmo tempo em que gera um grande número de empregos, lança os respectivos salários no mercado consumidor (e o ciclo se repete). Essa engrenagem se serve, dentre outras fontes, dos recursos de investidores que entendem ser um ótimo negócio ser sócio capitalista de uma boa empresa de capital aberto em Bolsa.
O conceito de ser sócio de uma boa e rentável empresa, ainda que a participação no seu capital social seja muito pequena, encerra muitos segredos que quando decifrados conceitualmente permitem movimentar-se nesse meio com muito mais inteligência e com melhores resultados.
Se alguém pretende acertar as ações que vão subir mais no futuro, lamento pela decepção que chegará, cedo ou tarde. Não precisamos tentar adivinhar e comprar as ações que vão subir mais, assim como sei que não preciso comer mais do que o necessário ainda que o nhoque esteja “dos deuses”. Sei que a tentação é por ter o máximo que pudermos, mas para ambos os casos, é melhor a escolha do equilíbrio, pois é o equilíbrio o que garante a boa saúde, tanto biológica como a financeira no caso da carteira de participações societárias.
Já falamos em postagens anteriores e temos ainda muito a falar sobre esses conceitos que envolvem “ser sócio de uma boa e rentável empresa”.
E sobre o brigadeiro? Um fato indiscutível é que o melhor brigadeiro do mundo é o de panela, com Leite Moça, a correta quantidade de Nescau (não adianta colocar “Toddy” ou algo similar) e uma pequena colher de manteiga. Mantenha o fogo baixo e mexa com a colher de pau durante todo o tempo. Quando ele tiver formado aquela consistência que “desgruda” do fundo, hora de desligar o fogo (não deixe passar desse ponto senão ele adquire aquele gosto de queimado). Nesse momento derrame o conteúdo em diversas xícaras ou potinhos e deixe a generosa porção na panela para comer com a colher. Ele esfria rápido. Agora que esfriou, esqueça o que eu disse no caso do nhoque. Cada um por si e quem puder garanta o seu!
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Quem quer casar com Dona Baratinha...
... que tem fita no cabelo e ações na caixinha?
Particularmente e sem deixar ninguém chateado eu digo que nunca gostei dessa história/música que em minha infância era tocada nem sei onde, talvez fosse um daqueles disquinhos que tocavam na vitrolinha que eu tinha. Se você não sabe o que é uma vitrola ou uma radiola, você é novo demais e não se divertiu ouvindo essa história musical da Dona Baratinha e outros hits da época, como “Nuvem passageira” e outros. A barata sempre foi um bicho asqueroso, desses que não merece nem sequer uma historinha musical, muito menos um que falasse de uma barata que guardava suas economias em uma caixinha e que por isso seria uma excelente “esposa”. Sinceramente, não sei quem criou algo assim.
Mas eis que me liga essa semana uma querida amiga e manifesta a surpresa de descobrir após uns sete anos de convívio, que eu trabalho na área financeira e especificamente com ações. Disse-lhe que fazia isso há mais de quinze anos. Primeira reflexão que fiz ao desligar o telefone depois de nossa agradável conversa foi a de que não posso deixar nenhum amigo às escuras sobre o que faço profissionalmente, pois posso perder a chance de colaborar com alguém que precise de ajuda, assim como penso que consegui fazer com ela nessa conversa.
Ela estava passando por uma época muito tensa, pois nos últimos anos guardou um dinheiro aqui e ali, na verdade se esforçando como uma batalhadora de primeiro escalão para gerar tais reservas. Contou que havia feito um tremendo ajuste nas contas e hábitos domésticos para que fossem possíveis as sobras, ajuste feito com a colaboração da família que conscientemente fazia um esforço com vistas a um futuro mais tranqüilo, e finalmente que nos últimos anos havia comprado ações com uma boa parte dessa reserva.
A carteira dela, baseada nos principais papéis da Bolsa, os chamados “blue chips”, acabaram apresentando uma excelente valorização ao longo dos anos que a deixou extremamente feliz e surpresa pelas possibilidades de ganho com ações. Ela vislumbrava essa possibilidade de que suas reservas lhe permitiriam ir mudando sua vida conforme seus objetivos e não mais conforme a necessidade se apresentasse. Estava certa.
Obviamente que as tais “blue chips”, que têm esse nome derivado das fichas (chips) usadas nas apostas em cassinos e no pôquer onde as de cor azul eram as de maior valor, não se comportaram como tal quando o tsunami da crise mundial passou pela Bovespa, e isso a deixou com a sensação de que poderia estar errada em relação a investir em ações, e que talvez até devesse vender tudo antes que não tivesse mais nada (já conhecemos esse pensamento em outras postagens, não é?). Na verdade ela não pensou isso, mas foi aconselhada por outra pessoa, certamente alguém ainda mais assustado do que ela.
Felizmente ela encontrou, antes de falar comigo, outro amigo em comum que entende de finanças e a aconselhou a não vender nada nesses preços, então estava preocupada, porém resoluta em manter as ações em carteira.
A conversa desenvolveu-se inicialmente na mesma linha da que tive com a Dona Maricota (ver postagem do dia 2 de novembro), e depois ela contou que havia aprendido com os pais dela sobre essa maneira inteligente de ir guardando um pouco sempre para depois poder contar com uma reserva adequada para as necessidades que a vida apresenta ou para as escolhas que podemos fazer quando temos tais reservas.
Não disse a ela, mas é importante ressaltar aqui que nem mesmo a maior crise dos últimos cem anos foi capaz de destruir o ganho proporcionado para aqueles que souberam ser sócios de boas empresas nos últimos anos. Tomemos como exemplo Itaúsa quatro anos atrás, a ação da "holding" que controla o banco Itaú, que custava R$ 2,40 e hoje, mesmo apanhando como gente grande, custa R$ 9,00 (chegou a valer R$ 11,75 meses antes). No caso das ações de Itaúsa, mais de 3,5 vezes o valor aplicado.
Vamos ver a Vale do Rio Doce, ação conhecidíssima dos investidores. Na mesma época do primeiro exemplo, custava R$ 9,70 e agora, devastada pelo terremoto mundial custa R$ 25,90. Essa variação é de 2,70 vezes sobre o valor inicial. Se eu pegar mais uma das conhecidas, a Petrobrás, dá algo muito parecido, R$9,00 com R$ 23,80 hoje, ou seja, 2,60 vezes.
Outras ações, de empresas menos famosas tiveram performances ainda melhores nesse mesmo período, tendo algumas delas criado novos milionários pelo mundo.
Mais impressionante ainda seria pegar as cotações de épocas de crise mais forte, como em 2002 onde o mundo acreditou que o Brasil iria naufragar após a eleição do presidente atual. Dá até vergonha de falar, então deixo para o leitor a tarefa de checar as cotações daquele ano e compará-las com as atuais, ainda que estejamos no fundo de uma nova crise.
Não é fácil fazer com que nossa mente tenha uma visão inovadora, de horizontes mais amplos sobre como devemos encarar a oportunidade de comprar uma participação societária em empresas de grande porte, talvez porque a maneira como muitos se aproveitam dessa oportunidade seja inadequada para um plano de longo prazo onde podemos construir uma reserva que nos permita fazer novas escolhas para a vida. É claro que esse é um tema que merece muito mais atenção. Voltarei a ele em breve.
Fiquei feliz que minha amiga já conhece o caminho, embora possa aprender muito ainda sobre como realizar essa jornada. Parece que certa mesmo está a Dona Baratinha, e deixo aqui minha homenagem a quem criou aquela historinha, pois no fundo é até instrutiva.~
E você, como está se preparando para essa jornada?
Particularmente e sem deixar ninguém chateado eu digo que nunca gostei dessa história/música que em minha infância era tocada nem sei onde, talvez fosse um daqueles disquinhos que tocavam na vitrolinha que eu tinha. Se você não sabe o que é uma vitrola ou uma radiola, você é novo demais e não se divertiu ouvindo essa história musical da Dona Baratinha e outros hits da época, como “Nuvem passageira” e outros. A barata sempre foi um bicho asqueroso, desses que não merece nem sequer uma historinha musical, muito menos um que falasse de uma barata que guardava suas economias em uma caixinha e que por isso seria uma excelente “esposa”. Sinceramente, não sei quem criou algo assim.
Mas eis que me liga essa semana uma querida amiga e manifesta a surpresa de descobrir após uns sete anos de convívio, que eu trabalho na área financeira e especificamente com ações. Disse-lhe que fazia isso há mais de quinze anos. Primeira reflexão que fiz ao desligar o telefone depois de nossa agradável conversa foi a de que não posso deixar nenhum amigo às escuras sobre o que faço profissionalmente, pois posso perder a chance de colaborar com alguém que precise de ajuda, assim como penso que consegui fazer com ela nessa conversa.
Ela estava passando por uma época muito tensa, pois nos últimos anos guardou um dinheiro aqui e ali, na verdade se esforçando como uma batalhadora de primeiro escalão para gerar tais reservas. Contou que havia feito um tremendo ajuste nas contas e hábitos domésticos para que fossem possíveis as sobras, ajuste feito com a colaboração da família que conscientemente fazia um esforço com vistas a um futuro mais tranqüilo, e finalmente que nos últimos anos havia comprado ações com uma boa parte dessa reserva.
A carteira dela, baseada nos principais papéis da Bolsa, os chamados “blue chips”, acabaram apresentando uma excelente valorização ao longo dos anos que a deixou extremamente feliz e surpresa pelas possibilidades de ganho com ações. Ela vislumbrava essa possibilidade de que suas reservas lhe permitiriam ir mudando sua vida conforme seus objetivos e não mais conforme a necessidade se apresentasse. Estava certa.
Obviamente que as tais “blue chips”, que têm esse nome derivado das fichas (chips) usadas nas apostas em cassinos e no pôquer onde as de cor azul eram as de maior valor, não se comportaram como tal quando o tsunami da crise mundial passou pela Bovespa, e isso a deixou com a sensação de que poderia estar errada em relação a investir em ações, e que talvez até devesse vender tudo antes que não tivesse mais nada (já conhecemos esse pensamento em outras postagens, não é?). Na verdade ela não pensou isso, mas foi aconselhada por outra pessoa, certamente alguém ainda mais assustado do que ela.
Felizmente ela encontrou, antes de falar comigo, outro amigo em comum que entende de finanças e a aconselhou a não vender nada nesses preços, então estava preocupada, porém resoluta em manter as ações em carteira.
A conversa desenvolveu-se inicialmente na mesma linha da que tive com a Dona Maricota (ver postagem do dia 2 de novembro), e depois ela contou que havia aprendido com os pais dela sobre essa maneira inteligente de ir guardando um pouco sempre para depois poder contar com uma reserva adequada para as necessidades que a vida apresenta ou para as escolhas que podemos fazer quando temos tais reservas.
Não disse a ela, mas é importante ressaltar aqui que nem mesmo a maior crise dos últimos cem anos foi capaz de destruir o ganho proporcionado para aqueles que souberam ser sócios de boas empresas nos últimos anos. Tomemos como exemplo Itaúsa quatro anos atrás, a ação da "holding" que controla o banco Itaú, que custava R$ 2,40 e hoje, mesmo apanhando como gente grande, custa R$ 9,00 (chegou a valer R$ 11,75 meses antes). No caso das ações de Itaúsa, mais de 3,5 vezes o valor aplicado.
Vamos ver a Vale do Rio Doce, ação conhecidíssima dos investidores. Na mesma época do primeiro exemplo, custava R$ 9,70 e agora, devastada pelo terremoto mundial custa R$ 25,90. Essa variação é de 2,70 vezes sobre o valor inicial. Se eu pegar mais uma das conhecidas, a Petrobrás, dá algo muito parecido, R$9,00 com R$ 23,80 hoje, ou seja, 2,60 vezes.
Outras ações, de empresas menos famosas tiveram performances ainda melhores nesse mesmo período, tendo algumas delas criado novos milionários pelo mundo.
Mais impressionante ainda seria pegar as cotações de épocas de crise mais forte, como em 2002 onde o mundo acreditou que o Brasil iria naufragar após a eleição do presidente atual. Dá até vergonha de falar, então deixo para o leitor a tarefa de checar as cotações daquele ano e compará-las com as atuais, ainda que estejamos no fundo de uma nova crise.
Não é fácil fazer com que nossa mente tenha uma visão inovadora, de horizontes mais amplos sobre como devemos encarar a oportunidade de comprar uma participação societária em empresas de grande porte, talvez porque a maneira como muitos se aproveitam dessa oportunidade seja inadequada para um plano de longo prazo onde podemos construir uma reserva que nos permita fazer novas escolhas para a vida. É claro que esse é um tema que merece muito mais atenção. Voltarei a ele em breve.
Fiquei feliz que minha amiga já conhece o caminho, embora possa aprender muito ainda sobre como realizar essa jornada. Parece que certa mesmo está a Dona Baratinha, e deixo aqui minha homenagem a quem criou aquela historinha, pois no fundo é até instrutiva.~
E você, como está se preparando para essa jornada?
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