Impressionam-me as tantas dificuldades que nós temos em relação às coisas simples da vida, qualquer que seja o assunto. Parece que nós, seres humanos, ainda não aprendemos a lidar com os pensamentos que em vários campos da vida tentam nos levar para o desequilíbrio.
Por exemplo, eu gosto de nhoque de batatas. A cozinheira aqui em casa faz sempre misto, de batatas e de mandioquinha. Eu também gosto de mandioquinha, mas gosto mais ainda do nhoque de batatas, ainda que ela sempre faça o misto.
Cada vez que ela coloca a travessa cheia na mesa, eu começo a curtir o aroma e o visual daquela magnífica obra de arte (quando bem feita, é claro) e minha boca só não enche de saliva porque não dá tempo, eu logo mando a primeira garfada. O que ocorre depois é quase como um filme que se repete, vou comendo em ritmo acelerado porque a comida está muito gostosa, e meu organismo vai recebendo aquela quantidade em exagero que não dá nem a oportunidade para o cérebro notar os sinais químicos do sistema digestivo sobre a possível interrupção no ato de alimentar-me, dada a farta disponibilidade de energia ingerida nesse curto espaço de tempo.
Para piorar, soma-se à ansiedade (como se a comida fosse fugir do prato no instante seguinte), a gula, pensamento nefasto que se manifesta sempre que a minha mente não se antepõe ao mesmo, exibindo a notória marca de quem ainda não se livrou da forte influência do instinto na vida humana. O que isso tem de relação com nosso tema central? A clara distinção entre a necessidade real e a que nosso instinto quer impor, obviamente muito além do que seria a real. Podemos aplicar essa observação a qualquer aspecto de nossas vidas. Tomemos mais uma vez o mercado financeiro e nossa posição como investidor.
O que cada um de nós busca ao investir seus recursos financeiros? Já vi de tudo, desde o estressante comprar para vender no instante seguinte aos que ilusoriamente pensam que é só comprar qualquer coisa e esperar sentado. Vi também e aprendi a conhecer melhor as empresas, estar com as pessoas que administram a mesma e conhecer sua realidade, identificando as que merecem a nós como sócios. Penso que podemos resumir esse objetivo, o de como sócio, receber ao longo do tempo uma remuneração que além de proteger-nos da inflação possa também acrescentar um ganho real tal que resulte em um futuro financeiro no qual possamos colher os frutos do esforço de poupar que realizamos hoje. E qual seria esse rendimento ideal para alcançar tal objetivo? A princípio o de maior razão entre o retorno e o risco.
Não se pode pensar em aumentar os rendimentos sem participar da engrenagem que gera a riqueza em nosso país. Essa engrenagem é a economia real onde se agrega valor aos produtos básicos antes de oferecê-los à população, onde se transforma a capacidade intelectual em serviços prestados, onde os recursos naturais são explorados (quando feito adequadamente) e resultam em um país com muitas condições de seguir sua marcha de desenvolvimento e inclusão social. Ou depois dessa demonstração dos últimos anos alguém ainda acredita que inclusão social se faz com programas assistencialistas?
A ascensão de uma fatia enorme da população brasileira à categoria de consumidores se deve ao giro cada vez melhor dessa engrenagem mencionada, que ao mesmo tempo em que gera um grande número de empregos, lança os respectivos salários no mercado consumidor (e o ciclo se repete). Essa engrenagem se serve, dentre outras fontes, dos recursos de investidores que entendem ser um ótimo negócio ser sócio capitalista de uma boa empresa de capital aberto em Bolsa.
O conceito de ser sócio de uma boa e rentável empresa, ainda que a participação no seu capital social seja muito pequena, encerra muitos segredos que quando decifrados conceitualmente permitem movimentar-se nesse meio com muito mais inteligência e com melhores resultados.
Se alguém pretende acertar as ações que vão subir mais no futuro, lamento pela decepção que chegará, cedo ou tarde. Não precisamos tentar adivinhar e comprar as ações que vão subir mais, assim como sei que não preciso comer mais do que o necessário ainda que o nhoque esteja “dos deuses”. Sei que a tentação é por ter o máximo que pudermos, mas para ambos os casos, é melhor a escolha do equilíbrio, pois é o equilíbrio o que garante a boa saúde, tanto biológica como a financeira no caso da carteira de participações societárias.
Já falamos em postagens anteriores e temos ainda muito a falar sobre esses conceitos que envolvem “ser sócio de uma boa e rentável empresa”.
E sobre o brigadeiro? Um fato indiscutível é que o melhor brigadeiro do mundo é o de panela, com Leite Moça, a correta quantidade de Nescau (não adianta colocar “Toddy” ou algo similar) e uma pequena colher de manteiga. Mantenha o fogo baixo e mexa com a colher de pau durante todo o tempo. Quando ele tiver formado aquela consistência que “desgruda” do fundo, hora de desligar o fogo (não deixe passar desse ponto senão ele adquire aquele gosto de queimado). Nesse momento derrame o conteúdo em diversas xícaras ou potinhos e deixe a generosa porção na panela para comer com a colher. Ele esfria rápido. Agora que esfriou, esqueça o que eu disse no caso do nhoque. Cada um por si e quem puder garanta o seu!
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Quem quer casar com Dona Baratinha...
... que tem fita no cabelo e ações na caixinha?
Particularmente e sem deixar ninguém chateado eu digo que nunca gostei dessa história/música que em minha infância era tocada nem sei onde, talvez fosse um daqueles disquinhos que tocavam na vitrolinha que eu tinha. Se você não sabe o que é uma vitrola ou uma radiola, você é novo demais e não se divertiu ouvindo essa história musical da Dona Baratinha e outros hits da época, como “Nuvem passageira” e outros. A barata sempre foi um bicho asqueroso, desses que não merece nem sequer uma historinha musical, muito menos um que falasse de uma barata que guardava suas economias em uma caixinha e que por isso seria uma excelente “esposa”. Sinceramente, não sei quem criou algo assim.
Mas eis que me liga essa semana uma querida amiga e manifesta a surpresa de descobrir após uns sete anos de convívio, que eu trabalho na área financeira e especificamente com ações. Disse-lhe que fazia isso há mais de quinze anos. Primeira reflexão que fiz ao desligar o telefone depois de nossa agradável conversa foi a de que não posso deixar nenhum amigo às escuras sobre o que faço profissionalmente, pois posso perder a chance de colaborar com alguém que precise de ajuda, assim como penso que consegui fazer com ela nessa conversa.
Ela estava passando por uma época muito tensa, pois nos últimos anos guardou um dinheiro aqui e ali, na verdade se esforçando como uma batalhadora de primeiro escalão para gerar tais reservas. Contou que havia feito um tremendo ajuste nas contas e hábitos domésticos para que fossem possíveis as sobras, ajuste feito com a colaboração da família que conscientemente fazia um esforço com vistas a um futuro mais tranqüilo, e finalmente que nos últimos anos havia comprado ações com uma boa parte dessa reserva.
A carteira dela, baseada nos principais papéis da Bolsa, os chamados “blue chips”, acabaram apresentando uma excelente valorização ao longo dos anos que a deixou extremamente feliz e surpresa pelas possibilidades de ganho com ações. Ela vislumbrava essa possibilidade de que suas reservas lhe permitiriam ir mudando sua vida conforme seus objetivos e não mais conforme a necessidade se apresentasse. Estava certa.
Obviamente que as tais “blue chips”, que têm esse nome derivado das fichas (chips) usadas nas apostas em cassinos e no pôquer onde as de cor azul eram as de maior valor, não se comportaram como tal quando o tsunami da crise mundial passou pela Bovespa, e isso a deixou com a sensação de que poderia estar errada em relação a investir em ações, e que talvez até devesse vender tudo antes que não tivesse mais nada (já conhecemos esse pensamento em outras postagens, não é?). Na verdade ela não pensou isso, mas foi aconselhada por outra pessoa, certamente alguém ainda mais assustado do que ela.
Felizmente ela encontrou, antes de falar comigo, outro amigo em comum que entende de finanças e a aconselhou a não vender nada nesses preços, então estava preocupada, porém resoluta em manter as ações em carteira.
A conversa desenvolveu-se inicialmente na mesma linha da que tive com a Dona Maricota (ver postagem do dia 2 de novembro), e depois ela contou que havia aprendido com os pais dela sobre essa maneira inteligente de ir guardando um pouco sempre para depois poder contar com uma reserva adequada para as necessidades que a vida apresenta ou para as escolhas que podemos fazer quando temos tais reservas.
Não disse a ela, mas é importante ressaltar aqui que nem mesmo a maior crise dos últimos cem anos foi capaz de destruir o ganho proporcionado para aqueles que souberam ser sócios de boas empresas nos últimos anos. Tomemos como exemplo Itaúsa quatro anos atrás, a ação da "holding" que controla o banco Itaú, que custava R$ 2,40 e hoje, mesmo apanhando como gente grande, custa R$ 9,00 (chegou a valer R$ 11,75 meses antes). No caso das ações de Itaúsa, mais de 3,5 vezes o valor aplicado.
Vamos ver a Vale do Rio Doce, ação conhecidíssima dos investidores. Na mesma época do primeiro exemplo, custava R$ 9,70 e agora, devastada pelo terremoto mundial custa R$ 25,90. Essa variação é de 2,70 vezes sobre o valor inicial. Se eu pegar mais uma das conhecidas, a Petrobrás, dá algo muito parecido, R$9,00 com R$ 23,80 hoje, ou seja, 2,60 vezes.
Outras ações, de empresas menos famosas tiveram performances ainda melhores nesse mesmo período, tendo algumas delas criado novos milionários pelo mundo.
Mais impressionante ainda seria pegar as cotações de épocas de crise mais forte, como em 2002 onde o mundo acreditou que o Brasil iria naufragar após a eleição do presidente atual. Dá até vergonha de falar, então deixo para o leitor a tarefa de checar as cotações daquele ano e compará-las com as atuais, ainda que estejamos no fundo de uma nova crise.
Não é fácil fazer com que nossa mente tenha uma visão inovadora, de horizontes mais amplos sobre como devemos encarar a oportunidade de comprar uma participação societária em empresas de grande porte, talvez porque a maneira como muitos se aproveitam dessa oportunidade seja inadequada para um plano de longo prazo onde podemos construir uma reserva que nos permita fazer novas escolhas para a vida. É claro que esse é um tema que merece muito mais atenção. Voltarei a ele em breve.
Fiquei feliz que minha amiga já conhece o caminho, embora possa aprender muito ainda sobre como realizar essa jornada. Parece que certa mesmo está a Dona Baratinha, e deixo aqui minha homenagem a quem criou aquela historinha, pois no fundo é até instrutiva.~
E você, como está se preparando para essa jornada?
Particularmente e sem deixar ninguém chateado eu digo que nunca gostei dessa história/música que em minha infância era tocada nem sei onde, talvez fosse um daqueles disquinhos que tocavam na vitrolinha que eu tinha. Se você não sabe o que é uma vitrola ou uma radiola, você é novo demais e não se divertiu ouvindo essa história musical da Dona Baratinha e outros hits da época, como “Nuvem passageira” e outros. A barata sempre foi um bicho asqueroso, desses que não merece nem sequer uma historinha musical, muito menos um que falasse de uma barata que guardava suas economias em uma caixinha e que por isso seria uma excelente “esposa”. Sinceramente, não sei quem criou algo assim.
Mas eis que me liga essa semana uma querida amiga e manifesta a surpresa de descobrir após uns sete anos de convívio, que eu trabalho na área financeira e especificamente com ações. Disse-lhe que fazia isso há mais de quinze anos. Primeira reflexão que fiz ao desligar o telefone depois de nossa agradável conversa foi a de que não posso deixar nenhum amigo às escuras sobre o que faço profissionalmente, pois posso perder a chance de colaborar com alguém que precise de ajuda, assim como penso que consegui fazer com ela nessa conversa.
Ela estava passando por uma época muito tensa, pois nos últimos anos guardou um dinheiro aqui e ali, na verdade se esforçando como uma batalhadora de primeiro escalão para gerar tais reservas. Contou que havia feito um tremendo ajuste nas contas e hábitos domésticos para que fossem possíveis as sobras, ajuste feito com a colaboração da família que conscientemente fazia um esforço com vistas a um futuro mais tranqüilo, e finalmente que nos últimos anos havia comprado ações com uma boa parte dessa reserva.
A carteira dela, baseada nos principais papéis da Bolsa, os chamados “blue chips”, acabaram apresentando uma excelente valorização ao longo dos anos que a deixou extremamente feliz e surpresa pelas possibilidades de ganho com ações. Ela vislumbrava essa possibilidade de que suas reservas lhe permitiriam ir mudando sua vida conforme seus objetivos e não mais conforme a necessidade se apresentasse. Estava certa.
Obviamente que as tais “blue chips”, que têm esse nome derivado das fichas (chips) usadas nas apostas em cassinos e no pôquer onde as de cor azul eram as de maior valor, não se comportaram como tal quando o tsunami da crise mundial passou pela Bovespa, e isso a deixou com a sensação de que poderia estar errada em relação a investir em ações, e que talvez até devesse vender tudo antes que não tivesse mais nada (já conhecemos esse pensamento em outras postagens, não é?). Na verdade ela não pensou isso, mas foi aconselhada por outra pessoa, certamente alguém ainda mais assustado do que ela.
Felizmente ela encontrou, antes de falar comigo, outro amigo em comum que entende de finanças e a aconselhou a não vender nada nesses preços, então estava preocupada, porém resoluta em manter as ações em carteira.
A conversa desenvolveu-se inicialmente na mesma linha da que tive com a Dona Maricota (ver postagem do dia 2 de novembro), e depois ela contou que havia aprendido com os pais dela sobre essa maneira inteligente de ir guardando um pouco sempre para depois poder contar com uma reserva adequada para as necessidades que a vida apresenta ou para as escolhas que podemos fazer quando temos tais reservas.
Não disse a ela, mas é importante ressaltar aqui que nem mesmo a maior crise dos últimos cem anos foi capaz de destruir o ganho proporcionado para aqueles que souberam ser sócios de boas empresas nos últimos anos. Tomemos como exemplo Itaúsa quatro anos atrás, a ação da "holding" que controla o banco Itaú, que custava R$ 2,40 e hoje, mesmo apanhando como gente grande, custa R$ 9,00 (chegou a valer R$ 11,75 meses antes). No caso das ações de Itaúsa, mais de 3,5 vezes o valor aplicado.
Vamos ver a Vale do Rio Doce, ação conhecidíssima dos investidores. Na mesma época do primeiro exemplo, custava R$ 9,70 e agora, devastada pelo terremoto mundial custa R$ 25,90. Essa variação é de 2,70 vezes sobre o valor inicial. Se eu pegar mais uma das conhecidas, a Petrobrás, dá algo muito parecido, R$9,00 com R$ 23,80 hoje, ou seja, 2,60 vezes.
Outras ações, de empresas menos famosas tiveram performances ainda melhores nesse mesmo período, tendo algumas delas criado novos milionários pelo mundo.
Mais impressionante ainda seria pegar as cotações de épocas de crise mais forte, como em 2002 onde o mundo acreditou que o Brasil iria naufragar após a eleição do presidente atual. Dá até vergonha de falar, então deixo para o leitor a tarefa de checar as cotações daquele ano e compará-las com as atuais, ainda que estejamos no fundo de uma nova crise.
Não é fácil fazer com que nossa mente tenha uma visão inovadora, de horizontes mais amplos sobre como devemos encarar a oportunidade de comprar uma participação societária em empresas de grande porte, talvez porque a maneira como muitos se aproveitam dessa oportunidade seja inadequada para um plano de longo prazo onde podemos construir uma reserva que nos permita fazer novas escolhas para a vida. É claro que esse é um tema que merece muito mais atenção. Voltarei a ele em breve.
Fiquei feliz que minha amiga já conhece o caminho, embora possa aprender muito ainda sobre como realizar essa jornada. Parece que certa mesmo está a Dona Baratinha, e deixo aqui minha homenagem a quem criou aquela historinha, pois no fundo é até instrutiva.~
E você, como está se preparando para essa jornada?
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sábado, 13 de dezembro de 2008
O bobo e a corte do rei
Como sempre fazemos, é costume observar os demais com o objetivo de aprender algo que nos permita melhorar ou como acontece também, apenas ter um pouco da diversão oferecida pelos demais.
Na última vez que fui esquiar, enquanto descia a montanha observei alguns esquiadores com um gorro ao estilo "bobo da corte", você sabe aquele chapéu colorido, com várias pontas, eventualmente com guizos ou outros ornamentos em cada uma delas. Imagino que fosse para divertir o resto dos esquiadores, pois não pensei em nenhuma outra explicação. Divertia-me ver aquelas figuras passarem com aquilo na cabeça.
Recordei dos tantos filmes e peças que representaram essa figura do “bufão”, misto de um alegre e cômico poeta com um debochado observador das peculiaridades das cortes e dos reis, figura até musical, que divertia a casta nobre e a própria alteza, falando verdades e bobagens que ninguém tinha coragem de dizer àqueles que teoricamente eram os mais inteligentes e capazes da região.
Resumindo, temos de um lado, o bobo, que era aquele que seduzia os que do outro lado, sendo supostamente mais capazes, eram mantidos em um estado de contínua embriaguez psicológica enquanto por muitas vezes o tal do bobo se aproveitava da proximidade com a família real para seu próprio benefício.
Apresento-lhes Bernard Madoff, se é que vocês todos já não leram sobre a recém-descoberta fraude por trás de uma grande firma de gestão de fundos de investimento de Nova Iorque da qual ele era o dono. Não vou descrever o que todos já sabem, apenas recordar que era uma firma que estava no mercado desde a década de sessenta, com quase cinqüenta bilhões de dólares sob suas asas, com um gama enorme de clientes, desde pessoas físicas de muita riqueza a outros fundos e instituições financeiras do mundo todo.
Talvez o mais interessante dessa triste epopéia seja o fato de sua fraude ser a imagem perfeita daqueles golpes estilo “pirâmide”, ou seja, quando os que vêm em maior número vão sustentando os de cima, em um ciclo que pode ser ampliado indefinidamente até que não haja mais quem colocar embaixo, deixando à mostra o enorme buraco do esquema. Tinha uma empresa americana usando um modelo desses, vendendo produtos para o lar que chegou a ser uma febre aqui no Brasil uns dez ou mais anos atrás. Pois é, ele rentabilizava os de cima com o dinheiro dos de baixo, ou algo bem parecido com isso.
Incrível pensar como uma empresa desse tamanho pode manter tanta gente séria sendo enganada por tanto tempo. Mas tem explicação. Os rendimentos altos para o padrão da indústria americana de fundos, repetidos ano após ano sem que o gestor desse nenhuma explicação real de como obtinha tais ganhos nem divulgasse a composição das carteiras dos fundos eram condições que embora esquisitas como fossem não conseguiam diminuir a embriaguez causada pelos bons ganhos financeiros. Justifica-se o não justificável com um retorno do tipo “cala a boca”.
Tem gosto pra tudo, inclusive para o tipo de investidor que não se importa em conhecer como pensa o gestor de um fundo e conhecer como ele tem feito para entregar os resultados passados. Importam-se apenas em olhar a cota mensal e compará-la com os demais fundos, muitas vezes pulando de um fundo para outro, perseguindo a “cota perfeita”, mas sempre com atraso. É o mesmo pensamento daquele que fica mudando de fila no pedágio ou nos caixas do supermercado, sempre com a sensação de que tem que ser o primeiro, o melhor em qualquer ocasião, não admitindo que sua fila ande menos que a do outro. Você riu porque se lembrou de alguma ocasião que fez o mesmo? Tudo bem, nós ainda estamos lutando contra essa influência lamentável de nosso instinto.
Espero que o investidor que ainda esteja vivendo essa dificuldade, o faça apenas em supermercados ou nos pedágios, e que para seus investimentos conheça profundamente a visão que norteia o gestor, conheça bem seus pensamentos, seus objetivos e especialmente conheça-o pessoalmente, que possa estar com ele algumas vezes ao ano, olhando em seu olho para confirmar que ele cuida de seus recursos como cuida dos próprios. O tal do Madoff foi preso pelo FBI na 6ª feira passada. O triste não é os mais de 20 anos de cadeia que ele vai pegar mas sim o desespero de muitos que embriagados pelos vários anos de misteriosos bons resultados, haviam aplicado todos os recursos pessoais com ele.
Não existe ganho fácil, nem rápido e nem devagar, isso todos aprendem cedo ou tarde.
Fica para cada um a reflexão de quantas vezes somos tentados ao fácil. Se uma coisa eu aprendi nesses mais de quinze anos de mercado financeiro foi lutar continuamente contra esse pensamento que nos faz ver o bobo e achar graça, nos faz rir de suas perigosas melodias que enquanto seduzem, nos deixam embriagados. E se em algum momento nos descuidamos, pergunto:
- Quem é o bobo da corte?
Na última vez que fui esquiar, enquanto descia a montanha observei alguns esquiadores com um gorro ao estilo "bobo da corte", você sabe aquele chapéu colorido, com várias pontas, eventualmente com guizos ou outros ornamentos em cada uma delas. Imagino que fosse para divertir o resto dos esquiadores, pois não pensei em nenhuma outra explicação. Divertia-me ver aquelas figuras passarem com aquilo na cabeça.
Recordei dos tantos filmes e peças que representaram essa figura do “bufão”, misto de um alegre e cômico poeta com um debochado observador das peculiaridades das cortes e dos reis, figura até musical, que divertia a casta nobre e a própria alteza, falando verdades e bobagens que ninguém tinha coragem de dizer àqueles que teoricamente eram os mais inteligentes e capazes da região.
Resumindo, temos de um lado, o bobo, que era aquele que seduzia os que do outro lado, sendo supostamente mais capazes, eram mantidos em um estado de contínua embriaguez psicológica enquanto por muitas vezes o tal do bobo se aproveitava da proximidade com a família real para seu próprio benefício.
Apresento-lhes Bernard Madoff, se é que vocês todos já não leram sobre a recém-descoberta fraude por trás de uma grande firma de gestão de fundos de investimento de Nova Iorque da qual ele era o dono. Não vou descrever o que todos já sabem, apenas recordar que era uma firma que estava no mercado desde a década de sessenta, com quase cinqüenta bilhões de dólares sob suas asas, com um gama enorme de clientes, desde pessoas físicas de muita riqueza a outros fundos e instituições financeiras do mundo todo.
Talvez o mais interessante dessa triste epopéia seja o fato de sua fraude ser a imagem perfeita daqueles golpes estilo “pirâmide”, ou seja, quando os que vêm em maior número vão sustentando os de cima, em um ciclo que pode ser ampliado indefinidamente até que não haja mais quem colocar embaixo, deixando à mostra o enorme buraco do esquema. Tinha uma empresa americana usando um modelo desses, vendendo produtos para o lar que chegou a ser uma febre aqui no Brasil uns dez ou mais anos atrás. Pois é, ele rentabilizava os de cima com o dinheiro dos de baixo, ou algo bem parecido com isso.
Incrível pensar como uma empresa desse tamanho pode manter tanta gente séria sendo enganada por tanto tempo. Mas tem explicação. Os rendimentos altos para o padrão da indústria americana de fundos, repetidos ano após ano sem que o gestor desse nenhuma explicação real de como obtinha tais ganhos nem divulgasse a composição das carteiras dos fundos eram condições que embora esquisitas como fossem não conseguiam diminuir a embriaguez causada pelos bons ganhos financeiros. Justifica-se o não justificável com um retorno do tipo “cala a boca”.
Tem gosto pra tudo, inclusive para o tipo de investidor que não se importa em conhecer como pensa o gestor de um fundo e conhecer como ele tem feito para entregar os resultados passados. Importam-se apenas em olhar a cota mensal e compará-la com os demais fundos, muitas vezes pulando de um fundo para outro, perseguindo a “cota perfeita”, mas sempre com atraso. É o mesmo pensamento daquele que fica mudando de fila no pedágio ou nos caixas do supermercado, sempre com a sensação de que tem que ser o primeiro, o melhor em qualquer ocasião, não admitindo que sua fila ande menos que a do outro. Você riu porque se lembrou de alguma ocasião que fez o mesmo? Tudo bem, nós ainda estamos lutando contra essa influência lamentável de nosso instinto.
Espero que o investidor que ainda esteja vivendo essa dificuldade, o faça apenas em supermercados ou nos pedágios, e que para seus investimentos conheça profundamente a visão que norteia o gestor, conheça bem seus pensamentos, seus objetivos e especialmente conheça-o pessoalmente, que possa estar com ele algumas vezes ao ano, olhando em seu olho para confirmar que ele cuida de seus recursos como cuida dos próprios. O tal do Madoff foi preso pelo FBI na 6ª feira passada. O triste não é os mais de 20 anos de cadeia que ele vai pegar mas sim o desespero de muitos que embriagados pelos vários anos de misteriosos bons resultados, haviam aplicado todos os recursos pessoais com ele.
Não existe ganho fácil, nem rápido e nem devagar, isso todos aprendem cedo ou tarde.
Fica para cada um a reflexão de quantas vezes somos tentados ao fácil. Se uma coisa eu aprendi nesses mais de quinze anos de mercado financeiro foi lutar continuamente contra esse pensamento que nos faz ver o bobo e achar graça, nos faz rir de suas perigosas melodias que enquanto seduzem, nos deixam embriagados. E se em algum momento nos descuidamos, pergunto:
- Quem é o bobo da corte?
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Deus era brasileiro. Ainda é?
Ainda nem esfriou a outra postagem sobre Deus ser ou não brasileiro (ver postagem de 27/outubro), já comecei a ouvir novos comentários nos meios de comunicação sobre nossa acelerada caminhada para juntarmo-nos ao time dos países condenados, já que a crise não só chegou à nossas terras como causou os primeiros estragos. Será que Deus não era mesmo brasileiro?
Apenas nas últimas três semanas, a quantidade de dados econômicos e entrevistas publicadas dão o correto tom do ambiente mental em que submergimos, o que não é para surpreender ninguém que acompanhe com atenção o que acontece na economia real. Mas volto a repetir, ficou muito forte no mundo mental o pensamento do pessimismo. O que temos para apresentar em contrário? Algumas observações daquelas que provam a regra do "eu só vejo o que quero, ou o que os pensamentos me mandam ver".
Ligaram-me alguns clientes e amigos nos últimos dez dias com o discurso que o mercado estava cada dia pior, que não aguentam mais ver o mercado cair, que parecia não ter fim o sofrimento, e etc. Vou ser sincero, eu tive a mesma sensação de que o mercado estava piorando nas últimas semanas e que vinha caindo mais ainda, até que fui aos gráficos e tabelas históricas para saber o quanto daquela sensação estava estampada nos preços. Conclusão? Fazia quase dois meses que a Bovespa oscilava bastante mas não saia do patamar dos 35 mil pontos (não que esse patamar queira dizer algo), ou seja, nos últimos dois meses não só os preços não mais se deterioraram como estavam ainda querendo recuperar algum terreno, o que algumas ações conseguiram fazer timidamente à custa de outras, é claro.
Foram nessas últimas semanas que vieram à tona alguns dos piores indicadores econômicos que o mundo viu na atualidade, alguns deles rivalizando com crises já centenárias. Foi nesse mesmo período que "caiu a ficha" para a maior parte dos brasileiros. Então o que aconteceu para a manutenção desse patamar e que ainda permitiu a recuperação desses últimos dias?
Simples. Não se esqueça do que você ouviu quando era criança, que a Bolsa sobe no boato e cai no fato. Ora, se isso é verdade para um mercado que opera entre outras coisas, expectativas, o oposto precisa ser verdadeiro, e assim sendo, é sensato afirmar que o movimento que segurou a Bovespa naquele patamar por quase dois meses, impedindo uma queda maior, é o resultado de uma mudança, ainda que contida, no foco do observador, que deixou de olhar para os próximos seis meses e passou a mirar o segundo semestre de 2009 e adiante.
Não se embriague com o perfume doce desse otimismo em relação ao futuro pós seis meses, ele é sensato e fruto de uma análise realista, mas o mercado ainda sofrerá a pressão vendedora de muitos outros indicadores que serão divulgados nos próximos meses, tanto os de economia como os de resultado das empresas. Ué, agora te confundi, né? É para ser otimista ou pessimista?
É para ser realista, é para manter o rumo traçado e o olho na bússola. Vamos ter ainda muitas trovoadas, vamos ter mais encrencas nas economias reais dos países desenvolvidos e algumas na nossa, mas uma coisa ninguém pode esquecer. O mundo nunca realizou uma ação coordenada que lembrasse em pequeno esse gigante esforço governamental que estamos vendo nos quatro cantos. Nunca se planejou ou se preparou uma injeção de dinheiro novo como o que está sendo introduzido a partir de agora (muitos dos pacotes anunciados demorarão meses para serem aplicados efetivamente).
Ninguém sabe ao certo as consequências que essa montanha de dinheiro, direto e indireto, terá quando a crise passar. Talvez gere uma crise oposta, trazendo a necessidade de outras medidas para lidar, por exemplo, com o endividamento público que aumentará em muitos países agora. Outros problemas serão apontados e enfrentados oportunamente.
E se não bastassem as boas perspectivas para o longo prazo, para pós-crise, de quando em quando somos brindados com uma injeção de segurança, de sensatez e honestidade para com o povo brasileiro.
Estou falando do COPOM, que mais uma vez resistiu à bravata dos mentecaptos que não se cansam de pedir a queda do juro, como se a alta taxa com a qual o governo remunera o dinheiro que toma emprestado do mercado fosse fruto da má intenção de alguém. Parabéns aos membros do COPOM, que com essas atuações corretas, de acordo com o mandato que o povo avalizou, tem permitido que o país continue a gozar da boa reputação financeira e creditícia que tem.
Quem ainda duvidava se Deus era mesmo brasileiro, não tenha mais dúvidas. Ele não só é brasileiro como tem assento e direito a voto no COPOM!
Apenas nas últimas três semanas, a quantidade de dados econômicos e entrevistas publicadas dão o correto tom do ambiente mental em que submergimos, o que não é para surpreender ninguém que acompanhe com atenção o que acontece na economia real. Mas volto a repetir, ficou muito forte no mundo mental o pensamento do pessimismo. O que temos para apresentar em contrário? Algumas observações daquelas que provam a regra do "eu só vejo o que quero, ou o que os pensamentos me mandam ver".
Ligaram-me alguns clientes e amigos nos últimos dez dias com o discurso que o mercado estava cada dia pior, que não aguentam mais ver o mercado cair, que parecia não ter fim o sofrimento, e etc. Vou ser sincero, eu tive a mesma sensação de que o mercado estava piorando nas últimas semanas e que vinha caindo mais ainda, até que fui aos gráficos e tabelas históricas para saber o quanto daquela sensação estava estampada nos preços. Conclusão? Fazia quase dois meses que a Bovespa oscilava bastante mas não saia do patamar dos 35 mil pontos (não que esse patamar queira dizer algo), ou seja, nos últimos dois meses não só os preços não mais se deterioraram como estavam ainda querendo recuperar algum terreno, o que algumas ações conseguiram fazer timidamente à custa de outras, é claro.
Foram nessas últimas semanas que vieram à tona alguns dos piores indicadores econômicos que o mundo viu na atualidade, alguns deles rivalizando com crises já centenárias. Foi nesse mesmo período que "caiu a ficha" para a maior parte dos brasileiros. Então o que aconteceu para a manutenção desse patamar e que ainda permitiu a recuperação desses últimos dias?
Simples. Não se esqueça do que você ouviu quando era criança, que a Bolsa sobe no boato e cai no fato. Ora, se isso é verdade para um mercado que opera entre outras coisas, expectativas, o oposto precisa ser verdadeiro, e assim sendo, é sensato afirmar que o movimento que segurou a Bovespa naquele patamar por quase dois meses, impedindo uma queda maior, é o resultado de uma mudança, ainda que contida, no foco do observador, que deixou de olhar para os próximos seis meses e passou a mirar o segundo semestre de 2009 e adiante.
Não se embriague com o perfume doce desse otimismo em relação ao futuro pós seis meses, ele é sensato e fruto de uma análise realista, mas o mercado ainda sofrerá a pressão vendedora de muitos outros indicadores que serão divulgados nos próximos meses, tanto os de economia como os de resultado das empresas. Ué, agora te confundi, né? É para ser otimista ou pessimista?
É para ser realista, é para manter o rumo traçado e o olho na bússola. Vamos ter ainda muitas trovoadas, vamos ter mais encrencas nas economias reais dos países desenvolvidos e algumas na nossa, mas uma coisa ninguém pode esquecer. O mundo nunca realizou uma ação coordenada que lembrasse em pequeno esse gigante esforço governamental que estamos vendo nos quatro cantos. Nunca se planejou ou se preparou uma injeção de dinheiro novo como o que está sendo introduzido a partir de agora (muitos dos pacotes anunciados demorarão meses para serem aplicados efetivamente).
Ninguém sabe ao certo as consequências que essa montanha de dinheiro, direto e indireto, terá quando a crise passar. Talvez gere uma crise oposta, trazendo a necessidade de outras medidas para lidar, por exemplo, com o endividamento público que aumentará em muitos países agora. Outros problemas serão apontados e enfrentados oportunamente.
E se não bastassem as boas perspectivas para o longo prazo, para pós-crise, de quando em quando somos brindados com uma injeção de segurança, de sensatez e honestidade para com o povo brasileiro.
Estou falando do COPOM, que mais uma vez resistiu à bravata dos mentecaptos que não se cansam de pedir a queda do juro, como se a alta taxa com a qual o governo remunera o dinheiro que toma emprestado do mercado fosse fruto da má intenção de alguém. Parabéns aos membros do COPOM, que com essas atuações corretas, de acordo com o mandato que o povo avalizou, tem permitido que o país continue a gozar da boa reputação financeira e creditícia que tem.
Quem ainda duvidava se Deus era mesmo brasileiro, não tenha mais dúvidas. Ele não só é brasileiro como tem assento e direito a voto no COPOM!
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terça-feira, 2 de dezembro de 2008
O efeito "paralaxe" (Parte II)
(a parte I dessa postagem encontra-se logo abaixo, nesta mesma página)
Voltamos à imagem da paralaxe medindo a distância das estrelas e aplicamos o modelo ao mercado financeiro, especificamente à precificação das ações de empresas com capital aberto em Bolsa de Valores.
Sobre o pano de fundo contra o qual o observador mede a posição das estrelas, eu pergunto: você tem olhado para o céu noturno em sua cidade? Em caso afirmativo, o que tem visto? Se você respondeu que não tem visto muita coisa porque a luminosidade e poluição são impeditivos, eu lamento por nós todos e o máximo que posso aconselhar é uma viagem no próximo fim-de-semana. Ainda assim, nenhum de nós pode afirmar que pelo fato de não estar visível aos nossos olhos, não significa que o céu não tem aquele montão de estrelas que costumam aparecer nos documentários televisivos.
Uma analogia para a nossa análise financeira é possível. Nosso pano de fundo são os outros 6,6 bilhões de seres que habitam a Terra, número difícil de imaginar mas ainda grande o suficiente para impressionar qualquer um que resolva fazer uma conta para quantificar o que ocorre todo dia. Imaginem que esse povo todo consome algo, seja energia, alimentos, roupas, eletrônicos, serviços, móveis, automóveis, lazer, livros, educação, serviços de saúde, serviços de telecomunicação, tele e rádio difusão, etc. Sei que muitos deles não tem acesso a todos os itens acima, mesmo porque, se tivessem nós estaríamos enfrentando literalmente uma guerra global por produtos e recursos naturais, do tipo das que já ocorrem hoje em menor escala. Pois é, não importa se a crise é grande ou pequena, qualquer que seja, sucumbirá cedo ou tarde ao poder de consumo dessa massa. Ou então voltamos à "barbárie" do mundo das cavernas e cada um cuide de caçar sua própria comida.
As estrelas da nossa imagem são as empresas e suas respectivas ações, precificadas diariamente na Bolsa de Valores. Lembre-se que o estudo pela paralaxe exige que o observador faça suas marcações em duas posições diferentes porém conhecidas. Diremos que tomaremos a primeira medida na posição de quem observa apenas o preço de negociação de cada uma das ações atualmente. O preço por si mesmo não diz nada, apenas reflete o equilíbrio, ou falta dele, na oferta e demanda pelo ativo financeiro. Se recordamos que o essa oferta e procura se dá em virtude da disponibilidade de dinheiro no sistema, concluímos que o preço negociado em Bolsa apenas reflete o preço para a liquidação daquele ativo e sucessivo recebimento dos recursos equivalentes.
Na posição em que tomaremos a outra medida de distância encontramos a compreensão sobre o quanto a empresa e o setor no qual ela se insere foram e serão afetados pela crise atual. Obviamente que essa tarefa não é fácil, mas contamos, além de com nosso próprio conhecimento e experiência, com a grande quantidade de modelos aplicados por grandes e pequenos bancos, que fazem dezenas de análises cada um para tentar prever como será o comportamento de cada empresa dada uma nova condição econômica. O trabalho de ler e filtrar cada um desses relatórios é imenso, mas no final do processo, que se repete continuamente, é possível, quando se avalia um prazo de cinco anos ou mais, mensurar com alguma segurança o que essa empresa vai ter de oportunidades e desafios, e o consequente resultado financeiro para seus acionistas.
Finalmente temos a resultante da diferença entre as duas medições realizadas, e chegamos ao ponto final da aplicação do modelo.
Para avaliar quais empresas queremos ser sócios para o longo prazo utilizamos a visão que é conhecida como value investing, ou seja, a busca por ações que estejam sendo negociadas à preços inferiores ao seu valor intrínseco. Em outras palavras, oportunidades que se apresentam na diferença entre o preço praticado para aquela ação e o preço que a mesma vale como fração do "todo" que ela representa. O problema sobre essa medida é estimar o real valor intrínseco, e para ser mais preciso, afirmo que não pode haver um valor intrínseco real que seja único ou uma verdade absoluta, pois esse valor é sempre o resultado da avaliação que cada um faz, tanto dos ativos e passivos atuais , como do futuro fluxo de caixa da empresa. Alguns investidores tendem a atribuir maior peso para os ativos e passivos atuais do que ao fluxo de caixa futuro, alguns fazem o oposto e ainda existem os que consideram ambos.
O certo é que muitas ações de boas empresas estão em preços de barganha e estão em um ótimo ponto de entrada , não preciso falar das mais conhecidas que estão nessa condição, e se fosse falar das menos conhecidas, mas não menos interessantes, precisaria de algumas páginas. Simples, não? Espero que a paralaxe aplicada ao mercado tenha gerado várias reflexões e que você tenha chegado a boas conclusões.
Obs.: Sem consultar a internet ou a pessoa do lado, responda à nova enquete sobre as estrelas que está lá em cima, no lado direito desta postagem.
Voltamos à imagem da paralaxe medindo a distância das estrelas e aplicamos o modelo ao mercado financeiro, especificamente à precificação das ações de empresas com capital aberto em Bolsa de Valores.
Sobre o pano de fundo contra o qual o observador mede a posição das estrelas, eu pergunto: você tem olhado para o céu noturno em sua cidade? Em caso afirmativo, o que tem visto? Se você respondeu que não tem visto muita coisa porque a luminosidade e poluição são impeditivos, eu lamento por nós todos e o máximo que posso aconselhar é uma viagem no próximo fim-de-semana. Ainda assim, nenhum de nós pode afirmar que pelo fato de não estar visível aos nossos olhos, não significa que o céu não tem aquele montão de estrelas que costumam aparecer nos documentários televisivos.
Uma analogia para a nossa análise financeira é possível. Nosso pano de fundo são os outros 6,6 bilhões de seres que habitam a Terra, número difícil de imaginar mas ainda grande o suficiente para impressionar qualquer um que resolva fazer uma conta para quantificar o que ocorre todo dia. Imaginem que esse povo todo consome algo, seja energia, alimentos, roupas, eletrônicos, serviços, móveis, automóveis, lazer, livros, educação, serviços de saúde, serviços de telecomunicação, tele e rádio difusão, etc. Sei que muitos deles não tem acesso a todos os itens acima, mesmo porque, se tivessem nós estaríamos enfrentando literalmente uma guerra global por produtos e recursos naturais, do tipo das que já ocorrem hoje em menor escala. Pois é, não importa se a crise é grande ou pequena, qualquer que seja, sucumbirá cedo ou tarde ao poder de consumo dessa massa. Ou então voltamos à "barbárie" do mundo das cavernas e cada um cuide de caçar sua própria comida.
As estrelas da nossa imagem são as empresas e suas respectivas ações, precificadas diariamente na Bolsa de Valores. Lembre-se que o estudo pela paralaxe exige que o observador faça suas marcações em duas posições diferentes porém conhecidas. Diremos que tomaremos a primeira medida na posição de quem observa apenas o preço de negociação de cada uma das ações atualmente. O preço por si mesmo não diz nada, apenas reflete o equilíbrio, ou falta dele, na oferta e demanda pelo ativo financeiro. Se recordamos que o essa oferta e procura se dá em virtude da disponibilidade de dinheiro no sistema, concluímos que o preço negociado em Bolsa apenas reflete o preço para a liquidação daquele ativo e sucessivo recebimento dos recursos equivalentes.
Na posição em que tomaremos a outra medida de distância encontramos a compreensão sobre o quanto a empresa e o setor no qual ela se insere foram e serão afetados pela crise atual. Obviamente que essa tarefa não é fácil, mas contamos, além de com nosso próprio conhecimento e experiência, com a grande quantidade de modelos aplicados por grandes e pequenos bancos, que fazem dezenas de análises cada um para tentar prever como será o comportamento de cada empresa dada uma nova condição econômica. O trabalho de ler e filtrar cada um desses relatórios é imenso, mas no final do processo, que se repete continuamente, é possível, quando se avalia um prazo de cinco anos ou mais, mensurar com alguma segurança o que essa empresa vai ter de oportunidades e desafios, e o consequente resultado financeiro para seus acionistas.
Finalmente temos a resultante da diferença entre as duas medições realizadas, e chegamos ao ponto final da aplicação do modelo.
Para avaliar quais empresas queremos ser sócios para o longo prazo utilizamos a visão que é conhecida como value investing, ou seja, a busca por ações que estejam sendo negociadas à preços inferiores ao seu valor intrínseco. Em outras palavras, oportunidades que se apresentam na diferença entre o preço praticado para aquela ação e o preço que a mesma vale como fração do "todo" que ela representa. O problema sobre essa medida é estimar o real valor intrínseco, e para ser mais preciso, afirmo que não pode haver um valor intrínseco real que seja único ou uma verdade absoluta, pois esse valor é sempre o resultado da avaliação que cada um faz, tanto dos ativos e passivos atuais , como do futuro fluxo de caixa da empresa. Alguns investidores tendem a atribuir maior peso para os ativos e passivos atuais do que ao fluxo de caixa futuro, alguns fazem o oposto e ainda existem os que consideram ambos.
O certo é que muitas ações de boas empresas estão em preços de barganha e estão em um ótimo ponto de entrada , não preciso falar das mais conhecidas que estão nessa condição, e se fosse falar das menos conhecidas, mas não menos interessantes, precisaria de algumas páginas. Simples, não? Espero que a paralaxe aplicada ao mercado tenha gerado várias reflexões e que você tenha chegado a boas conclusões.
Obs.: Sem consultar a internet ou a pessoa do lado, responda à nova enquete sobre as estrelas que está lá em cima, no lado direito desta postagem.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O "efeito paralaxe" e o mercado financeiro (Parte I)
Minha ausência nestes últimos dias deveu-se a um merecido período de férias em Muro Alto-PE. Se você ainda não visitou essa praia próxima de minha cidade natal, Recife, não sabe o que o Brasil tem de melhor. Mas como dizem por aí, há males que vêm para o bem...
Procuro sempre ter um livro à mão quando viajo, ou para as incansáveis horas de espera em aeroportos quando viajo a negócios ou para justificar uma longa pausa para degustar um charuto após o jantar, especialmente se o local for de generosa beleza e de clima agradável. Foi o caso do destino escolhido. Levei entre outras literaturas o sensacional Guia Ilustrado Zahar "Astronomia" que comprei acidentalmente um tempo atrás enquanto esperava um amigo no shopping. Ele se parece com aqueles também ótimos guias de turismo, plenamente ilustrados, editados pela DK e que provavelmente você tem ao menos um exemplar em casa. Se ainda não tem, o de turismo, o terá um dia.
O de Astronomia foi a melhor compra dos últimos anos,vale cada centavo de seu preço, pois contempla em um único volume, a medida exata do que um leigo como eu precisa saber sobre o universo, as teorias sobre sua origem, os fenômenos conhecidos, o sistema solar, e uma extensa parte sobre o céu noturno que podemos observar (sim, sei que aqui na cidade não se vê quase nada, mas você entendeu o sentido da frase). Talvez até te estimule a fazer uma viagem à Monte Verde ou outro lugar agradável de céu noturno escuro e estrelado.
O livro começa narrando uma breve história da astronomia, que com razão foi chamada da mais antiga das ciências. Desde a aurora da civilização o homem se esforça para compreender os complexos movimentos dos corpos celestes e suas relações com a nossa Terra, o que imagino ser sinal inequívoco da onipresente sensação de que precisamos entender qual é o nosso lugar no universo, na Criação, de que precisamos responder o porquê de nossa existência e acima de tudo, a busca pela marca divina de nossa existência humana. (Nesse momento eu fiz uma pausa longa e reli essas linhas acima algumas vezes, sugiro que faça o mesmo antes de continuar). Tenho a sensação que poderíamos parar por aqui e teria valido muito fazer essas reflexões e pensar um pouco sobre esses temas, afinal, se não formos pegos de surpresa assim os assuntos do dia-a-dia não permitem tais sensações, certo? Mas vamos voltar de nossa viagem e seguir o assunto enunciado.
Entre outras tantas revelações que me deixaram de boca aberta frente ao colosso que é nosso universo, me deparei com conceitos muito interessantes, primordialmente aplicados na astronomia e astro-física mas que podem ser usados analogicamente para outros assuntos, que pela razão deste Blog, usarei um deles para algumas reflexões sobre o mercado financeiro e sua atual crise. Apresento-lhe o "efeito paralaxe".
A medição direta da distância que nos separa de uma estrela baseia-se na paralaxe, ou seja, o movimento de objetos próximos contra um pano de fundo mais distante à medida que o ponto de vista do observador muda. Quanto mais longe estiver o objetivo ou estrela observado, menos parecerá se mover contra o "pano de fundo" de nosso céu cheio de estrelas.
Antes que você tenha a sensação de ter lido grego, olhe pela janela e observe um carro que passa na rua mais próxima e depois olhe bem para longe e observe algum carro em uma via distante. Será fácil observar como o carro mais próximo parece mover-se muito mais contra o pano de fundo de sua vista, o que está longe, parece mover-se menos, não é isso?
Se meu exemplo automobilístico atrapalhou mais do que ajudou, aqui está o conceito aplicado como em sua descrição no livro: note que o observador precisa mudar de posição em relação ao objeto observado e o "pano de fundo", o que no caso é feito utilizando-se as posições opostas que a Terra experimenta em seu movimento ao redor do Sol, gerando assim as duas semi-retas que mostram a paralaxe de cada estrela, consequentemente, a sua distância relativa à Terra.

Procuro sempre ter um livro à mão quando viajo, ou para as incansáveis horas de espera em aeroportos quando viajo a negócios ou para justificar uma longa pausa para degustar um charuto após o jantar, especialmente se o local for de generosa beleza e de clima agradável. Foi o caso do destino escolhido. Levei entre outras literaturas o sensacional Guia Ilustrado Zahar "Astronomia" que comprei acidentalmente um tempo atrás enquanto esperava um amigo no shopping. Ele se parece com aqueles também ótimos guias de turismo, plenamente ilustrados, editados pela DK e que provavelmente você tem ao menos um exemplar em casa. Se ainda não tem, o de turismo, o terá um dia.
O de Astronomia foi a melhor compra dos últimos anos,vale cada centavo de seu preço, pois contempla em um único volume, a medida exata do que um leigo como eu precisa saber sobre o universo, as teorias sobre sua origem, os fenômenos conhecidos, o sistema solar, e uma extensa parte sobre o céu noturno que podemos observar (sim, sei que aqui na cidade não se vê quase nada, mas você entendeu o sentido da frase). Talvez até te estimule a fazer uma viagem à Monte Verde ou outro lugar agradável de céu noturno escuro e estrelado.
O livro começa narrando uma breve história da astronomia, que com razão foi chamada da mais antiga das ciências. Desde a aurora da civilização o homem se esforça para compreender os complexos movimentos dos corpos celestes e suas relações com a nossa Terra, o que imagino ser sinal inequívoco da onipresente sensação de que precisamos entender qual é o nosso lugar no universo, na Criação, de que precisamos responder o porquê de nossa existência e acima de tudo, a busca pela marca divina de nossa existência humana. (Nesse momento eu fiz uma pausa longa e reli essas linhas acima algumas vezes, sugiro que faça o mesmo antes de continuar). Tenho a sensação que poderíamos parar por aqui e teria valido muito fazer essas reflexões e pensar um pouco sobre esses temas, afinal, se não formos pegos de surpresa assim os assuntos do dia-a-dia não permitem tais sensações, certo? Mas vamos voltar de nossa viagem e seguir o assunto enunciado.
Entre outras tantas revelações que me deixaram de boca aberta frente ao colosso que é nosso universo, me deparei com conceitos muito interessantes, primordialmente aplicados na astronomia e astro-física mas que podem ser usados analogicamente para outros assuntos, que pela razão deste Blog, usarei um deles para algumas reflexões sobre o mercado financeiro e sua atual crise. Apresento-lhe o "efeito paralaxe".
A medição direta da distância que nos separa de uma estrela baseia-se na paralaxe, ou seja, o movimento de objetos próximos contra um pano de fundo mais distante à medida que o ponto de vista do observador muda. Quanto mais longe estiver o objetivo ou estrela observado, menos parecerá se mover contra o "pano de fundo" de nosso céu cheio de estrelas.
Antes que você tenha a sensação de ter lido grego, olhe pela janela e observe um carro que passa na rua mais próxima e depois olhe bem para longe e observe algum carro em uma via distante. Será fácil observar como o carro mais próximo parece mover-se muito mais contra o pano de fundo de sua vista, o que está longe, parece mover-se menos, não é isso?
Se meu exemplo automobilístico atrapalhou mais do que ajudou, aqui está o conceito aplicado como em sua descrição no livro: note que o observador precisa mudar de posição em relação ao objeto observado e o "pano de fundo", o que no caso é feito utilizando-se as posições opostas que a Terra experimenta em seu movimento ao redor do Sol, gerando assim as duas semi-retas que mostram a paralaxe de cada estrela, consequentemente, a sua distância relativa à Terra.

No que essa imagem se assemelha à precificação de ativos em bolsa de valores? Ou ainda, em que medida esse conceito pode ser uma ferramenta útil na avaliação dos riscos e decisões de investimentos de uma carteira de ações?
Você já estava imaginando onde eu iria parar antes de passar para a (parte II) deste assunto, então o deixo por enquanto com essa imagem, os conceitos apresentados até aqui neste e nas outras postagens do Blog e espero que sua mente encontre-se com a (parte II) com muitas reflexões feitas e comentários para o desfrute de todos, afinal estamos aqui para isso, não?
terça-feira, 11 de novembro de 2008
A muralha da China e a jaguatirica
Poucas obras do homem podem ser vistas do espaço. Sabemos que os chineses não pensaram nisso quando decidiram estabelecer aquela que seria uma magnífica rede interligada de defesa que teve a propriedade de manter as invasões mongóis sob controle durante um bom tempo. Obviamente que chegaria o dia em que essa obra de engenharia não mais seria eficiente em cumprir seu objetivo, mas para a época em que começou a ser erguida, ela foi o pilar no qual o império chinês pode consolidar sua integridade física e surgir como potência desde então.
Não, não vou falar de outras coisas que podem ser avistadas do espaço, tipo as queimadas, o canal do Panamá, etc. Também não vou ceder à tentação de recordar outra linha construída para a defesa de um país na época da 2ª Guerra Mundial porque não quero fazer os franceses se envergonharem com tal recordação.
Os chineses têm essa sabedoria que os tem lançado, de tanto em tanto, na vanguarda da sociedade humana, seja pelas vias do conhecimento científico ou novamente depois de muitos séculos, pelas vias do poder econômico que eles voltam a empunhar.
Pensem no que significa um pacote de estímulos à economia da ordem de 580 bilhões de dólares americanos, especialmente voltado como é, para obras de infra-estrutura no país que tem uma clara visão do que é necessário prover para que a economia doméstica seja suficientemente forte para sustentar o crescimento que todos nós invejamos. Eu sei que é mais fácil implementar políticas eficazes de desenvolvimento quando se governa com mão-de-ferro, mas isso não tira o mérito da visão levada à realidade.
Mais impressionante do que um pacote como esse, que em época de vacas magérrimas se transforma em uma farta churrascada mundial, é o que tem acontecido internamente na China ao longo desses últimos dez anos.
Algumas mil cidades foram criadas nesse tempo, trazendo do campo para a zona urbana mais de 200 milhões de chineses; um zilhão (sim, com Z) de quilômetros de estradas foram criadas ou ampliadas para prover os canais de escoamento e de acesso aos novos centros produtores e consumidores; linhas de metrô transformando o cenário urbano de todas as grandes cidades; portos e aeroportos surgiram em número e velocidade que parecem piada; enfim, criaram ao longo desses anos um mercado consumidor interno que é um gigante, ou melhor, uma gigante rede de consumidores que agora, quando as economias que dependem intensamente das exportações sentem-se refém da crise global, essa rede protege a taxa de crescimento chinês para que ela não entre na zona de perigo. E o melhor? A China tem exportado esse modelo para os demais países de sua zona de influência, transformando toda a região.
O que isso tem a ver conosco? A demanda por nossos produtos básicos, alimentos, agricultura, energia e minério, não vão deixar de encontrar compradores ávidos e preocupados com suprimentos suficientes no médio e longo prazo. Esqueça os cavaleiros do apocalipse, esqueça a guerra psicológica que travam os compradores com os vendedores, esqueça os jornais e os incontáveis relatórios econômicos explicando o que vai acontecer daqui pra frente, pois quem lê muito disso tudo fica invariavelmente confuso frente às divergentes opiniões que vão do A até o Z, geralmente inventando novas letras no meio do caminho.
O Brasil caminha melhor do que sempre caminhou, não por conta de algum presidente em si, mas porque a economia real é muito maior e mais forte do que a caneta de nossos governantes. A fartura que o mundo viveu em termos de liquidez aliada à determinação de nossos empresários fez nascer a condição de lançar a massa no mercado consumidor, e quando o mundo absorver essa crise e iniciar a recuperação econômica, nós já estaremos nos beneficiando da muralha que se constrói aqui, que se não é extensa como a chinesa, é um considerável divisor de águas que tem lançado o país na velocidade que só os chamados “tigres asiáticos” sabiam imprimir.
Quem sabe um dia o mundo reconheça que na corrida dos felinos, a jaguatirica tupiniquim (nome cietífico: leopardus pardalis) está e estará, a cada corrida, disputando um lugar no pódium.
Não, não vou falar de outras coisas que podem ser avistadas do espaço, tipo as queimadas, o canal do Panamá, etc. Também não vou ceder à tentação de recordar outra linha construída para a defesa de um país na época da 2ª Guerra Mundial porque não quero fazer os franceses se envergonharem com tal recordação.
Os chineses têm essa sabedoria que os tem lançado, de tanto em tanto, na vanguarda da sociedade humana, seja pelas vias do conhecimento científico ou novamente depois de muitos séculos, pelas vias do poder econômico que eles voltam a empunhar.
Pensem no que significa um pacote de estímulos à economia da ordem de 580 bilhões de dólares americanos, especialmente voltado como é, para obras de infra-estrutura no país que tem uma clara visão do que é necessário prover para que a economia doméstica seja suficientemente forte para sustentar o crescimento que todos nós invejamos. Eu sei que é mais fácil implementar políticas eficazes de desenvolvimento quando se governa com mão-de-ferro, mas isso não tira o mérito da visão levada à realidade.
Mais impressionante do que um pacote como esse, que em época de vacas magérrimas se transforma em uma farta churrascada mundial, é o que tem acontecido internamente na China ao longo desses últimos dez anos.
Algumas mil cidades foram criadas nesse tempo, trazendo do campo para a zona urbana mais de 200 milhões de chineses; um zilhão (sim, com Z) de quilômetros de estradas foram criadas ou ampliadas para prover os canais de escoamento e de acesso aos novos centros produtores e consumidores; linhas de metrô transformando o cenário urbano de todas as grandes cidades; portos e aeroportos surgiram em número e velocidade que parecem piada; enfim, criaram ao longo desses anos um mercado consumidor interno que é um gigante, ou melhor, uma gigante rede de consumidores que agora, quando as economias que dependem intensamente das exportações sentem-se refém da crise global, essa rede protege a taxa de crescimento chinês para que ela não entre na zona de perigo. E o melhor? A China tem exportado esse modelo para os demais países de sua zona de influência, transformando toda a região.
O que isso tem a ver conosco? A demanda por nossos produtos básicos, alimentos, agricultura, energia e minério, não vão deixar de encontrar compradores ávidos e preocupados com suprimentos suficientes no médio e longo prazo. Esqueça os cavaleiros do apocalipse, esqueça a guerra psicológica que travam os compradores com os vendedores, esqueça os jornais e os incontáveis relatórios econômicos explicando o que vai acontecer daqui pra frente, pois quem lê muito disso tudo fica invariavelmente confuso frente às divergentes opiniões que vão do A até o Z, geralmente inventando novas letras no meio do caminho.
O Brasil caminha melhor do que sempre caminhou, não por conta de algum presidente em si, mas porque a economia real é muito maior e mais forte do que a caneta de nossos governantes. A fartura que o mundo viveu em termos de liquidez aliada à determinação de nossos empresários fez nascer a condição de lançar a massa no mercado consumidor, e quando o mundo absorver essa crise e iniciar a recuperação econômica, nós já estaremos nos beneficiando da muralha que se constrói aqui, que se não é extensa como a chinesa, é um considerável divisor de águas que tem lançado o país na velocidade que só os chamados “tigres asiáticos” sabiam imprimir.
Quem sabe um dia o mundo reconheça que na corrida dos felinos, a jaguatirica tupiniquim (nome cietífico: leopardus pardalis) está e estará, a cada corrida, disputando um lugar no pódium.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Conduzindo Miss Daisy
Estávamos no carro voltando para meu escritório. Eu sentado no banco do passageiro pensava sobre o ocorrido durante a última uma hora. Miss Daisy na verdade estava me conduzindo, pelo menos assim parecia. Na verdade...
A apresentação que fomos assistir foi muito interessante para mim, pois fui ouvir os administradores de uma grande e muito boa empresa, que admiro e sou acionista, sobre os resultados do 3o trimestre de 2008 e especialmente sentir como está o "mood" da turma sobre o cenário futuro e o que eles ouvem dos clientes. Como trunfo levei a apresentação de dois meses atrás para comparar e checar alguns pontos específicos.
Miss Daisy, senhora educada e nobre como é (você não se lembra do filme?) certamente não foi comigo apenas por conta do café-da-manhã que seria servido durante o evento. Foi para assistir, como acionista, sua primeira apresentação de uma empresa para seus investidores, atividade essa que é comum para todas as companhias que tem o capital aberto em Bolsa de Valores. Não se engane, Miss Daisy é empresária, sabe muito bem das coisas, só não conhece tão bem as entranhas do mercado de capitais, mas isso é questão de tempo.
Estrategicamente escolhi para sentarmos, duas cadeiras lá na frente, o que nos brindou com a presença dos palestrantes em nossa mesa enquanto todos desfrutavam do desjejum prévio ao inicio da apresentação. Obviamente comecei a encher o Gerente de R.I. (relação com investidores) de perguntas, o que o deixou sem muita chance de comer (não atrapalhou em nada o meu ritmo com o sanduíche de presunto no pão francês), mas ele foi gentilmente respondendo o que podia até que o Diretor Executivo da empresa também se sentou conosco, fazendo-me desviar a artilharia para o novo e atraente alvo. Recordei-o que estive na apresentação anterior e dos pontos que gostaria de comparar, pois a crise havia criado um abismo entre as duas datas. Cumprindo seu papel de gentil executivo de empresa listada em Bolsa, me respondeu algumas coisas que eu queria ouvir e não respondeu outras que eu não contava mesmo com respostas.
A apresentação fluiu muito bem e em 25 minutos ele abriu a sessão de perguntas e respostas para a qual eu só tinha uma. Ele gostou de ser recordado do assunto e discursou sobre um dos business que havia "esquecido" de comentar na apresentação e que trouxe notícias boas.
Foi interessante chamar a atenção de Miss Daisy para alguns pontos durante a apresentação, e ela mesma ia abrindo um olhão atento para os números astronômicos da empresa que até outro dia ela não conhecia. Todas as linhas do balanço trimestral pareciam douradas de tão bons que eram os números, até eu me impressionei com alguns, de novo. Fomos embora felizes.
Enquanto esperávamos o carro dela (sim, ela dirige, e bem) eu ia acompanhando as reflexões que faziam sua mente se surpreender, mesmo com toda a experiência de vida que ela tem, com essa face do mercado de capitais, a face que podemos chamar de "causal", onde ocorrem todas as transações comerciais, onde se evidenciam as mútuas dependências entre empresas, setores, países e no final, entre as empresas e o mercado financeiro.
Era como se ela estivesse se rendendo à realidade que eu vinha lhe instruindo há muito tempo, mas que como ela mesma diz "demora pra gente entender, é outro mundo". E essa é a impressão que ela teve quando recordou um dos slides da apresentação que mostrava a enormidade que o preço da ação da empresa havia caído este ano, para o qual exclamou: "Como é possível que essa empresa tenha suas ações negociadas com essa queda toda?"
O que exigiu mais uma vez a resposta que ela não aguenta mais ouvir de mim:
"O preço de uma ação em Bolsa representa apenas o preço para a liquidez daquele ativo com liquidação financeira em três dias, muitas vezes não estando ligado ao valor proporcional que cabe àquela fatia sobre o valor real da empresa, seja pelo seu fluxo de caixa futuro ou até mesmo pelo valor patrimonial vigente."
Quem entende isso, e ela entendeu faz tempo, compreende porque uma ação negociada em Bolsa pode ter seu preço variando 10% para cada lado em dois dias de pregão. Nunca viu ninguém desesperado, precisando de dinheiro vendendo algo?
Hummmm, você acha que essa explicação não justifica a volatilidade? Então encontra um comprador para sua casa que aceite fechar negócio nos próximos vinte segundos com garantia de lhe entregar o dinheiro daqui a três dias. Se encontrar nessas condições, e imagine o preço que seria a oferta, não vende pra ele não, eu pago um mil reais a mais, vende pra mim!
A apresentação que fomos assistir foi muito interessante para mim, pois fui ouvir os administradores de uma grande e muito boa empresa, que admiro e sou acionista, sobre os resultados do 3o trimestre de 2008 e especialmente sentir como está o "mood" da turma sobre o cenário futuro e o que eles ouvem dos clientes. Como trunfo levei a apresentação de dois meses atrás para comparar e checar alguns pontos específicos.
Miss Daisy, senhora educada e nobre como é (você não se lembra do filme?) certamente não foi comigo apenas por conta do café-da-manhã que seria servido durante o evento. Foi para assistir, como acionista, sua primeira apresentação de uma empresa para seus investidores, atividade essa que é comum para todas as companhias que tem o capital aberto em Bolsa de Valores. Não se engane, Miss Daisy é empresária, sabe muito bem das coisas, só não conhece tão bem as entranhas do mercado de capitais, mas isso é questão de tempo.
Estrategicamente escolhi para sentarmos, duas cadeiras lá na frente, o que nos brindou com a presença dos palestrantes em nossa mesa enquanto todos desfrutavam do desjejum prévio ao inicio da apresentação. Obviamente comecei a encher o Gerente de R.I. (relação com investidores) de perguntas, o que o deixou sem muita chance de comer (não atrapalhou em nada o meu ritmo com o sanduíche de presunto no pão francês), mas ele foi gentilmente respondendo o que podia até que o Diretor Executivo da empresa também se sentou conosco, fazendo-me desviar a artilharia para o novo e atraente alvo. Recordei-o que estive na apresentação anterior e dos pontos que gostaria de comparar, pois a crise havia criado um abismo entre as duas datas. Cumprindo seu papel de gentil executivo de empresa listada em Bolsa, me respondeu algumas coisas que eu queria ouvir e não respondeu outras que eu não contava mesmo com respostas.
A apresentação fluiu muito bem e em 25 minutos ele abriu a sessão de perguntas e respostas para a qual eu só tinha uma. Ele gostou de ser recordado do assunto e discursou sobre um dos business que havia "esquecido" de comentar na apresentação e que trouxe notícias boas.
Foi interessante chamar a atenção de Miss Daisy para alguns pontos durante a apresentação, e ela mesma ia abrindo um olhão atento para os números astronômicos da empresa que até outro dia ela não conhecia. Todas as linhas do balanço trimestral pareciam douradas de tão bons que eram os números, até eu me impressionei com alguns, de novo. Fomos embora felizes.
Enquanto esperávamos o carro dela (sim, ela dirige, e bem) eu ia acompanhando as reflexões que faziam sua mente se surpreender, mesmo com toda a experiência de vida que ela tem, com essa face do mercado de capitais, a face que podemos chamar de "causal", onde ocorrem todas as transações comerciais, onde se evidenciam as mútuas dependências entre empresas, setores, países e no final, entre as empresas e o mercado financeiro.
Era como se ela estivesse se rendendo à realidade que eu vinha lhe instruindo há muito tempo, mas que como ela mesma diz "demora pra gente entender, é outro mundo". E essa é a impressão que ela teve quando recordou um dos slides da apresentação que mostrava a enormidade que o preço da ação da empresa havia caído este ano, para o qual exclamou: "Como é possível que essa empresa tenha suas ações negociadas com essa queda toda?"
O que exigiu mais uma vez a resposta que ela não aguenta mais ouvir de mim:
"O preço de uma ação em Bolsa representa apenas o preço para a liquidez daquele ativo com liquidação financeira em três dias, muitas vezes não estando ligado ao valor proporcional que cabe àquela fatia sobre o valor real da empresa, seja pelo seu fluxo de caixa futuro ou até mesmo pelo valor patrimonial vigente."
Quem entende isso, e ela entendeu faz tempo, compreende porque uma ação negociada em Bolsa pode ter seu preço variando 10% para cada lado em dois dias de pregão. Nunca viu ninguém desesperado, precisando de dinheiro vendendo algo?
Hummmm, você acha que essa explicação não justifica a volatilidade? Então encontra um comprador para sua casa que aceite fechar negócio nos próximos vinte segundos com garantia de lhe entregar o dinheiro daqui a três dias. Se encontrar nessas condições, e imagine o preço que seria a oferta, não vende pra ele não, eu pago um mil reais a mais, vende pra mim!
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terça-feira, 4 de novembro de 2008
Einstein, a Bolsa e Dona Maricota
Sempre admirei o enunciado da teoria da relatividade. Tenho muito respeito ao Einstein e a outros seres que puseram suas mentes a serviço da humanidade, mas como nunca gostei de física e não pretendo mudar de opinião agora, vou me deter apenas na palavra que deu nome à teoria, pois sobre a mesma tenho comprovado muitas coisas, nesse nada relativo mercado financeiro.
Fatos são aquilo que a história registra como um acontecimento inquestionável, um número ou uma imagem que por si mesmos falam por milhares de palavras. Diferente é nossa interpretação dos fatos, como se pode comprovar pelo número enorme de obras literárias que se antagonizam nesse labor interpretativo, e felizmente é assim, senão não haveria graça ler o blog de alguém.
Nas semanas anteriores à chamada telefônica que recebi da Dona Maricota (se você não tem idéia de quem seja essa distinta dama, favor ler a postagem anterior a esta), o crédito financeiro em seus amplos alcances deixava de fluir como sempre o fez, não havia doador pelo medo de dar e não havia tomador pelas altas taxas e curto prazos oferecidos, tudo isso dada a incerteza que pairava naqueles dias sobre o impacto que a crise teria na economia real. Isso foi um fato.
Minha rotina diária não havia mudado muito, tirando uma máquina de ar-condicionado velha que fatalmente iria me ensinar uma lição durante aquelas semanas. O trânsito continuava igual, se não pior; a fila no cafezinho que costumo tomar meu Cappuccino me deu a impressão que estavam dando café de graça em um dos dias citados; o atendimento na loja da operadora de celular, para a qual eu tinha um atendimento agendado, parecia ser feito por feirantes que brigavam com seus clientes, e eu ali feliz em ter uma senha programada 20 dias antes; as filas na agência do banco no qual sou correntista, e que precisei pagar alguns DARFs que não consegui pela internet, me fez pensar em aumentar o salário do office-boy que ainda não tenho; enfim, nada me fazia acreditar que o mundo havia mudado tão abruptamente como o mercado dizia através dos preços nas telinhas. Isso era uma interpretação de alguns fatos.
Por via das dúvidas liguei pro Zé. Um bom termômetro sobre a economia real é ligar pra ele, porque se tem uma coisa que ele não faz é ficar de firula sobre o movimento do comércio que ele toca, não tem aspas nem parêntesis, é “ipsis literis” mesmo, sem dó nem choro. O Zé disse que tava tudo bem afora um funcionário que havia mexido com a mulher do supervisor, este que também já estava pra ser mandado embora por vadiagem. Dei como concluída minha consulta ao mundo do varejo e voltei pro meu mundinho de acompanhar o mercado.
Algumas empresas de capital aberto (daí a possibilidade de se tornar sócio delas pela compra de ações em Bolsa de Valores) estavam cotadas a 50, 40, 30 e até 20% dos preços que haviam sido negociadas meses antes. Óbvio que precisamos precificar a queda nas rentabilidades que as empresas terão por conta da crise mundial, mas por favor, sem exageros.
A empresa da qual Dona Maricota já era sócia, um banco de primeira categoria, ótima rentabilidade, solidez de uma pedra preta e excelente gestão, não somente estava longe de fechar as portas e desaparecer como ela chegou a temer, mas estava finalizando um processo, um golpe de mestre que durante 15 meses ficou sob sigilo absoluto e que veio a desabar na cabeça do Bradesco nesta 2ª feira pela manhã. Eu imagino o susto dos diretores daquele e dos demais bancos ao anúncio inovador de que não era mais uma das compras de um banco por outro, era a fusão do Itaú com o Unibanco, teoricamente quando bem feita entre partes saudáveis, a solução mais barata para ambos. Não preciso falar que tudo nesse parágrafo foram fatos que ainda sendo suficientemente claros e simples de entender, permitem interpretações antagônicas.
Prova dessa visão relativista, ou seja, de que a interpretação de um fato é relativa à mente daquele que o faz, era que ainda nesses últimos dias, mesmo com os sinais claros de que o crédito começava a circular novamente no sistema financeiro mundial, mesmo com os múltiplos das empresas que citei e das que não citei mostrando que estavam a preços de barganha, e ainda que todos saibam que a melhor hora de comprar é na baixa, existia duas metades antagônicas, os que vendiam e os que compravam ações a cada instante e que continuam a fazer isso todo dia.
Prova de que pra fazer teoria da relatividade não precisa ser nenhum cientista. Dona Maricota que o diga.
Fatos são aquilo que a história registra como um acontecimento inquestionável, um número ou uma imagem que por si mesmos falam por milhares de palavras. Diferente é nossa interpretação dos fatos, como se pode comprovar pelo número enorme de obras literárias que se antagonizam nesse labor interpretativo, e felizmente é assim, senão não haveria graça ler o blog de alguém.
Nas semanas anteriores à chamada telefônica que recebi da Dona Maricota (se você não tem idéia de quem seja essa distinta dama, favor ler a postagem anterior a esta), o crédito financeiro em seus amplos alcances deixava de fluir como sempre o fez, não havia doador pelo medo de dar e não havia tomador pelas altas taxas e curto prazos oferecidos, tudo isso dada a incerteza que pairava naqueles dias sobre o impacto que a crise teria na economia real. Isso foi um fato.
Minha rotina diária não havia mudado muito, tirando uma máquina de ar-condicionado velha que fatalmente iria me ensinar uma lição durante aquelas semanas. O trânsito continuava igual, se não pior; a fila no cafezinho que costumo tomar meu Cappuccino me deu a impressão que estavam dando café de graça em um dos dias citados; o atendimento na loja da operadora de celular, para a qual eu tinha um atendimento agendado, parecia ser feito por feirantes que brigavam com seus clientes, e eu ali feliz em ter uma senha programada 20 dias antes; as filas na agência do banco no qual sou correntista, e que precisei pagar alguns DARFs que não consegui pela internet, me fez pensar em aumentar o salário do office-boy que ainda não tenho; enfim, nada me fazia acreditar que o mundo havia mudado tão abruptamente como o mercado dizia através dos preços nas telinhas. Isso era uma interpretação de alguns fatos.
Por via das dúvidas liguei pro Zé. Um bom termômetro sobre a economia real é ligar pra ele, porque se tem uma coisa que ele não faz é ficar de firula sobre o movimento do comércio que ele toca, não tem aspas nem parêntesis, é “ipsis literis” mesmo, sem dó nem choro. O Zé disse que tava tudo bem afora um funcionário que havia mexido com a mulher do supervisor, este que também já estava pra ser mandado embora por vadiagem. Dei como concluída minha consulta ao mundo do varejo e voltei pro meu mundinho de acompanhar o mercado.
Algumas empresas de capital aberto (daí a possibilidade de se tornar sócio delas pela compra de ações em Bolsa de Valores) estavam cotadas a 50, 40, 30 e até 20% dos preços que haviam sido negociadas meses antes. Óbvio que precisamos precificar a queda nas rentabilidades que as empresas terão por conta da crise mundial, mas por favor, sem exageros.
A empresa da qual Dona Maricota já era sócia, um banco de primeira categoria, ótima rentabilidade, solidez de uma pedra preta e excelente gestão, não somente estava longe de fechar as portas e desaparecer como ela chegou a temer, mas estava finalizando um processo, um golpe de mestre que durante 15 meses ficou sob sigilo absoluto e que veio a desabar na cabeça do Bradesco nesta 2ª feira pela manhã. Eu imagino o susto dos diretores daquele e dos demais bancos ao anúncio inovador de que não era mais uma das compras de um banco por outro, era a fusão do Itaú com o Unibanco, teoricamente quando bem feita entre partes saudáveis, a solução mais barata para ambos. Não preciso falar que tudo nesse parágrafo foram fatos que ainda sendo suficientemente claros e simples de entender, permitem interpretações antagônicas.
Prova dessa visão relativista, ou seja, de que a interpretação de um fato é relativa à mente daquele que o faz, era que ainda nesses últimos dias, mesmo com os sinais claros de que o crédito começava a circular novamente no sistema financeiro mundial, mesmo com os múltiplos das empresas que citei e das que não citei mostrando que estavam a preços de barganha, e ainda que todos saibam que a melhor hora de comprar é na baixa, existia duas metades antagônicas, os que vendiam e os que compravam ações a cada instante e que continuam a fazer isso todo dia.
Prova de que pra fazer teoria da relatividade não precisa ser nenhum cientista. Dona Maricota que o diga.
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domingo, 2 de novembro de 2008
E se os Gauleses estiverem certos?
Uma cliente ligou um dia dessa semana, era Dona Maricota.
Dona Maricota é muito equilibrada em seu juízo, ouviu durante anos minhas explicações sobre o mercado, sobre as variáveis que esse mercado tinha, mas principalmente, gostou muito da visão que eu mantenho como Norte na minha navegação, a de que nós usamos a Bolsa de Valores apenas como um portal para nos tornar sócios de empresas que de um modo ou de outro, gostaríamos de ser donos.
Depois desses anos todos, ela entendeu que faz sentido pensar assim, especialmente porque aplicando para um prazo longo, mais de 5 anos, podemos evitar os prejuízos que um mercado em pânico como o que estamos vendo ultimamente pode causar nos incautos que ainda pensam que é possível enriquecer facilmente na Bolsa. Talvez seja mesmo, assim como é possível enriquecer em um cassino, embora sejam poucos os que a matemática permita tal façanha, e ainda quando o fazem, são mera estatística.
Enviou os recursos nos meses anteriores ao caos nos mercados, e embora eu tenha utilizado os recursos em parcimoniosas compras ao longo das semanas seguintes, era inevitável que a carteira dela sofresse junto com o mundo todo (Dona Maricota, a Sra. deveria se sentir feliz por ser solidária à humanidade!!).
Não adiantou todos os anos de boas conversas e explicações pois quando o céu fecha com aquelas nuvens negras e as ondas começam a levantar, a convicção que eu tenho e que ela achou que ela também havia adquirido é colocada à prova. Normalmente descobre-se que a convicção era só minha. Me mandou um email primeiro, assustada, sem saber bem como dizer que estava apavorada e finalmente indagando se não era melhor vender agora com prejuízo de 40% do que esperar e perder TUDO.
Pois é, eu tive a mesma reação que você ao ler as palavras dela - Como assim perder tudo? - Era como se esse pânico no mundo mental a tivesse transformado em um daqueles gauleses da turma do Asterix e Obelix, que embora cercados por 4 fortificações romanas, só temiam uma coisa na vida: que o céu caísse sobre suas cabeças. Ainda que esse medo gaulês pareça uma crendice tola, sabemos que nossos medos são geralmente frutos da falta do conhecimento, este, o que ilumina as mentes e impede-as de sucumbir perante os pensamentos que procuram a quem aterrorizar. Digo por mim, que morria de medo do escuro quando criança, e quando alguém acendia a luz eu via como não existia nada ali, e o medo desaparecia. Mas voltemos ao tópico.
Pedi que ela me ligasse assim que possível, pois o caso era sério o suficiente para não tratar por email. Me ligou no mesmo dia, com aquele ar gaulês que eu já esperava. Entretanto, a conversa foi muito feliz.
Fiz algumas perguntas para ajudar sua própria mente a refletir sobre os pensamentos que estavam se manifestando ali. Perguntei-lhe se sendo sócia como era de algumas empresas enormes e sólidas o suficiente para serem as últimas a cair caso o mundo despencasse por um abismo, se fazia sentido pensar que ela corria o risco de amanhã ver todas as suas ações em carteira cotadas a Zero reais! Perguntei-lhe o que iríamos fazer no dia seguinte em que o Itaú e Bradesco quebrassem, no dia que a Petrobrás deixasse de extrair e vender petróleo, ou ainda no dia em que o mundo parasse de produzir aço, o mesmo aço que vai em qualquer geladeira, carro, trem, prédio, navio, fábrica, loja, etc, etc, etc...
Ainda ponderei por último, que se caso fosse de ocorrer o acima descrito, se em algum banco o dinheiro dela estaria mais protegido? Obviamente que não valeria nada também, fosse em títulos privados ou públicos.
Ao final da ligação, pareceu-me que o que ela precisava mesmo era saber que eu não havia esquecido dela nem da parte de suas poupanças que a mim foram confiadas. Despediu-se aliviada, alívio apoiado uma vez mais nas minhas convicções, não nas dela, é claro.
Me senti realmente feliz por ter ajudado um ser humano, não porque fosse em relação ao mercado financeiro, mas porque era uma mente subjugada por pensamentos tiranos que parecem nutrir-se das fragilidades específicas das mentes que encontram pela frente. Senti que vale a pena pensar, e pensar cada vez mais.
Dona Maricota deve estar dormindo mais feliz agora que os mercados se acalmaram um pouco.
P.S.: Sem olhar nas revistas que você tem em casa e sem pesquisar na Internet, responda: Quais eram os nomes dos 4 campos romanos que cercavam aquela simpática aldeia gaulesa? Pode responder ai em baixo, tem um lugar escrito "comentário", não tem? Então, tá esperando o quê? Clica ai.
Dona Maricota é muito equilibrada em seu juízo, ouviu durante anos minhas explicações sobre o mercado, sobre as variáveis que esse mercado tinha, mas principalmente, gostou muito da visão que eu mantenho como Norte na minha navegação, a de que nós usamos a Bolsa de Valores apenas como um portal para nos tornar sócios de empresas que de um modo ou de outro, gostaríamos de ser donos.
Depois desses anos todos, ela entendeu que faz sentido pensar assim, especialmente porque aplicando para um prazo longo, mais de 5 anos, podemos evitar os prejuízos que um mercado em pânico como o que estamos vendo ultimamente pode causar nos incautos que ainda pensam que é possível enriquecer facilmente na Bolsa. Talvez seja mesmo, assim como é possível enriquecer em um cassino, embora sejam poucos os que a matemática permita tal façanha, e ainda quando o fazem, são mera estatística.
Enviou os recursos nos meses anteriores ao caos nos mercados, e embora eu tenha utilizado os recursos em parcimoniosas compras ao longo das semanas seguintes, era inevitável que a carteira dela sofresse junto com o mundo todo (Dona Maricota, a Sra. deveria se sentir feliz por ser solidária à humanidade!!).
Não adiantou todos os anos de boas conversas e explicações pois quando o céu fecha com aquelas nuvens negras e as ondas começam a levantar, a convicção que eu tenho e que ela achou que ela também havia adquirido é colocada à prova. Normalmente descobre-se que a convicção era só minha. Me mandou um email primeiro, assustada, sem saber bem como dizer que estava apavorada e finalmente indagando se não era melhor vender agora com prejuízo de 40% do que esperar e perder TUDO.
Pois é, eu tive a mesma reação que você ao ler as palavras dela - Como assim perder tudo? - Era como se esse pânico no mundo mental a tivesse transformado em um daqueles gauleses da turma do Asterix e Obelix, que embora cercados por 4 fortificações romanas, só temiam uma coisa na vida: que o céu caísse sobre suas cabeças. Ainda que esse medo gaulês pareça uma crendice tola, sabemos que nossos medos são geralmente frutos da falta do conhecimento, este, o que ilumina as mentes e impede-as de sucumbir perante os pensamentos que procuram a quem aterrorizar. Digo por mim, que morria de medo do escuro quando criança, e quando alguém acendia a luz eu via como não existia nada ali, e o medo desaparecia. Mas voltemos ao tópico.
Pedi que ela me ligasse assim que possível, pois o caso era sério o suficiente para não tratar por email. Me ligou no mesmo dia, com aquele ar gaulês que eu já esperava. Entretanto, a conversa foi muito feliz.
Fiz algumas perguntas para ajudar sua própria mente a refletir sobre os pensamentos que estavam se manifestando ali. Perguntei-lhe se sendo sócia como era de algumas empresas enormes e sólidas o suficiente para serem as últimas a cair caso o mundo despencasse por um abismo, se fazia sentido pensar que ela corria o risco de amanhã ver todas as suas ações em carteira cotadas a Zero reais! Perguntei-lhe o que iríamos fazer no dia seguinte em que o Itaú e Bradesco quebrassem, no dia que a Petrobrás deixasse de extrair e vender petróleo, ou ainda no dia em que o mundo parasse de produzir aço, o mesmo aço que vai em qualquer geladeira, carro, trem, prédio, navio, fábrica, loja, etc, etc, etc...
Ainda ponderei por último, que se caso fosse de ocorrer o acima descrito, se em algum banco o dinheiro dela estaria mais protegido? Obviamente que não valeria nada também, fosse em títulos privados ou públicos.
Ao final da ligação, pareceu-me que o que ela precisava mesmo era saber que eu não havia esquecido dela nem da parte de suas poupanças que a mim foram confiadas. Despediu-se aliviada, alívio apoiado uma vez mais nas minhas convicções, não nas dela, é claro.
Me senti realmente feliz por ter ajudado um ser humano, não porque fosse em relação ao mercado financeiro, mas porque era uma mente subjugada por pensamentos tiranos que parecem nutrir-se das fragilidades específicas das mentes que encontram pela frente. Senti que vale a pena pensar, e pensar cada vez mais.
Dona Maricota deve estar dormindo mais feliz agora que os mercados se acalmaram um pouco.
P.S.: Sem olhar nas revistas que você tem em casa e sem pesquisar na Internet, responda: Quais eram os nomes dos 4 campos romanos que cercavam aquela simpática aldeia gaulesa? Pode responder ai em baixo, tem um lugar escrito "comentário", não tem? Então, tá esperando o quê? Clica ai.
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sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Deveria ter comprado um Fusca na 6a feira passada
Ou ainda melhor, deveria ter comprado ações da alemã Volkswagen e ter esperado para ver uma das sequências de acontecimentos em cadeia mais bizarras que já observei nesses anos de labuta no mercado financeiro (a história deu na Economist.com, o oba-oba eu acompanhei na minha tela mesmo).
Não comprei, não ganhei mas poderia ter sido bem pior, algo como o que ocorreu com algumas dezenas de Hedge Funds e talvez até bancos de investimento que nas últimas semanas, vendo as empresas automobilísticas americanas piorarem ainda mais seus números e perspectivas, tomaram alugadas 13% do total de ações emitidas da montadora e as venderam apostando que também a VW não resistiria à nova realidade que se abate sobre todos os terráqueos. Essa "mamata" lhes custaria mais de 15 bilhões de dólares, mas continuemos...
Estaria tudo certo e fácil se não fosse a Porsche, dona anteriormente de 35% da VW, ter disparado no domingo, um comunicado sobre o aumento de sua participação na empresa para 42%, com o agravante que através de opções de compra também adquiridas, ela pode aumentar essa fatia para até 74% das ações da criadora do Fusca. Imagine que com uma notícia dessas, e estando a Porsche muito bem obrigado, qualquer um que tivesse vendido as ações da VW sem possuí-las, teria rapidamente comprado-as de volta na 2a feira e ido pra casa sem maiores problemas, porém...
Esse conjunto de "espertos" havia vendido sem ter a posse, algo como 13% de todas as ações existentes de VW, o que você já imagina como sendo uma enorme quantidade de ações para serem recompradas, e você está certo. Agora adicione ao caldeirão, o fato de que a VW tem ainda outros grandes acionistas que em conjunto com a Porsche detêm 94% de todas as ações disponíveis da empresa. Qual o sabor dessa sopa?
Muito amargo. Na 2a feira essa turma toda, em pânico, foi comprar o dobro de todas as ações que o mercado minoritário poderia vender, sem falar que não necessariamente esses 6% estavam disponíveis para compra. O preço das ações da VW que havia fechado na 6a a EUR 211, disparou (ah vá!!!), obrigando que mais fundos que estavam na mesma situação, mas que normalmente esperariam, terem que ir também às compras, no que chamamos de ordem do tipo "parar o prejuízo".
Não é necessário dizer que no dia seguinte, no estilo carnavalesco "unidos iremos pro buraco" essa manada em disparada fez o preço das ações da VW bater mais de EUR 1.000, ou seja, 5 vezes o preço da 6a feira e fazendo a VW figurar como a empresa mais valiosa do mercado, passando a Exxon, o que se explica por ter quintuplicado seu valor de mercado em 2 dias. Agora eu pergunto: O que aconteceu depois disso, quando a própria Porsche resolveu dar liquidez em ações da VW para acalmar o mercado? Aquilo que qualquer pessoa meramente inteligente saberia, que o preço despencaria querendo buscar os EUR 200 em breve.
Ler essa sequência de singelos fatos chega a ser divertido, mas para os administradores das carteiras que estavam vendidas em VW, digo a eles que sei que dor é essa, sei bem como se sentem e sei como estão se perguntando de onde veio o caminhão que os atropelou.
Mas não foi um caminhão, foi uma Porsche.
Não comprei, não ganhei mas poderia ter sido bem pior, algo como o que ocorreu com algumas dezenas de Hedge Funds e talvez até bancos de investimento que nas últimas semanas, vendo as empresas automobilísticas americanas piorarem ainda mais seus números e perspectivas, tomaram alugadas 13% do total de ações emitidas da montadora e as venderam apostando que também a VW não resistiria à nova realidade que se abate sobre todos os terráqueos. Essa "mamata" lhes custaria mais de 15 bilhões de dólares, mas continuemos...
Estaria tudo certo e fácil se não fosse a Porsche, dona anteriormente de 35% da VW, ter disparado no domingo, um comunicado sobre o aumento de sua participação na empresa para 42%, com o agravante que através de opções de compra também adquiridas, ela pode aumentar essa fatia para até 74% das ações da criadora do Fusca. Imagine que com uma notícia dessas, e estando a Porsche muito bem obrigado, qualquer um que tivesse vendido as ações da VW sem possuí-las, teria rapidamente comprado-as de volta na 2a feira e ido pra casa sem maiores problemas, porém...
Esse conjunto de "espertos" havia vendido sem ter a posse, algo como 13% de todas as ações existentes de VW, o que você já imagina como sendo uma enorme quantidade de ações para serem recompradas, e você está certo. Agora adicione ao caldeirão, o fato de que a VW tem ainda outros grandes acionistas que em conjunto com a Porsche detêm 94% de todas as ações disponíveis da empresa. Qual o sabor dessa sopa?
Muito amargo. Na 2a feira essa turma toda, em pânico, foi comprar o dobro de todas as ações que o mercado minoritário poderia vender, sem falar que não necessariamente esses 6% estavam disponíveis para compra. O preço das ações da VW que havia fechado na 6a a EUR 211, disparou (ah vá!!!), obrigando que mais fundos que estavam na mesma situação, mas que normalmente esperariam, terem que ir também às compras, no que chamamos de ordem do tipo "parar o prejuízo".
Não é necessário dizer que no dia seguinte, no estilo carnavalesco "unidos iremos pro buraco" essa manada em disparada fez o preço das ações da VW bater mais de EUR 1.000, ou seja, 5 vezes o preço da 6a feira e fazendo a VW figurar como a empresa mais valiosa do mercado, passando a Exxon, o que se explica por ter quintuplicado seu valor de mercado em 2 dias. Agora eu pergunto: O que aconteceu depois disso, quando a própria Porsche resolveu dar liquidez em ações da VW para acalmar o mercado? Aquilo que qualquer pessoa meramente inteligente saberia, que o preço despencaria querendo buscar os EUR 200 em breve.
Ler essa sequência de singelos fatos chega a ser divertido, mas para os administradores das carteiras que estavam vendidas em VW, digo a eles que sei que dor é essa, sei bem como se sentem e sei como estão se perguntando de onde veio o caminhão que os atropelou.
Mas não foi um caminhão, foi uma Porsche.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Não ligo para o Gugu faz um tempão
Nossa amizade continua firme mas é que desde que a crise começou, fiquei imaginando que o Gugu deve estar bem irritado, não apenas porque tem que passar pelo mesmo apuro que qualquer investidor está passando mas ainda piorado, pois o Gusio viajou, o Pit saiu para o Brazil, e eu, bem, estou aqui pensando se devo ligar ou não.
Vou ligar pra ele e dizer: Gugu!!! Segura firme, a crise tem começo, meio e fim, e mesmo que o fim não esteja exatamente onde gostaríamos, ele vai chegar, aliás, quem já não ouviu que no final tudo dá certo e que se não deu certo ainda é porque não chegou ao fim???
Vou dizer pra ele que a economia real vai sofrer mas tem um monte de empresários comemorando a alta do dólar pois vão finalmente lavar a égua que por tanto tempo pastou lá pros lados da China, que o diga a turma que produz brinquedos, que voltará a produzir uma boa parte dos brinquedos que até outra dia importava, a turma dos calçados, bolsas e correlatos lá de Franca e região. Enfim, todo empresário sério e capaz que aproveitou pra surfar a onda do dólar baixo e atualizou seus parques fabris ou ainda investiu na diversificação de produtos e clientes e diluirá com mais tranquilidade a falta de dinheiro aqui ou ali. Parabéns pra eles!
Meu amigo, sabe essa água azul turquesa do mar que você vê todo dia? Então, esse marzão bonito sempre me recordou que depois das tempestades, podia até demorar, mas o céu voltava a ser azul e as águas se acalmavam novamente (sei que é fácil dizer isso quando se olha a tempestade sentado no deck ao lado da piscina do condomínio), mas todos nós sabemos que isso é verdade, então, respira fundo, anota a lição aprendida e mantém o timão no rumo traçado.
Amigão, mais cedo ou mais tarde o nome Matisse vai ser apenas a feliz recordação do artista francês de nome Henri ...
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Não é que Deus é brasileiro mesmo?
Obviamente eu sempre olhei com desdém quem falava tal coisa sobre nosso Criador, especialmente porque sempre me pareceu lógico que Ele tem que cuidar de todo o universo, sobrando muito pouco tempo para problemas tupiniquins que desde séculos já se sabe como resolver mas não tenha quem reúna vontade política suficiente para fazê-lo, e se reúne essa vontade, não reúne o apoio necessário para aprovar no Congresso. Aliás, com um Congresso como o nosso, difícil que qualquer um, muito menos Deus, queira acompanhar de perto o que ocorre em nossa terra, mas eis que...
O executivo-chefe do Citibank, comentando sobre a situação bancária em seu país e comparando com a nossa, afirma: "Começo a acreditar que Deus é realmente brasileiro." (Revista Veja). Eu achei o máximo ler isso, e me perguntei a razão disso.
O pensamento reinante no mundo agora é o da crise e obviamente que já contagiou cada uma das mentes, as pensantes e as não, e nos enfia naquela espiral descendente que tem como fim a depressão de ânimo. Deveria ser a hora de buscar os estímulos naquilo já conquistado, como por exemplo a solidez da arquitetura de nosso sistema financeiro atual, fruto óbvio de muitos esforços desde 1994 para estabilizar a moeda e para o melhor funcionamento do sistema.
Ver alguém de calibre, e não me venha dizer que por conta da situação do Citibank esse cara não tem muita moral pra falar nada, elogiar nossa economia, me faz sentir o orgulho de saber que para ser melhor e ser mais feliz, ninguém precisa fazer o outro pior, ninguém precisa diminuir os demais, pois apesar de ter minhas prevenções à cultura americana, respeito muito a capacidade que eles tem de fazer business, fazer a economia rodar, portanto, meu orgulho é justo.
Ta aí o americano, reconhecendo finalmente o que todos nós já sabíamos.
domingo, 26 de outubro de 2008
A vingança do cheque sem fundos
O americano recebeu um aviso do banco sobre um cheque dele que havia voltado. Ligou imediatamente para seu gerente e soube que o motivo da ocorrência era "insuficiência de fundos", para o qual indagou prontamente: "Minha ou do banco????" ...
Recebi esse email ontem e vis-a-vis a situação atual, achei muita graça. Não, não estou fazendo graça em cima da desgraça alheia, primeiro porque compartilho dela, e segundo porque um dia vamos rir mesmo é das inúmeras teorias pra explicar o que teria sido melhor fazer nesse momento em que instituições financeiras e fundos de investimentos que a despeito de histórias até centenárias, capitularam frente o caos reinante nos mercados. O que me chamou a atenção sobre essa piadinha foi outra coisa.
Não é formidável a capacidade que temos, embora nem sempre consigamos utilizá-la, de diminuir a importância dos problemas que nos afligem e valorizar acima de tudo as coisas boas que a vida continua nos brindando apesar de nossa inconsciência e muitas vezes até ingratidão? Pois é, nessas horas que recebo e envio adiante uma piadinha dessas me vem essa clareza de que existem coisas na vida que devem ser cultivadas constantemente, pois são valores permanentes pra vida e não "valores" negociados em Bolsa. Meus amigos sabem bem do que falo.
Isso te fez pensar ou recordar algumas coisas importantes na vida? Que bom, então serviu para nós dois. Ah, não? Então vai lá, volta a acompanhar as cotações na Ásia para tentar prever como operará o mercado amanhã... (rsrs)
Recebi esse email ontem e vis-a-vis a situação atual, achei muita graça. Não, não estou fazendo graça em cima da desgraça alheia, primeiro porque compartilho dela, e segundo porque um dia vamos rir mesmo é das inúmeras teorias pra explicar o que teria sido melhor fazer nesse momento em que instituições financeiras e fundos de investimentos que a despeito de histórias até centenárias, capitularam frente o caos reinante nos mercados. O que me chamou a atenção sobre essa piadinha foi outra coisa.
Não é formidável a capacidade que temos, embora nem sempre consigamos utilizá-la, de diminuir a importância dos problemas que nos afligem e valorizar acima de tudo as coisas boas que a vida continua nos brindando apesar de nossa inconsciência e muitas vezes até ingratidão? Pois é, nessas horas que recebo e envio adiante uma piadinha dessas me vem essa clareza de que existem coisas na vida que devem ser cultivadas constantemente, pois são valores permanentes pra vida e não "valores" negociados em Bolsa. Meus amigos sabem bem do que falo.
Isso te fez pensar ou recordar algumas coisas importantes na vida? Que bom, então serviu para nós dois. Ah, não? Então vai lá, volta a acompanhar as cotações na Ásia para tentar prever como operará o mercado amanhã... (rsrs)
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Oba! Amanhã é sábado, a Bolsa não vai cair!!!
Se você conseguiu rir de uma piadinha como essa, dita hoje depois da Bovespa acumular mais de 50% de "perca" no ano, das duas uma, ou você lembrou da foto que mandaram junto com essa frase e é justa sua risada, ou você ri de nervoso imaginando o que esperar da próxima 2a feira.
Relaxe, você não está sozinho. Pensei a mesma coisa quando escrevi o título desse post, e eu também ri de nervoso...
Para que nós dois esqueçamos do stress acima, e pra que você não pense que não sei escrever a palavra "perda", entenda que se você tivesse trabalhado anos e anos com o Bona, você teria adquirido também alguns hábitos um tanto peculiares, como por exemplo, que a palavra que descreve a queda de valor de um ativo é "perca", aplicada então à qualquer situação que se enquadre. Exemplo de aplicação: "A perca da bolsa excedeu os registros históricos."
Não me pergunte o porquê dessa e outras tantas "adaptações" que me vi obrigado a fazer para não levar uma bronca dele durante esse tempo. Tenho medo das que já incorporei e que não tenho mais condição de saber se é correto usar ou não!!! A Zirta, a Rosicleide, o Savilaine e o Lixo não me deixam mentir.
O quê? Você pensou que eu ia mesmo comentar sobre o mercado? Prefiro indicar um dos tantos "experts" que ano após ano acreditam que podem prever o que acontecerá no dia seguinte.
Como disse o Pit hoje após eu descrever uma pequena desgraça: "Pelo menos você ri de tudo isso."
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